Estatais de eletricidade são loteadas pelos partidos
O pacote de privatizações do sistema Eletrobras, Infraero e Casa da Moeda anunciado na semana passada pelo governo Michel Temer mexeu no vespeiro do loteamento político e abriu uma nova frente de insatisfação e reações na base governista. O plano vai reduzir a zona de influência partidária nas empresas. Um mapeamento feito pelo Estado identificou ao menos 30 indicações políticas nas diretorias das empresas a serem privatizadas.
Os nomes são vinculados, principalmente, a PMDB, PSDB, DEM, PR, PP, PTB e até ao PSB, que deixou a base em maio, mas mantém o ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho.
Na Eletrobras, por exemplo, apesar de o presidente Wilson Ferreira Júnior ser apontado como uma indicação pessoal do presidente Michel Temer, entre os diretores há nomes ligados ao PMDB do Senado e até ao PSDB de São Paulo. Nas subsidiárias, os três diretores da Amazônia GT foram indicados pelo senador Eduardo Braga (PMDB-AM), que recentemente passou a fazer oposição. Ele nega as indicações.
PMDB e PSDB também são responsáveis por nomeações nas cúpulas da Eletronorte e da Eletrosul. No caso da Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf), que até 2014 esteve sob área de influência do PSB, hoje tem a maior parte dos cargos divididos entre o PMDB e o PP.
Líderes desses partidos dizem ser favoráveis às privatizações, mas, à sua maneira, cada um rechaça vendas na área em que exerce influência. Parlamentares do Nordeste, por exemplo, já defendem nos bastidores excluir a Chesf do pacote de privatizações por sua importância para a região.
Discurso semelhante é adotado em relação a Furnas, entregue pelo governo Temer a deputados de Minas Gerais. A bancada mineira do PMDB, que apadrinhou o presidente da companhia, Ricardo Medeiros, aprovou anteontem na executiva estadual uma moção contrária à privatização de Furnas e das usinas da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig).
Os parlamentares se dizem revoltados e querem pressionar o Planalto a rever a decisão. Com apoio dos prefeitos, vereadores e deputados estaduais, eles pretendem levar o texto a Temer e ao presidente nacional do partido e líder do governo no Senado, Romero Jucá (RR).
“Temos que privatizar tudo que dá prejuízo, mas água e energia são questões de estratégia nacional. Isso é grave e não tem a ver com cargos. O governo devia deixar as hidrelétricas por último e começar por aeroportos. Os governos passam, mas o patrimônio do povo mineiro fica”, disse o deputado Leonardo Quintão (PMDB-MG)
O movimento ecoa no DEM e no PSDB, historicamente favoráveis à privatização, e que chancelaram o diretor de Engenharia de Furnas, Cláudio Guilherme Branco da Motta. “Furnas é uma das principais empresas de geração e transmissão de energia. A gente vê esse caso com preocupação em relação à segurança nacional, é uma área fundamental para o desenvolvimento estratégico”, afirmou o presidente do PSDB em Minas, deputado Domingos Sávio.
Embora seu partido tenha aderido ao governo Temer com a condição de que fosse realizado um “programa consistente de privatizações e concessões”, o tucano nega contradição. “O PSDB nunca defendeu privatização de maneira generalizada, nossos adversários tendem a querer generalizar.”