Abraceel faz eleição apertada e muda presidente do Conselho
Maurício Corrêa, de Brasília —
Confirmando avaliações anteriores feitas por este site, os comercializadores independentes fizeram maioria no Conselho de Administração da Abraceel, na eleição realizada nesta quarta-feira, 08 de março, em São Paulo. Além disso, pela primeira vez um candidato originário do segmento dos independentes (Ricardo Lisboa, da Delta) assumiu a presidência do Conselho, no lugar de Oderval Duarte, do Banco BTG Pactual.
O resultado da eleição muda a história da Abraceel, pois, até agora, os presidentes do Conselho foram nomes vinculados a grandes grupos empresariais. Como manda o Estatuto Social, depois de conhecidos os oito novos conselheiros, Lisboa e Duarte disputaram a presidência do colegiado e a vitória do candidato da Delta foi super-apertada, com diferença de apenas um voto sobre o representante do Banco BTG Pactual.
O novo Conselho de Administração da Abraceel está assim constituído: Ricardo Lisboa, Delta (presidente), tendo sete vice-presidentes: Cláudio Monteiro, Matrix; Daniel Marrocos, CPFL; Fábio Zanfelice, Votorantim; Marcos Júnior, Cemig; Mikio Kawai Jr, Safira; Oderval Duarte, BTG; e Rafael Mathias, Capitale.
Quatro nomes são de comercializadores independentes (Lisboa, Cláudio, Mikio e Rafael), dois são de grupos integrados de energia elétrica (Daniel e Marcos Jr) e um, Fábio Zanfelice, representa a área de energia do Grupo Votorantim (ele, aliás, já é o presidente do Conselho de Administração da associação dos autoprodutores, a Abiape). Duarte representa um grande banco, o BTG, que controla uma comercializadora muito atuante no mercado.
Uma primeira leitura a respeito do resultado das eleições mostra alguns ensinamentos. Em primeiro lugar, houve um forte sentimento de renovação no âmbito do Conselho, pois a metade dos conselheiros não se reelegeu. Paulo Cezar Tavares, da Sol Energias, João Carlos Guimarães, da EDP, e Marcos Keller, da Engie, não se candidataram a novo mandato.
E Cristopher Vlavianos, da Comerc, ficou surpreendentemente fora do grupo dos oito novos conselheiros, na eleição desta quarta-feira. Foram reconduzidos para novo mandato Oderval Duarte, Rafael Mathias, Mikio Kawai e Ricardo Lisboa. Se é possível fulanizar o resultado final, pode-se dizer que os grandes derrotados foram Duarte e Vlavianos, enquanto os grandes vitoriosos foram Monteiro e Lisboa.
O sentimento de renovação se cristalizou na disputa pela presidência do Conselho, quando Oderval Duarte, que ocupava o principal cargo no Conselho já há dois mandatos, perdeu para Ricardo Lisboa por apenas um voto de diferença.
Participantes da reunião ouvidos por este site foram unânimes em indicar que a derrota de Oderval não surpreendeu, pois, embora tenha sido um dirigente habilidoso e que na maior parte das vezes soube equilibrar as polêmicas dentro da associação, teria perdido o controle em certos momentos, deixando o pêndulo cair para um lado que não interessava aos associados.
Isso teria ocorrido, especificamente, no caso de uma atitude precipitada em relação à Cemig, tomada pela Abraceel no ano passado, quando a geradora mineira foi denunciada à Aneel, pela própria associação, por prática irregular de mercado. A resposta a Oderval Duarte chegou nesta quarta, nas urnas, com a enorme quantidade de votos em favor de Marcos Júnior, da Cemig, que assim voltou ao Conselho com relativa tranqüilidade.
Contra Oderval também pesou uma disputa recente envolvendo a republicação ou não do PLD. Ele teria atuado fortemente para que o PLD fosse republicado e, embora tivesse saído vitorioso numa consulta direta feita aos associados, a diferença foi apertada e isso gerou inevitáveis conseqüências no processo eleitoral da associação. Durante a campanha, ficou claro que a disputa por espaço entre Duarte e Monteiro, possuidores de divergências originárias do ambiente corporativo, também era muito forte.
O resultado da eleição mostra que, embora os independentes tenham conquistado a presidência do Conselho pela primeira vez, a associação conseguiu manter um notável equilíbrio entre os seus associados no que diz respeito ao porte das empresas.
Agora, estão representados no colegiado grupos fortíssimos como CPFL, Votorantim, Cemig e BTG, mas também quatro independentes: Delta, Matrix, Safira e Capitale. Em situações de empate dentro do Conselho, o voto que decide é o do presidente. Cláudio Monteiro, da Matrix, inegavelmente, se transformou, com a eleição, numa força emergente dentro da política da Abraceel. Fez uma campanha bem estruturada e soube colher os frutos do trabalho. Ao contrário, Vlavianos, da Comerc, que se registrou como candidato nos momentos finais do prazo estatutário, também colheu os resultados da sua indefinição, não se reelegendo.
Resta saber, agora, como serão desenhadas as relações entre o novo Conselho de Administração e a Diretoria-Executiva. A Abraceel sempre teve uma tradição de não misturar as coisas, desde que profissionalizou a gestão, em 2005.
Mas, nos últimos tempos, este site ouviu de vários associados que a Diretoria-Executiva estava pendendo demais para o lado que interessava diretamente ao ex-presidente do Conselho, o que causava um sério desagrado para muitas empresas vinculadas à associação. Inclusive se falava abertamente que o troco viria na eleição, como aparentemente veio.
Muitos eleitores se lembraram da trapalhada conjunta do Conselho e da Diretoria em relação à Cemig, que acabou resultando em um desmentido formal por parte da associação. Esse episódio nunca foi totalmente esclarecido e certamente contribuiu para azedar o humor dos associados no dia da eleição.