Indústria defende integração de GN e energia
Da Redação, de Brasília (com apoio do IBP) —
A integração do setor elétrico com o de gás natural foi amplamente discutida pelos representantes da indústria na última quinta-feira, 15 de agosto, no Rio de Janeiro, durante o segundo dia do Seminário sobre Gás Natural, promovido pelo Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP). Entre as medidas propostas pelos especialistas está o equilíbrio entre a geração termelétrica na base e a geração termelétrica flexível.
“O principal problema está no paradigma entre os setores de gás natural e elétrico, através de uma adequada repartição de usinas termelétricas de base e flexíveis”, iniciou Xisto Vieira, presidente da Associação Brasileira de Geradoras Termelétricas (Abraget). O executivo completou dizendo que para buscar o equilíbrio entre as necessidades do setor elétrico e de gás é fundamental haver o escoamento e uma logística de recebimento do gás do pré-sal, com amplo investimento em infraestrutura e transporte, além de regularizar as questões tributárias e tarifárias.
Seguindo a mesma linha, Leonardo Santos Ferreira, gerente de Marketing de Gás e Energia da Petrobras, reafirmou a necessidade de avaliação dos custos e benefícios da flexibilidade na geração térmica à gás para o setor elétrico em função da maior participação das energias renováveis na matriz elétrica. Por outro lado, em função do aumento da oferta de gás nacional, caberia uma maior inserção de térmica na base. O mercado é que irá decidir qual a melhor combinação entre estas duas alternativas. “O gás ainda é e continuará sendo uma importante fonte na matriz elétrica brasileira. Com isso, é necessário que as duas andem lado a lado para que haja um mercado competitivo e assim um custo menor em energia”, disse.
Para Camila Schotti, gerente geral de Comercialização de Energia da Eneva, existe uma série de alterações que permitem que a integração entre os dois setores avance. “Na Eneva, a integração entre o setor elétrico e o de gás começou a partir das mudanças nas regras que permitiram a viabilização do Projeto de Roraima [um projeto termelétrico movido a gás natural e abastecido com o gás produzido pela Eneva no campo de Azulão, no Amazonas], além do fechamento do ciclo da termelétrica no Maranhão”, explicou. Camila concluiu dizendo que a integração completa só vai ocorrer quando um setor for tão eficiente na medida em que o outro também for.
O debate em torno da abertura, competitividade e transição para o Novo Mercado de Gás também foi foco do segundo dia. Em sessão especial, Luiz Costamilan, secretário-executivo de Gás Natural do IBP, disse que o Instituto está muito orgulhoso por poder celebrar esse momento de mudança que o Brasil vive. “Formalizar a redução do papel da Petrobras no mercado e estabelecer as condições para uma competição entre os estados, incentivando o processo de abertura e construindo condições para um preço de gás natural competitivo”, enfatizou.
Alexandre Cordeiro, superintendente geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), acrescentou que o papel do órgão é gerar essa competitividade do setor, acabando com a posição dominante da Petrobras com a celebração do Termo de Compromisso de Cessação (TCC), com medidas que visam estimular a concorrência no setor e impedir a ocorrência futura de condutas anticompetitivas. Desse modo, o Cade tenta antecipar e solucionar problemas futuros, em prol de maior eficiência de atuação.
GNL
No painel sobre as perspectivas do mercado internacional de GNL e suas implicações para o Brasil. Celso Silva, vice-presidente executivo da Golar para a América, reiterou o papel do gás e acrescentou que há um crescente reconhecimento do papel do GNL, focando os investimentos em locais ainda não conectados à malha de gasoduto ou com restrições logísticas.
“Precisamos estimular a adoção do GNL como alternativa para o transporte de carga rodoviária. Na China, por exemplo, tem uma frota de 250 mil veículos e deve chegar a um milhão nos próximos anos”, falou. Silva ainda acrescentou que a Golar está investindo nos primeiros quatro caminhões movidos a GNL ao mesmo tempo em que se prepara para concluir as obras de construção da planta de regaseificação de GNL de Sergipe, ainda em 2019. “Um incentivo para que todos percebam que é uma realidade”, acrescentou.
Assinatura de acordo
Durante o evento, representantes do IBP, da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace) e do Governo do Rio de Janeiro celebraram um grande marco para o setor de energia ao assinarem o memorando para a efetivação da nova regulação do mercado livre de gás natural, um trabalho integrado, que visa – na forma de legislação aplicável – promover segurança jurídica aos investimentos privados e estabelecer mecanismos de cooperação e de troca de informações de modo a incentivar o mercado de gás natural no estado do Rio de Janeiro.
Encerramento
No encerramento do evento, José Firmo, presidente do IBP, ressaltou a importância do debate sobre a abertura do mercado de gás natural no país, reforçando que a 19ª edição do Seminário sobre Gás Natural bateu todos os recordes e que os dois dias de evento serviram para aprofundar o entendimento dos processos que levarão a um salto para o futuro na criação de uma nova era em que o Brasil se transformará em uma grande potência energética.
O presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, reiterou a importância de se ter um mercado de gás competitivo e destacou a negociação em curso entre a estatal e a Bolívia, que permitirá a redução significativa da tarifa de transporte, contribuindo efetivamente para a queda no custo do gás natural. “Estamos em um processo de negociação do contrato com a Bolívia, onde se buscará a redução no preço do gás e que promoverá crescimento econômico alem de mais investimentos em infraestrutura.
O ministro da economia, Paulo Guedes, encerrou o evento dizendo que a riqueza da sociedade ocidental está no sistema descentralizado, com foco na economia de mercado. O ministro lembrou a onda de investimentos do Governo Federal e o foco gradual nas privatizações. “Estamos começando devagar nas privatizações. O foco agora é privatizar os Correios, a Eletrobras e mostrar a prosperidade por meio da economia de mercado”, finalizou.