Marinha quer ingressar no ACL e investir em eficiência e GD
Maurício Corrêa, de Brasília —
Preocupada com os gastos crescentes com a energia elétrica, a Marinha do Brasil elaborou um programa que objetiva racionalizar os custos e obter mais eficiência energética. Através do “Projeto Con Energia”, ao qual este site teve acesso, a Marinha pretende tornar-se consumidor livre e investir em geração distribuída.
Ao somar os gastos de energia no exercício de 2016, a Marinha descobriu que havia consumido do seu orçamento um total de R$ 134 milhões com as contas de luz junto às várias concessionárias com as quais possui contratos. “A análise da Gestão Orçamentária nos indica que os gastos com energia elétrica em 2016 atingiram um patamar surpreendente, quando comparado com outros gastos fundamentais”, assinala o documento, salientando que “fica evidente que os valores são elevados e que, por si só, justificam ações imediatas para possibilitar sua redução”.
Segundo a Marinha, “em que pese todos os esforços de economia de energia já realizados, há grande dificuldade na gestão energética e na redução eficaz dos respectivos gastos financeiros, devido a diversos fatores: falta de controle de consumo de energia por não existir a prática de medidas relacionadas com o conceito de Eficiência Energética; o emprego de equipamentos e softwares obsoletos; e a baixa qualificação do pessoal da MB acerca do tema”.
A Marinha, entretanto, descobriu que houve mudanças significativas no cenário da energia elétrica, do qual ela não poderia ficar distante, considerando principalmente ser uma organização que está em permanente contato com o desenvolvimento de tecnologias de ponta, como motores a propulsão nuclear em submarinos.
O “Projeto Con Energia” destaca que “os incentivos aos novos instrumentos que foram criados pelo setor energético nacional tendem a ampliar soluções eficientes, eficazes e estruturantes para o gestor, onde, por exemplo, a modalidade de contratação de energia, a previsibilidade de custos e a liberdade de escolha dos fornecedores de energia se apresentam como soluções relevantes e devem ser realidades tangíveis”.
A Marinha, então, quer aproveitar o vasto potencial de muitas das suas unidades espalhadas pelo País, que estão localizadas próximas a rios, lagos e mares com influências de ventos, sol e mar. Reconhece obviamente que há necessidade de estudos técnicos individualizados compatíveis que apontem para o potencial das energias renováveis existentes e para o impacto de seus desenvolvimentos nas receitas, para a diminuição de despesas e para o desenvolvimento de novas tecnologias.
O direcionamento para o mundo das energias renováveis, na avaliação da Marinha, parece ser um caminho lógico, colocando a MB em uma posição de destaque e ação de vanguarda no seu desenvolvimento energético.
Uma das primeiras iniciativas consiste em um projeto piloto que será efetuado na Base Naval do Rio de Janeiro, onde os conhecimentos adquiridos na condução do “Projeto Con Energia” serão aperfeiçoados, disseminados e aplicados no que couber, em toda a Marinha, após a análise dos resultados obtidos nas fases de avaliação e controle.
Neste novo cenário em que pretende atuar como consumidor de energia elétrica, a Marinha deverá contratar um agente de mercado (comercializador ou gerador) para ingressar na energia livre. Ela entende que, ao migrar do ACR para o ACL, poderá economizar mais de 25% com a compra de energia mais barata em relação às contas atualmente pagas às concessionárias de distribuição.
Além disso, o “Projeto Con Energia” prevê uma economia de 20% com a utilização de mecanismos que permitam a eficiência energética. Uma redução de 10 a 30% poderá ser obtida pela Marinha em projetos de geração distribuída.
“As instituições de ponta se deparam atualmente com um problema comum. Por um lado há a necessidade crescente de consumir cada vez mais energia e, por outro, este consumo deve exigir cada vez menos recursos financeiros. O projeto é uma iniciativa alinhada com soluções de alto nível para a resolução deste problema no âmbito da Marinha do Brasil. A meta principal do projeto é a redução de custos e, secundariamente, a inserção da MB em um novo cenário de energia, em conformidade com o mundo moderno”, mostra o documento da Marinha.
“A migração para o Mercado Livre, inicialmente das Bases Navais e, posteriormente, de outras organizações militares consumidoras, juntamente com a implantação de medidas de Eficiência Energética, possibilitará o alcance de resultados expressivos em curto prazo. O pilar referente à Geração Distribuída pode ser alcançado em um prazo um pouco maior e apresentará, também, resultados positivos, por colocar a Marinha dentre aquelas importantes instituições que geram parte de sua própria energia”, assinala ainda o “Projeto Con Energia”.
Os militares da Marinha do Brasil não duvidam que o projeto, além da economia de recursos, também inserirá a MB em “um ambiente onde gestão inteligente atrelada à tecnologia avançada produzirá resultados surpreendentes”.