Mercado preocupado com forte oscilação do PLD
Maurício Corrêa, de Brasília —
Os operadores do mercado livre entraram em parafuso e estão tentando entender o comportamento do Preço de Liquidação das Diferenças (PLD). Houve uma queda violenta do PLD nesta semana, de 75% nos submercados Sudeste/Centro-Oeste, Sul e Norte, passando de R$ 471,16/MWh para R$ 118,77/MWh, enquanto o preço no Nordeste também foi reduzido em 67% e atingiu R$ 157,33/MWh.
Há operadores do mercado que entendem que existe uma distorção no modelo de cálculo do PLD, pois o preço está baixo em pleno período seco, contrariando todas as expectativas. “Já tem gente falando que poderemos chegar ao valor mínimo do PLD, pelo menos na região Sul”, disse uma fonte. Em dezembro do ano passado, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) fixou o PLD mínimo para 2017, que é de R$ 33,68 por MWhora. “Se alguém apostou em preço alto neste período seco e não se protegeu devidamente, vai ser um caos no mercado. É preciso compreender que haverá uma hora em que chegará a conta desse preço baixo, pois não temos estoque suficiente de água nos reservatórios”, explicou a fonte.
Um outro operador do mercado livre explicou que o que mais incomoda, no momento, é que está sendo passado um sinal de preço equivocado para os consumidores, da mesma forma como aconteceu na gestão da presidente Dilma Rousseff. “É verdade que se não tem despacho de térmicas por ordem de mérito, a Aneel precisa fixar a bandeira verde, como ocorreu. Entende-se que a Aneel tem que seguir o que está escrito, mas o sinal é totalmente equivocado, pois não temos água sobrando nos reservatórios. Tem alguma coisa errada aí”, justificou.
Quem se der ao trabalho de tentar falar com os experts em PLD, hoje, terá dificuldades, pois todos estão profundamente envolvidos nas tentativas de avaliar corretamente o que está acontecendo com o preço de referência do mercado de curto prazo. O PLD baixo, como agora, na prática significa uma ajuda muito boa para os geradores. Como os reservatórios têm pouca água, pode-se imaginar que as térmicas brevemente serão ligadas, o que obrigaria os geradores a recorrer ao mercado para comprar energia. Com o PLD baixo, a conta dos geradores fica menor e eles saem ganhando na operação.
Em compensação, o PLD baixo representa uma pancada adicional nos distribuidores, que saem perdendo. Como estão sobrecontratados (têm energia sobrando, face à recessão e à forte migração de consumidores cativos para o mercado livre), liquidarão os seus contratos ao valor do PLD. Com o PLD baixo, os distribuidores perdem.
Qualquer mercado, de qualquer commoditie, sempre oscila. Na área de energia elétrica não é diferente. Mas o que preocupa os comercializadores é a intensidade da oscilação dos preços. Num dia está a R$ 471 o MWhora. No outro dia está a R$ 118, com tendência de baixa, o que complica um pouco as contas. Uma outra fonte ouvida por este site comentou que está ocorrendo uma “inversão de valores”. “Passamos o período úmido com preços nas alturas. Agora, estamos no período seco e os preços estão baixos. Não dá para entender, até porque o modelo do CVaR foi implementado para resolver essas fortes oscilações de preços da energia elétrica”, afirmou a fonte.
De fato, a Comissão Permanente Para Análise de Metodologias e Programas Computacionais do Setor Elétrico (CPAMP), um colegiado coordenado pelo Ministério de Minas e Energia, alterou os parâmetros do custo de déficit da energia elétrica que vem sendo aplicado no planejamento da operação e na formação de preço deste ano, na tentativa de aprimorar a informação do custo e do preço nos modelos computacionais. “Penso que será preciso dar uma olhada nisto, pois o CVaR recém-entrou em operação, mas as distorções continuam”, lembrou um comercializador.
Um respeitado especialista do mercado, que só pensa em PLD durante todo o dia, resumiu a situação para o “Paranoá Energia”: “O que está acontecendo é que os parâmetros alfa e lambda não estão calibrados para um nível de risco equilibrado. Do jeito que está, sempre haverá espaço para fazer algumas coisas difíceis de serem entendidas nas previsões tanto de vazão quanto de carga. Seria mais adequado dispor de um nível de risco calibrado, em função do planejamento do sistema elétrico, combinando com regras de racionamento inteligentes. Mas aí já seria pedir demais, pois estamos falando de uma política setorial inteligente e infelizmente algumas pessoas que operam o sistema não estão em condições mentais de entender isto”.
De acordo com um comunicado distribuído pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), a expressiva queda no PLD em todo o país é explicada pelos altos índices de afluências verificados no final de maio, o que também contribui para a previsão mais otimista para as próximas semanas. Na língua portuguesa, isto significa que choveu nos últimos dias mais do que se esperava.
“Os níveis dos reservatórios do Sistema Interligado Nacional (SIN), também por conta da melhora na previsão de afluências, ficaram aproximadamente 6.230 MWmédios acima do esperado. A elevação foi observada em todos os submercados com exceção ao Nordeste, cujos níveis não se alteraram. O aumento da energia armazenada foi de 3.870 MWmédios no Sudeste, 2.230 MWmédios no Sul e 130 MWmédios no Norte”, explicou a CCEE.