Ata do Copom indica fatores de risco
O Banco Central voltou a afirmar nesta terça-feira, 25 de setembro, por meio da ata do último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom), que seu cenário básico para a inflação envolve fatores de risco “em ambas as direções”. Por um lado, conforme o BC, “o nível de ociosidade elevado pode produzir trajetória prospectiva abaixo do esperado”.
Por outro lado, “uma frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas e ajustes necessários na economia brasileira pode afetar prêmios de risco e elevar a trajetória da inflação no horizonte relevante para a política monetária.”
De acordo com o BC, este risco ligado ao andamento das reformas “se intensifica no caso de continuidade da reversão do cenário externo para economias emergentes”. Conforme o BC, estes últimos riscos – ligados à frustração com as reformas e ao processo de elevação dos juros em economias centrais – “se elevaram”.
Próximos passos
O Copom reafirmou na ata que os próximos passos da política monetária continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação.
Esta ideia já constou no comunicado do encontro da semana passada do Copom, quando a Selic (a taxa básica de juros) permaneceu em 6,50% ao ano. Foi o quarto encontro consecutivo em que a taxa foi mantida neste patamar. “Na avaliação do Copom, a evolução do cenário básico e do balanço de riscos prescreve manutenção da taxa Selic no nível vigente”, disse o colegiado na ata, ao tratar de sua decisão.
O Copom afirmou ainda que entende que “deve pautar sua atuação com foco na evolução das projeções e expectativas de inflação, do seu balanço de riscos e da atividade econômica”. “Choques que produzam ajustes de preços relativos devem ser combatidos apenas no impacto secundário que poderão ter na inflação prospectiva”, acrescentou o BC, em referência aos impactos trazidos pelo choque cambial recente. Os efeitos secundários dizem respeito à propagação do choque a preços da economia não diretamente afetados pelo choque.
“É por meio desses efeitos secundários que esses choques podem afetar as projeções e expectativas de inflação e alterar o balanço de riscos”, disse o BC na ata. “Esses efeitos podem ser mitigados pelo grau de ociosidade na economia e pelas expectativas de inflação ancoradas nas metas. Portanto, não há relação mecânica entre choques recentes e a política monetária”.
Reformas
Em outro trecho da ata, o BC voltou a defender a continuidade do processo de reformas e ajustes na economia brasileira, visto como “essencial para a manutenção da inflação baixa no médio e longo prazos, para a queda da taxa de juros estrutural e para a recuperação sustentável da economia”.
Ao mesmo tempo, o BC repetiu na ata uma ideia acrescentada em suas comunicações mais recentes. Sem citar diretamente o debate eleitoral, a instituição alertou que “a percepção de continuidade da agenda de reformas afeta as expectativas e projeções macroeconômicas correntes”.
De acordo com o BC, a decisão de manter a Selic em 6,50% ao ano na semana passada “reflete seu cenário básico e balanço de riscos para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante para a condução da política monetária, que inclui o ano-calendário de 2019”.
Repasse cambial
A recente disparada do dólar não preocupa o Banco Central. No parágrafo 16 da ata, os diretores da instituição afirmam que, “com exceção de alguns preços administrados, o nível de repasse tem se mostrado contido”. A avaliação ocorre após a escalada das cotações do dólar nas últimas semanas e a consolidação do câmbio no patamar de R$ 4,00.
Nesse trecho do documento, os membros do Comitê explicam que a avaliação sobre o grau de repasse cambial na economia brasileira ocorreu à luz da estratégia do BC que prevê que a política monetária “deve reagir a choques que produzam ajustes de preços relativos”.
Apesar da percepção de o repasse cambial tem sido contido, o documento pondera que a intensidade desse repasse do dólar para a inflação “depende de vários fatores, como, por exemplo, do nível de ociosidade da economia e da ancoragem das expectativas de inflação”. Por isso, o BC diz que “continuará acompanhando diferentes medidas de repasse cambial, inclusive para medidas de inflação subjacente”.
Ainda sobre o repasse de aumento dos preços, o BC reafirma no parágrafo 15 que, diante das expectativas de inflação ancoradas, “eventuais choques que produzam ajustes de preços relativos devem ter apenas seus efeitos secundários combatidos pela política monetária”. Essa posição tem sido firmemente defendida pela autoridade monetária.
Em caso de reação a efeitos secundários, a ata destacou que possíveis movimentos serão simétricos. “Ou seja, a política monetária seguirá os mesmos princípios tanto diante de choques inflacionários (como no caso de choques que produzam depreciação cambial) quanto desinflacionários (como no caso de um choque favorável nos preços de alimentos)”, cita o documento.
Flexibilidade
O Banco Central reforçou a importância de ter “flexibilidade” para alterar a política monetária, caso seja necessário. Ao discutirem a conveniência de sinalizar o futuro da Selic (a taxa básica de juros), os membros do colegiado avaliaram, sem citar especificamente a eleição presidencial, que “o nível de incerteza da atual conjuntura gera necessidade de maior flexibilidade para condução da política monetária, o que recomenda abster-se de fornecer indicações sobre seus próximos passos”.
Os dirigentes do BC, no entanto, ponderaram na ata que é importante reforçar o compromisso de conduzir a política monetária “visando manter a trajetória da inflação em linha com as metas”. “Isso requer a flexibilidade para ajustar gradualmente a condução da política monetária quando e se houver necessidade”, acrescentou a instituição.
De acordo com o BC, a capacidade de responder a circunstâncias distintas “contribui para a manutenção do ambiente com expectativas ancoradas, o que é fundamental para garantir que a conquista da inflação baixa perdure, mesmo diante de choques adversos”.
Ao mesmo tempo, a ata informa que os membros do colegiado reiteraram a importância de reafirmar a atuação da política monetária exclusivamente com foco na evolução das projeções e expectativas, do balanço de riscos e da atividade econômica.
“Choques de preços relativos devem ser combatidos apenas no impacto secundário que poderão ter na inflação prospectiva”, reforçou o BC, reafirmando que não existe “relação mecânica” entre os choques recentes – como os da greve dos caminhoneiros e o cambial – e a política monetária.
Condicionalidades
Em uma ideia que vem sendo repetida nas comunicações mais recentes, o BC disse, na ata desta terça, que prefere “explicitar condicionalidades sobre a evolução da política monetária, o que melhor transmite a racionalidade econômica que guia suas decisões”. Na prática, a instituição reforça a mensagem de que, mais do que passar indicações sobre o futuro da Selic, procura deixar claro quais os fatores levará em conta em suas decisões. “Isso contribui para aumentar a transparência e melhorar a comunicação do Copom”, registrou a ata.
Ao mesmo tempo, os membros do comitê reforçaram que “os próximos passos na condução da política monetária continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação”.
Grau de estímulo
Além de afirmar que estímulos monetários poderão ser gradualmente removidos em caso de piora do cenário, o Banco Central também avaliou na ata qual seria o grau de estímulo adequado à economia brasileira diante do atual cenário de inflação ancorada e atividade econômica em recuperação – o que, para o Copom, ainda prescrevem política estimulativa.
“Todos concordaram que o grau de estímulo adequado depende das condições da conjuntura, em particular, das expectativas de inflação, da capacidade ociosa na economia, do balanço de riscos e das projeções de inflação”, cita a ata do Comitê no parágrafo 18. Essa avaliação, diz o documento, deve levar em conta que “a provisão de estímulo monetário requer ambiente com expectativas de inflação ancoradas”.
Com esses parâmetros, o documento argumenta no parágrafo 17 que “a conjuntura econômica com expectativas de inflação ancoradas, medidas de inflação subjacente em níveis apropriados, projeções de inflação próximas da meta para 2019 e elevado grau de ociosidade na economia ainda prescreve política monetária estimulativa”. “Ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural”, destaca o documento.
Os membros do BC reconhecem que estimativas sobre esse tipo de estímulo monetário “envolvem elevado grau de incerteza”, mas o Comitê entende “que as atuais taxas de juros reais ex-ante têm efeito estimulativo sobre a economia”.
Nesse trecho do documento, o Copom retirou a avaliação de que a continuidade do processo de reformas e ajustes na economia “é essencial para a queda da sua taxa de juros estrutural, cujas estimativas serão continuamente reavaliadas pelo Comitê”.
Inflação subjacente
O Banco Central entende que as expectativas de inflação subiram para “níveis apropriados às metas”. Para os membros do Copom, a expectativa para a evolução dos preços estão “de modo geral consistentes com as metas para a inflação”.
No parágrafo 14 do documento divulgado pela manhã, reconheceram que nos últimos meses “as diversas medidas de inflação subjacente se elevaram a partir de níveis julgados baixos”. Com esse aumento, as previsões atingiram “níveis apropriados”, cita o documento.
O BC entende que esse aumento das previsões pode ter ocorrido diante do ajuste de preços relativos ocorridos recentemente. Apesar disso, a ata diz que o movimento não “constitui risco para a manutenção nesses níveis após concluídos os referidos ajustes”.
No parágrafo 13, o documento avaliou um ajuste de preço registrado pela inflação de curto prazo. “Todos concordaram que a inflação nos meses de julho e agosto e as projeções para os meses seguintes corroboram a visão de que os efeitos da paralisação no setor de transportes de cargas ocorrida em maio foram temporários”.
Mesmo sem a preocupação com o ajuste de preços recente, os diretores do BC reforçaram a necessidade de se acompanhar a evolução da inflação no médio e longo prazos, além da ancoragem das expectativas.
Inércia inflacionária
O risco de que a inflação baixa do passado contamine preços atuais se dissipou. A avaliação consta do parágrafo 21 da ata Copom. Nesse trecho os diretores do Banco Central defendem que “o risco baixista decorrente da inércia do nível baixo de inflação no passado recente se dissipou”.
O documento lembra de outro fator que ajuda a manter os preços bem comportados: “a manutenção de elevado grau de ociosidade na economia constitui risco baixista para a inflação prospectiva”.
Por outro lado, os diretores do BC reconhecem que há risco associados à continuidade do processo de ajustes e reformas econômicas no Brasil e também à evolução do cenário internacional para as economias emergentes.
“Contemplando os dois lados do balanço de riscos, os membros do Copom concluíram que o balanço mostra-se assimétrico, tendo em vista que os últimos riscos (agenda de reformas e cenário externo) destacados se elevaram”, cita o documento no parágrafo 21.
Greve dos caminhoneiros
O Banco Central avalia que, após o impacto negativo gerado pela greve dos caminhoneiros, a atividade econômica voltou à trajetória de recuperação. No parágrafo 11 da ata do Comitê de Política Monetária (Copom), a direção avalia que após o impacto da paralisação ocorrida no final de maio “os indicadores e informações disponíveis apontam para continuidade do processo de recuperação da economia brasileira”.
A retomada da atividade, porém, tem sido em ritmo aquém do esperado inicialmente. No mesmo parágrafo 11, os diretores do BC avaliam que o processo de recuperação ocorre “em ritmo mais gradual que o antecipado no início do ano”.
A mesma ideia é defendida no 1º parágrafo, onde os membros do Comitê dizem que “indicadores recentes da atividade econômica evidenciam recuperação da economia brasileira, em ritmo mais gradual que o vislumbrado no início do ano”.
Diante desse quadro de retomada vagarosa, os diretores do BC ressaltam que a economia segue operando “com alto nível de ociosidade dos fatores de produção, refletido nos baixos índices de utilização da capacidade da indústria e, principalmente, na taxa de desemprego”.
Por isso, destaca o texto, “diversas medidas de inflação subjacente se encontram em níveis apropriados, inclusive os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária”.
Reformas
Na ata da última reunião do Copom antes das eleições presidenciais, os diretores do Banco Central reforçaram a defesa de uma agenda de reformas estruturais para a melhoria das condições econômicas no Brasil.
“Todos os membros do Comitê voltaram a enfatizar que a aprovação e implementação das reformas, notadamente as de natureza fiscal, e de ajustes na economia brasileira são fundamentais para a sustentabilidade do ambiente com inflação baixa e estável, para o funcionamento pleno da política monetária e para a redução da taxa de juros estrutural da economia, com amplos benefícios para a sociedade”, cita o documento no parágrafo 26. “O Comitê ressalta ainda que a percepção de continuidade da agenda de reformas afeta as expectativas e projeções macroeconômicas correntes.”
Além das reformas, o BC também defendeu outras iniciativas para aumento de produtividade, ganhos de eficiência, maior flexibilidade da economia e melhoria do ambiente de negócios.
“Esses esforços são fundamentais para a retomada da atividade econômica e da trajetória de desenvolvimento da economia brasileira”, cita o documento no parágrafo 27.