Eleição na Abraceel pode romper equilíbrio das forças internas
Maurício Corrêa, de Brasília —
Desde que começou a funcionar, há pouco mais de 15 anos, a associação dos comercializadores de energia, a Abraceel, sempre teve um equilíbrio de forças na composição do seu Conselho de Administração, refletindo os diversos perfis das empresas associadas: comercializadores independentes, empresas integradas de energia elétrica, geradores, grandes consumidores industriais e, mais recentemente, empresas financeiras que também se dedicam à comercialização de energia. Esse equilíbrio das forças políticas internas poderá ser alterado na eleição marcada para o dia 08 de março, pois aparentemente os independentes fizeram um movimento para assumir o controle da associação.
O Conselho da Abraceel, hoje, é formado por Oderval Duarte, que é o presidente e representa o Banco BTG Pactual; os geradores são representados por Marcos Keller, da Engie; os grupos integrados de energia elétrica e possuidores de distribuidoras por Paulo Cezar Tavares, da Sol Energias (que é controlada pela Equatorial Energia) e João Carlos Guimarães, da EDP. Os comercializadores independentes têm quatro representantes no Conselho atual: Cristopher Vlavianos, da Comerc; Mikio Kawai Jr, da Safira; Rafael Villano, da Capitale; e Ricardo Lisboa, da Delta.
O prazo de registro de candidaturas para a próxima eleição do Conselho termina em 06 de março e até agora já se apresentaram 13 candidatos. As empresas integradas indicaram quatro nomes: Franklin Miguel, da Copel; Marcos Júnior, da Cemig; Alessandra Amaral, da Energisa; e Daniel Marrocos, da CPFL. Oderval, do BTG Pactual, é candidato à reeleição e os grandes consumidores industriais tentarão participar do Conselho com Fabio Zanfelice, presidente da Votorantim Energia.
Historicamente, embora na maior parte do tempo os comercializadores independentes tenham sido maioria entre os associados, sempre se contentaram com uma posição secundária, sob o ponto de vista político, deixando o comando para o representante de uma grande empresa integrada ou, como agora, de um grande banco. Entretanto, aparentemente agora os comercializadores independentes estão vindo com força política suficiente para assumir, pela primeira vez, o comando da associação.
É verdade que, quando começou a funcionar, a Abraceel foi presidida por Walfrido Avila, da Tradener, mas, na época, essa comercializadora tinha a Copel como maior acionista. Walfrido é novamente candidato ao Conselho, mas, desta vez, a Tradener é uma empresa que não está societariamente vinculada a conglomerados da área de energia elétrica. Ele se alinha agora com o grupo dos independentes.
Os independentes registraram, até agora, sete candidatos: além do presidente da Tradener, Claudio Monteiro, da Matrix; Rafael Villano, da Capitale, Mikio Kawai, da Safira, Ricardo Lisboa, da Delta, e Cristopher Vlavianos, da Comerc, que são candidatos à reeleição; Gustavo Machado, da Nova Energia, também aspira entrar no Conselho de Administração pela primeira vez.
Como o mercado de energia elétrica costuma emendar toda a semana do Carnaval, comercializadores ouvidos por este site disseram que não acreditam que possa haver mais candidatos ao Conselho, embora o prazo de inscrição se encerre apenas no dia 06 de março. João Carlos, da EDP, e Marcos Keller, da Engie, já teriam comunicado internamente que não estão interessados em participar da próxima eleição. Um dos atuais conselheiros, Paulo Cezar Tavares, que tem grande prestígio no ambiente da associação, até agora não havia decidido se lança ou não a sua candidatura à reeleição.
Se Paulo Cezar não for candidato e como João Carlos já está de fora, as empresas integradas terão quatro novos candidatos para tentar manter as duas vagas que controla hoje no Conselho. Com a desistência de Keller, os geradores não terão condições para tentar uma vaga exclusiva para a geração. Terão, no máximo, que se contentar com a eleição de eventuais candidatos das empresas integradas, como Copel, Cemig e CPFL, que também têm fortes posições na área de geração. Ou então de Zanfelice, da Votorantim, cujo braço de autoprodução também não pode ser desprezado.
Oderval Duarte, do BTG, é considerado um candidato forte, mas contra ele correm três discursos: o primeiro é a necessidade de renovação na composição do Conselho; o segundo é que estaria na hora de renovar também a presidência do próprio Conselho, que ele já ocupa há dois mandatos. Finalmente, não por culpa dele, mas argumenta-se internamente que a pancada levada pelo Banco BTG Pactual, no bojo de ações anti-corrupção, teria contribuído para minar a liderança exercida por Oderval Duarte dentro da associação dos comercializadores. O mesmo argumento da renovação, aliás, vale para atuais conselheiros de empresas independentes que hoje integram o Conselho.
De acordo com as hipóteses levantadas por um consultor, a pedido deste site, todos os 13 candidatos registrados até agora estão em condições de se eleger para o Conselho da Abraceel. “Em outras eleições, havia candidatos mais fortes e candidatos mais fracos. Desta vez, porém, só tem peso-pesado, mesmo entre os independentes”. Para esse especialista, os nomes interessados em disputar o comando da associação revelam várias coisas. O primeiro raciocínio é que os independentes, finalmente, resolveram assumir o controle da Abraceel, depois de terem ficado em um segundo plano durante toda a sua existência.
“Aparentemente, os comercializadores independentes acordaram para o fato que, se querem a ampliação do mercado, como pleiteiam há muitos anos, sem sucesso, precisam ter uma folga de votos favoráveis dentro do Conselho e que está na hora de eles mesmos darem as cartas, pois é preciso ter cuidado com o fogo amigo dentro da própria associação. Podem até conviver, no Conselho, sem problemas, com representantes de distribuidoras ou geradoras, mas o bloco dos comercializadores independentes precisa ter votos suficientes para decidir isoladamente qualquer proposta, sem depender de outros interesses que existem no setor elétrico e que, em muitos casos, contrariam os interesses específicos dos comercializadores”, argumentou a fonte.
Dentro do peculiar sistema de eleição direta dos seus conselheiros, a eleição para a presidência do Conselho de Administração segue a mesma orientação democrática. No dia 08, assim que terminar a eleição para o Conselho, será perguntado aos oito novos conselheiros eleitos quem deseja ser candidato à Presidência. Aqueles que manifestarem interesse passarão então por um imediato processo de eleição direta. E a posse será imediata.