Bolsonaro indica almirante para MME
Maurício Corrêa, de Brasília —
Após a indicação, pelo presidente eleito Jair Bolsonaro, do almirante de Esquadra Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Junior, para o cargo de futuro ministro de Minas e Energia, as atenções do setor energético se voltam agora para a escolha do seu secretário-executivo. Embora seja o diretor geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha, o fato concreto é que o almirante designado não tem intimidade com os assuntos da Pasta (com exceção da parte nuclear) e rapidamente precisará adquirir novos conhecimentos. O secretário-executivo, neste caso, será uma figura fundamental na sua gestão.
Não há dúvida que o setor elétrico brasileiro recebeu o nome do novo ministro com uma certa cautela, mas, também, com uma sensação de alívio, diante de alguns nomes que circulavam nos últimos dias, principalmente aqueles que a chamada bancada evangélica tentava emplacar no MME. Um dirigente de uma grande empresa comentou: “Ter sido observador das forças de paz da ONU, na Bósnia, ou comandante de submarinos, não é um grande currículo para um ministro de Minas e Energia. Mas, como chegou ao posto de almirante de Esquadra, certamente é um servidor público dotado de qualificações técnicas, capacidade de decisão, espírito de liderança e discernimento. Se contar com uma assessoria competente, poderá ser um bom ministro, sem problema”.
Oficialmente, o setor de energia deverá se pronunciar ao longo do dia através de suas associações empresariais e todas elas provavelmente estenderão o tapete vermelho para o novo ministro e darão boas-vindas. Também deverão comparecer para o tradicional beija-mão no dia da posse, no MME. Isso, da boca para fora. Mas da boca para dentro, ficou uma certa mágoa, não com o novo ministro, mas com quem o indicou, pois, mais uma vez, o MME foi colocado na vala comum e não foi devidamente valorizado, na medida em que o setor desejava.
O fato é que há muitos problemas imediatos pela frente e o almirante Bento precisará de algum tempo para compreender a gravidade da situação. A questão que mais aflige o setor elétrico, por exemplo, é o risco hidrológico, que travou o mercado e ninguém consegue desenrolar. Essa é a verdadeira herança maldita deixada pela então presidente Dilma Rousseff, quando, através da MP 579, articulou uma saída fisiológica, demagógica e oportunista, utilizando o SEB, para se reeleger em 2014. Dilma simplesmente quebrou o setor elétrico brasileiro e os resquícios ainda estão por aí, vagando no ar. O risco hidrológico, mais conhecido pela sigla em inglês GSF, é um desses fantasmas dentro do armário.
Há outras questões pendentes que o novo ministro precisará arbitrar, como a proposta de novo modelo comercial do setor elétrico, que divide as opiniões de forma apaixonada. Tem gente que defende ardorosamente o novo modelo e tem gente que foge dele como o diabo da cruz. O almirante Bento precisará entender rapidamente como funciona o mercado de energia elétrica hoje, compreender a gravidade da situação e o que significa a proposta do novo modelo. Não é tarefa fácil.
O ministro de Minas e Energia será o sexto militar de alto coturno a integrar o Governo Bolsonaro, o que, na visão de especialistas do setor elétrico, não chega a representar um problema. “Talvez seja um problema para os congressistas, que se acostumaram com um modelo de gestão que privilegiava o apadrinhamento político e colocou muita gente incompetente no ministério. Agora é diferente e o Brasil precisará se acostumar com isto”, argumentou um dirigente de associação da forma mais pragmática possível.
“O modelo do toma-lá-dá-cá que vigorou até agora minou a eficiência do Estado. É possível que com todos esses generais e agora o almirante seja possível consertar um pouco as deficiências e ineficiências do Estado brasileiro. No MME tem muitas. Os militares são apegados à questão da meritocracia e isso é uma coisa boa”, acrescentou a mesma fonte.