PLD mínimo de R$ 40,16 surpreende mercado
Maurício Corrêa, de Brasília (Com apoio da CCEE) —
A Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) surpreendeu totalmente o mercado, mais uma vez, ao fixar o PLD no valor mínimo de R$ 40,16/MWh, em todos os submercados, no início do período seco, quando as chuvas fortes já deixam de ocorrer. Segundo o anúncio feito pela Câmara nesta quinta-feira, 29 de março, o preço da primeira semana de abril registra queda de 82% no Sudeste, Sul e Nordeste, devido às afluências previstas para o Sistema, em março, que devem fechar em 102% da Média de Longo Termo – MLT. O fator de ajuste do MRE previsto para março é de 116,8%, enquanto o ESS deve ficar em R$ 300 milhões para no período.
Nesta quinta, assim que a CCEE anunciou o novo valor do PLD, o mercado entrou novamente em ebulição e ficou nervoso e cheio de dúvidas, até porque, na semana anterior, a marcação da Câmara havia indicado, para o período entre 24 e 30 de março, uma alta de 4% nos submercados Sudeste/Centro-Oeste e Sul, com o PLD passando de R$ 219,50/MWh e para R$ 228,54/MWh, mesmo valor fixado para o PLD no Nordeste. Só na região Norte, o preço permaneceu no valor mínimo de R$ 40,16/MWh estabelecido para 2018. Essa decisão era mais condizente com o início do período seco, na avaliação de especialistas em PLD.
Anteriormente, a definição do PLD pela CCEE, referente ao período entre 17 e 23 de março, revelou um valor de R$ 219,50/MWh nos submercados Sudeste/Centro-Oeste e Sul, enquanto no Nordeste foi fixado em R$ 218,38/MWh. Essa marcação, segundo a CCEE, refletiu uma queda no PLD da ordem de 7% no Sudeste, Sul e Nordeste. Nesse PLD de duas semanas atrás, o mercado já ficou um pouco ressabiado, pois ainda coincidia com período de chuvas intensas. Agora, aumentaram as incertezas quanto ao PLD, devido à espetacular queda de 82% no Sul, Sudeste e Nordeste, embora a CCEE ressalte que está olhando não para uma chuva que caia em determinada data, mas, sim, para o enchimento dos reservatórios em decorrência de muita chuva nos últimos dias, que só agora começa chegar às barragens das hidrelétricas.
A nota da CCEE divulgada nesta quinta, diz que, para o período de 31 de março a 06 de abril, “a queda significativa no PLD é explicada pelo melhor índice de afluências esperado para a próxima semana, especialmente no Sul, além da redução da carga do Sistema”. O mercado se confundiu um pouco, até porque, no mesmo dia, a CCEE divulgou outra nota alertando para outra variável e informando que o consumo de energia elétrica, no mês de março, tinha apresentado uma expansão de 2,5%.
Em conversa com este site, um operador ironizou e disse que “algum estagiário está fazendo as contas do PLD lá na CCEE”. Esse tipo de incerteza acontece todas as vezes que a CCEE surpreende o mercado com a fixação de PLDs que sofrem alterações radicais, principalmente em épocas como agora, quando os operadores começam a apostar em PLDs mais robustos devido à aproximação do período seco no Sudeste.
Na avaliação do mercado, esse tipo de decisão reforça a tese da adoção de preços diretamente entres compradores e vendedores, abandonando-se de vez o sempre questionável sistema de preços de energia elétrico baseado em programas computacionais. Há muito tempo, os especialistas em PLD das empresas de energia elétrica reclamam que a metodologia de definição dos preços através dos modelos matemáticos está totalmente descalibrada.
Para amparar a sua decisão, a nota da CCEE sobre o PLD ainda diz que:
“Em março, a expectativa é que as afluências no Sistema Interligado Nacional – SIN fechem em 102% na Média de Longo Termo – MLT, acima da média no Norte (102%) e abaixo nas demais regiões: Sudeste (89%), Sul (95%) e Nordeste (55%). Para abril, a previsão de ENAs em 93% da MLT para o SIN.
A expectativa é que a carga prevista para a próxima semana fique em torno de 1.540 MWmédios mais baixa, com redução esperada em todos os submercados: Sudeste (-830 MWmédios), Sul (-325 MWmédios), Nordeste (-250 MWmédios) e Norte (-140 MWmédios).
Já os níveis dos reservatórios do SIN ficaram cerca de 1.145 MWmédios mais altos em relação à expectativa anterior com elevação esperada no Sudeste (+610 MWmédios), Sul (+500 MWmédios) e Norte (+395 MWmédios). Há registro de redução nos níveis apenas no Nordeste (-360 MWmédios).
O fator de ajuste do MRE previsto para março é de 116,8% e o índice para abril é esperado em 102,5%. A previsão de Encargos de Serviços do Sistema – ESS para março é de R$ 300 milhões, com R$ 69 milhões referentes à restrição operativa. Já para o próximo mês, a expectativa é de R$ 292 mi em ESS, sendo R$ 58 milhões também referentes à restrição operativa”.
Os dados sobre o o consumo, de acordo com a CCEE, são os seguintes:
“Dados preliminares de medição coletados entre os dias 1º e 27 de março indicam aumento de 2,5% no consumo e de 2,9% na geração de energia elétrica no país, na comparação com o mesmo período de 2017. As informações constam da mais recente edição do boletim InfoMercado Semanal Dinâmico, da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica – CCEE, que traz dados prévios de geração e consumo de energia, além da posição contratual líquida atual dos consumidores livres e especiais.
Influenciado pelas temperaturas mais elevadas durante o mês de março, o consumo no Sistema Interligado Nacional – SIN alcançou 65.304 MWmédios, montante 2,5% superior ao consumo de energia no mesmo período do ano passado.
No Ambiente de Contratação Regulado – ACR (cativo), no qual os consumidores são atendidos pelas distribuidoras (onde estão inseridos os consumidores residenciais), o consumo subiu 1,7%, índice que considera a migração de consumidores para o mercado livre (ACL). Sem esse efeito na análise, o aumento alcançaria 3,4% no período.
O consumo no Ambiente de Contratação Livre – ACL, no qual as empresas compram energia diretamente dos fornecedores (onde estão os consumidores de atividade industrial/comercial), apresentou elevação de 4,5%, número que incorpora o impacto das novas cargas vindas do ACR. Quando esse movimento é desconsiderado na análise, o consumo no ACL se manteria igual ao do ano anterior.
Já dentre os ramos da indústria avaliados pela CCEE, incluindo dados de autoprodutores, varejistas, consumidores livres e especiais, os setores de veículos (+10%), metalurgia e produtos de metal (+4,8%) e manufaturados diversos (+2,2%) registraram aumento no consumo, mesmo sem o impacto da migração na análise. Os maiores índices de retração, no mesmo cenário sem migração, pertencem aos segmentos químico (-8,1%), de bebidas (-4,6%) e de minerais não-metálicos (-3,5%).
Em março, a geração de energia no Sistema somou 68.961 MW médios, incremento de 2,9%, em relação ao mesmo período de 2017, impulsionada pela maior produção das usinas hidráulicas (+4,7%), incluindo as Pequenas Centrais Hidrelétricas, e eólicas (+5,5%). A geração térmica, por sua vez, registrou queda de 9,3% no período.
O InfoMercado Dinâmico também apresenta estimativa da produção das usinas hidrelétricas integrantes do Mecanismo de Realocação de Energia – MRE, em março, equivalente a 117,3% de suas garantias físicas, ou 53.438 MW médios em energia elétrica. Para fins de repactuação do risco hidrológico, o percentual é de 97,4%”.