Angra 3: Eletronuclear pode retomar obras com chineses
Da Redação, de Brasília (Com apoio da Eletronuclear) —
Uma comitiva da Eletronuclear, liderada pelo presidente Bruno Barretto, visitou a China em dezembro passado, para se reunir com representantes de empresas do setor nuclear do país. Em Pequim, o dirigente brasileiro assinou um memorando de entendimento com o presidente da China National Nuclear Corporation (CNNC), estabelecendo as bases para uma possível participação da companhia chinesa na construção de Angra 3.
O memorando é um documento em que as partes se comprometem a estudar formas de trabalhar juntas para viabilizar determinado empreendimento, no caso, a terceira usina nuclear brasileira. No entanto, ele não estabelece obrigações. O acordo assinado entre a Eletronuclear e a CNNC determina, entre outras coisas, a criação de grupos de trabalho para analisar os diversos aspectos do reinício da construção da unidade.
A Eletronuclear também tem conversado com outras empresas sobre a retomada de Angra 3, como a EDF, da França, que tem visita à central nuclear de Angra programada para janeiro; a Korea Electric Power Corporation (Kepco), da Coreia do Sul, que vem ao Brasil em fevereiro; e a Rosatom, da Rússia.
Bruno Barretto afirma que a viagem serviu para estreitar o relacionamento da Eletronuclear com o setor nuclear chinês, o que tem caráter estratégico, na medida em que a China vem investindo pesadamente na geração nuclear. “Existe um claro interesse dos chineses em investir no Brasil, o que pode render parcerias proveitosas para ambos os países, não apenas em projetos conjuntos, mas também na troca de experiências e em treinamento, por exemplo”, analisa.
Durante a estadia na China, a comitiva da Eletronuclear – que incluiu ainda o assessor de Desenvolvimento de Novas Centrais Nucleares, Marcelo Gomes, e o assistente técnico da Presidência e superintendente de Gerenciamento de Empreendimentos, José Augusto do Amaral – conheceu a central nuclear de Fuqing, da CNNC, que conta com três usinas em funcionamento e outra sendo comissionada. O sítio ainda receberá mais duas unidades, que estão em construção.
Adicionalmente, os executivos foram à sede da China Nuclear Power Engineering Corporation (CNPEC), subsidiária da CNNC. Lá conferiram de perto o simulador do reator de água pressurizada HPR1000, o mesmo usado na central de Fuquing. No total, a CNNC tem 12 usinas nucleares em operação, que respondem por 9,7 gigawatts (GW) de potência instalada. Além disso, está construindo mais 11 unidades, que adicionarão 11,44 GW ao seu parque gerador.
Os executivos brasileiros também se reuniram em Pequim com dirigentes da State Power Investment Corporation (SPIC), corporação estatal de investimentos que, sozinha, tem usinas que respondem por 115,7 GW de potência, quase a capacidade instalada de todo o Brasil. A companhia já está presente no território brasileiro, sendo dona de dois parques eólicos no Nordeste.
A SPIC tem como subsidiária a State Nuclear Power Technology Company (SNPTC), empresa de construção e operação de usinas nucleares, que conta com quatro usinas em funcionamento (4,4 GW) no país asiático, além de mais seis sendo construídas (7,5 GW). A SNPTC também é um dos potenciais parceiros na construção de Angra 3.
Além disso, os gestores da Eletronuclear tiveram encontros com representantes de três bancos: o Industrial and Commercial Bank of China (ICBC), o China Development Bank (CDB) e o Export-Import Bank of China (Eximbank). “Estas instituições estão alinhadas com as empresas do setor nuclear chinês e expressaram interesse em apoiar a construção de Angra 3 e de futuras usinas nucleares no Brasil”, ressalta Marcelo Gomes.
Ele acrescentou que a China tem liderado a expansão do parque nuclear mundial. Segundo dados da Associação Nuclear Mundial (WNA, na sigla em inglês), o país opera, atualmente, 35 usinas nucleares e tem mais 20 unidades em construção. Outros 41 reatores já foram planejados. “Os chineses acumularam grande experiência no gerenciamento de projetos e vem construindo usinas nucleares sem atraso. Agora, estão começando a exportar tecnologia. Caso venham a trabalhar conosco, seriam bons parceiros”, comenta.
No entanto, Gomes faz questão de frisar que o reinício das obras de Angra 3 depende da aprovação do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). O CNPE se reúne no início de 2017, em data a ser definida, para deliberar sobre o assunto.
Caso a retomada das obras seja autorizada, a Eletronuclear trabalharia para fechar, até meados de 2017, o contrato com o parceiro internacional que concluiria o empreendimento. A meta é retomar a construção da usina em meados de 2018.