Setor de água e saneamento quer mais eficiência em energia
Maurício Corrêa, de Brasília —
Uma mesa temática realizada nesta terça-feira, 25 de abril, em Brasília, durante o IV Encontro dos Municípios com o Desenvolvimento Sustentável, mostrou uma situação que é até difícil de imaginar e mostra como as comercializadoras e as empresas especializadas em eficiência energética, de alguma forma, ainda operam com estratégias comerciais pouco convincentes quando se fala de abordagem das concessionárias de água e saneamento básico.
Durante os debates da mesa, ficou muito claro que as concessionárias de água e saneamento básico estaduais ou municipais, que demandam grandes volumes de energia elétrica no processo, desconhecem a existência do mercado livre, raramente foram procuradas por comercializadoras e, talvez com exceção da Sabesp, em São Paulo, gastam muito mais com as respectivas contas de luz do que gastariam se já tivessem feito a opção para serem livres. Além disso, também não têm muita informação sobre o trabalho de eficiência energética, que as ajudaria a reduzir o valor mensal da conta de luz.
Através do Ministério das Cidades, o Governo Federal tem até tentado contribuir para que as concessionárias de saneamento básico gastem menos com energia. Evandro Romanini, assessor técnico do Projeto de Eficiência Energética em Sistemas de Abastecimento de Água (Proeesa, um programa centralizado no Ministério das Cidades, contando com apoio do Governo alemão através da Deutsche Gesellschaft fur Internationale Zusammenarbeit — GIZ, a agência alemã para cooperação técnica e desenvolvimento), explicou que foi assinado um convênio com a Alemanha, em dezembro de 2015, cujo objetivo é articular iniciativas que promovam a eficiência energética no setor de água e abastecimento.
O Proeesa tem valor de 2,5 milhões de euros e duração de três anos. Atualmente, o Brasil consome 12,1 TW/h de energia elétrica destinada a movimentar as máquinas e equipamentos das empresas de águas e saneamento básico. Em 2034, serão 23 TW/h. O gasto atual é calculado em R$ 3,5 bilhões. Pelo que foi visto na mesa temática, entretanto, a eficiência no consumo de energia elétrica, pelas empresas de águas e saneamento, ainda está muito distante daquilo que poderia ser considerado ideal.
Além de amplo desconhecimento a respeito dos benefícios que podem ser gerados pelo mercado livre de energia elétrica, as concessionárias lutam, no processo, com vazamentos, grande volume de perdas (calculadas em 150 litros por ligação/dia), bombeamento inadequado e motores ineficientes. Uma das razões é que o sistema brasileiro foi basicamente projetado nos anos 70 e 80, quando havia um enorme subsídio na energia elétrica destinada ao saneamento básico (da ordem de 75%) e zero de preocupação com os custos da energia, segundo explicou Airton Sampaio Gomes, diretor da Reágua — Recuperação de Água e Energia.
Essa situação foi confirmada por Gustavo Rafael Collere Possetti, gerente da Assessoria de Pesquisa e Desenvolvimento da Sanepar, do Paraná, uma das maiores empresas do segmento. A Sanepar é, inclusive, o maior consumidor de energia elétrica do estado do Paraná, com 680 GW/hora. “O mercado livre tem seus atrativos e quem entrou nele, há um ano atrás, ganhou muito dinheiro. Nós mesmos quase entramos. A questão é que ele tem riscos muito grandes e não podemos ficar sem energia elétrica, pois temos que levar a água aos nossos consumidores”, explicou Possetti.
Ricardo Gardin, diretor de Planejamento da concessionária do município de Valinhos, em São Paulo, afirmou que a sua empresa começou a pensar em eficiência energética em 1998, através da utilização de sistemas de telemetria. Hoje, em Valinhos, o custo da energia elétrica é de 11%, dentro da média nacional, que é de 11,2%. As suas perdas são estimadas em 38%.
Ninguém duvida que a principal vítima da ineficiência das concessionárias nesse campo são os próprios consumidores, até porque, em termos de fornecimento de água e saneamento básico, os dados médios do Brasil são sofríveis. Apenas 40% do esgoto é tratado no Brasil. Só para comparar, o serviço de energia elétrica é o mais universalizado do País, com uma taxa muito próxima de 100%. Apenas populações rarefeitas da região amazônica ainda não recebem energia elétrica em suas casas.
Para Airton Gomes, nada justifica a distância que separa os segmentos do mercado livre de energia elétrica e as concessionárias de água e saneamento básico. “As operadoras de saneamento, de modo geral, são mal estruturadas quando se trata de gerenciar a conta de energia elétrica. Entrar no mercado livre pressupõe uma situação técnica que não temos. Precisamos melhorar a capacidade gerencial do nosso pessoal”, disse, frisando que a Sabesp, no caso, é uma notável exceção.
Ele entende que a capacitação também deveria passar pela área de eficiência energética, pois “são terríveis as perdas em energia”. Gomes não duvida que para se resolver o problema é necessário enfrentar de frente a questão da qualidade da gestão das concessionárias, que precisariam desenvolver estratégias internas muito diferentes daquelas que são aplicadas hoje, visando melhorar a prestação de serviço nas respectivas áreas de atuação. Gardin explicou que a empresa de Valinhos desenvolve um programa com a CPFL, de R$ 987 mil em recursos gratuitos oferecidos pela empresa de energia elétrica, o qual permite, por exemplo, que todos os reservatórios da concessionária sejam monitorados.