350.org fecha o cerco no Cone Sul
Da Redação, de Brasília (Com apoio da 350.org) —
Como parte do trabalho em defesa do Aquífero Guarani, e do esforço da 350.org em expandir a campanha Zero Fósseis para todas as regiões do planeta, foi lançada nesta segunda-feira, 26 de fevereiro, na cidade paraguaia de Assunção, a 350.org Paraguai, grupo local que será coordenado por lideranças indígenas de todo o país.
Junto a representantes da 350.org Brasil e América Latina, diversas organizações indígenas das regiões Oriental e Ocidental, mais conhecida como Chaco, estiveram presentes no evento, organizado pela Mesa de Articulação Indígena do Paraguai (MAIPy), que por sua vez representa sete organizações nacionais.
“Fiquei muito contente em poder organizar um encontro com lideranças indígenas de todo o Paraguai. A 350.org traz uma bagagem de experiência de trabalho inter-regional que é muito importante e irá nos ajudar muito. Será ótimo ter contato com outras organizações de países como Brasil, Uruguai e Argentina. Foi muito interessante o intercâmbio, poder ouvir as experiências de luta dos companheiros de outras partes do mundo. Estamos ansiosos por trabalhar juntos”, afirmou Dionicio Gomes Benitez, coordenador-geral da MAIPy e agora coordenador da 350.org Paraguai.
“Os problemas dos nossos países são muito parecidos. Corporações querendo usurpar nosso território, nossa água, causando destruição, expulsão e contaminação. Ao mesmo tempo governos corruptos que agem pelo interesse destas corporações em detrimento das pessoas. Por isso precisamos de um movimento local organizado e conectado a uma luta global”, defendeu Eladio Vera, coordenador da MAIPy.
Uma das principais reservas de água doce do planeta, o Aquífero Guarani, presente nos territórios do Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, corre sério risco de contaminação pela indústria do petróleo e gás, principalmente o gás de xisto, através da técnica de exploração não convencional conhecida como “fracking”, que injeta no subsolo uma grande quantidade de produtos químicos altamente poluentes, visando à extração de gás.
“Minha aldeia fica em cima do aquífero. Tomamos água do rio. Se nossa água estiver contaminada, que água vamos beber? Não estamos lutando só pelo aquífero. Estamos lutando pelo direito dos povos indígenas como um todo”, afirmou durante o encontro a cacique Takua, liderança Kaingang da Aldeia Tupã Nhe’e Kretã, localizada no estado do Paraná, no Brasil.
Nicole Figueiredo de Oliveira, diretora da 350.org Brasil e América Latina, ressaltou que é muito importante fortalecer a defesa do Aquífero Guarani e trabalhar em conjunto para impedir que o “fracking” aconteça na região e contamine esse recurso natural tão importante e escasso. “Nós da 350.orgAmérica Latina e da Coalizão Latino-americana contra o Fracking (Coesus) temos feito esforços para realizar ações que promovam a defesa da água, da vida e do meio ambiente, protegendo as populações mais afetadas e contribuindo para uma transição justa para fontes de energia 100% renováveis, livres e acessíveis para todos”, frisou.
Durante o evento, os representantes indígenas compartilharam os diferentes contextos de luta de cada povo e os principais desafios para a proteção de sua cultura, seus territórios, os remanescentes florestais e toda a biodiversidade que eles guardam. “Se não enfrentarmos a situação atual, não há esperança de vida mínima para os indígenas do Paraguai e de toda a América Latina. O que nós precisamos é nos unir em torno de um objetivo comum. Nossos problemas e desafios estão ligados ao meio ambiente, e por isso eu estou muito feliz com a formação da 350 Paraguai”, disse Adriano Ozuna, liderança do povo Qom.