Nebreda assume e diz que AES quer ampliar negócios
Da Redação, de Brasília (Com apoio da AES Brasil) —
Em seu primeiro dia à frente da AES Brasil, o executivo Julian Nebreda respondeu a várias questões abordadas por diversos veículos de comunicação. Pela importância da empresa no setor elétrico brasileiro e do novo executivo responsável pelas operações no País, este site faz uma síntese das principais opiniões emitidas por Nebreda:
Desafios:
O Brasil tem muitas oportunidades. Nosso foco é crescer no país, principalmente, com soluções no mercado de geração de energia e implementação de novas tecnologias na rede. Já para o segmento de distribuição, nosso objetivo é melhorar a qualidade dos serviços e operar de forma eficiente, agregando valor às empresas. Estamos focados em aprimorar nosso atendimento e a satisfação dos nossos clientes.
Venda de ativos:
Não comentamos essas especulações do mercado. Nossos objetivos são recuperar o valor dos ativos de distribuição e crescer no setor de geração. A reestruturação organizacional anunciada recentemente está alinhada com essa estratégia. Adicionalmente, a AES Tietê passou por uma reestruturação societária, tornando seu processo de tomada de decisão mais dinâmico com o intuito de ser o principal veículo de crescimento do grupo no país.
Negócio de distribuição:
Temos verificado um conjunto de consolidações e privatizações de empresas de distribuição, que estão alterando significativamente o cenário do segmento no país. Essa depuração vem em linha com a busca dessas empresas por melhoria da qualidade de serviço, objetivo do cliente final e do regulador.
Nosso objetivo é aprimorar a qualidade dos serviços e recuperar o valor de mercado das distribuidoras. Recentemente, a AES Sul recebeu aporte de capital de mais de R$ 300 milhões, como parte do processo de reestruturação da companhia, buscando a sustentabilidade financeira da empresa. O plano é investir na AES Sul mais de R$ 1 bilhão com iniciativas de manutenção, modernização e expansão, no ciclo 2015-2019.
Questões financeiras:
O endividamento das distribuidoras é uma questão setorial e está diretamente associada ao aumento de custos de energia nos últimos dois anos, que resultou no acúmulo da CVA (Conta de Compensação de Variação de Valores de Itens da Parcela A) em níveis materiais. E, mais recentemente, a retração da economia resultou na queda do consumo e na exposição das distribuidoras ao mercado de curto prazo, dado a materialidade dos níveis de sobrecontratação, acima dos limites regulatórios, das distribuidoras.
Com base nessas questões para o setor e para a companhia, nós, assim como as associações, mantemos conversas com o regulador e representantes do Ministério de Minas e Energia, buscando trazer uma solução estruturada para a recuperação do equilíbrio do setor. Na nossa visão, é preciso encontrar uma solução a esses problemas para garantir os investimentos necessários e a saúde financeira das empresas. Em relação à companhia, nós estamos realizando uma gestão de caixa diária, a fim de preservar os indicadores.
Participação do grupo AES no mercado brasileiro:
Mesmo com a situação econômica atual, o Brasil continua sendo um mercado importante e competitivo para a AES. Vemos no país uma plataforma de crescimento, principalmente, em geração de energia e em novas tecnologias. Estamos utilizando nossa expertise global para aproveitar, principalmente, oportunidades com projetos térmicos e de energias renováveis, por meio da AES Tietê. Outro foco é o desenvolvimento das novas tecnologias de conexão de baterias à rede e geração distribuída, para tornar o sistema brasileiro cada vez mais eficiente.
Investimentos:
A criação de um ambiente propício aos investimentos de longo prazo no setor ao menor custo de capital possível é essencial. Um ponto-chave é garantir a previsibilidade e estabilidade do marco regulatório. Mudanças regulatórias e demais decisões que afetem o setor devem ser amplamente discutidas entre o poder concedente, reguladores, empresas e investidores, para que sejam avaliadas todas as implicações, se obter equilíbrio e que todas as partes interessadas sejam beneficiadas.
Aprimorar o planejamento setorial também é vital para minimizar os riscos de suprimento de energia e evitar descompassos entre oferta e demanda. Além disso, a diversificação da matriz energética é um tema que precisa continuar sendo discutido. O país não pode ser dependente de regimes hidrológicos. Outro entrave são os leilões de energia, que poderem ser melhor estruturados, com prazos mais factíveis. Assim, os empreendedores podem ter tempo hábil para se estruturar financiamentos, iniciar processos de licenciamento ambiental e começar a construir empreendimentos. Reavaliar esses itens podem evitar o adiamento ou cancelamento de projetos já leiloados.
Armazenamento de energia:
A capacidade de armazenamento em baterias, em todo o mundo, é de aproximadamente 2,3 GW – entre itens em operação, construção e estágio avançado de desenvolvimento. Desses, 346 MW pertencem à AES, o que representa cerca de 15%. Minha experiência contribuiu para que a AES se tornasse líder mundial na conexão de baterias à rede. E, já começamos a trazer essa tecnologia para o mercado brasileiro. Estamos investindo em um projeto piloto de 174 KW, em São Paulo.
Geração:
O preço-teto de R$290/MWh para térmicas a gás foi apenas 3% superior ao preço-teto do leilão de abril do ano passado (R$281/MWh). Este aumento é pequeno considerando a alta do dólar, o crescimento nas taxas de juros e a maior complexidade na obtenção de financiamento. Com relação à demanda, apesar da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) ter cadastrado mais de 1.000 empreendimentos, acreditamos que, para esse leilão, será muito baixa ou até mesmo nula em face da redução extraordinária e generalizada do mercado das distribuidoras. Cabe ressaltar que tal redução não poderia ser prevista pelas companhias, dada a origem absolutamente fora do controle e atípica.
É importante que haja alternativas ao BNDES para financiamento de longo prazo para novos projetos. Alternativas com incentivos fiscais, como as debêntures incentivadas. Mas, é preciso fomentar o mercado brasileiro para que esses instrumentos sejam mais líquidos. A participação de todos é essencial para que esses projetos de geração continuem a ser viáveis, incluindo bancos privados, fundos e investidores individuais. Alternativas de financiamento no exterior também podem ser opções, se houver algum mecanismo para repassar ou mitigar o risco cambial.
Gás natural:
A AES Brasil é favorável à diversificação da matriz energética, pois investimentos em térmicas a gás natural diminuem a dependência hidrológica do país. Além disso, é necessário:
• Aprimorar e alinhar a atual regulação de energia e gás;
• Liberar redes de transporte e terminais de GNL a outros agentes;
• Ceder o direito de uso a terceiros para as redes de transporte;
• Promover leilões regionais e por fonte, de maneira a tornar os empreendimentos termelétricos próximos aos centros de carga mais competitivos.
Tendo em vista o cenário atual, os efeitos em novos projetos termelétricos são mínimos para a AES. Temos que considerar algumas variáveis, como o dólar, a configuração da infraestrutura do país e da regulação do gás no Brasil, que precisa ser aprimorada. De qualquer forma, precisamos estar preparados para momentos de mudança e aproveitar as oportunidades de crescimento. Nossa expectativa é de avançarmos com novos projetos.