Paraguai usa crise para refazer acordo de Itaipu
A preocupação do governo brasileiro com a estabilidade política do presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, deve facilitar o fim do impasse sobre a contratação da potência da usina hidrelétrica de Itaipu. A expectativa é de que se chegue a um acordo em 15 dias. As negociações entre as estatais Eletrobras e Ande (Administração Nacional de Eletricidade) foram retomadas na segunda-feira e uma nova reunião deve ocorrer nesta quinta-feira em Foz do Iguaçu, segundo apurou o Estado/Broadcast.
Além das boas relações entre os presidentes Jair Bolsonaro e Mario Abdo Benítez, mais conhecido como Marito, problemas financeiros também devem acelerar a construção do acordo. O impasse na contratação da potência de Itaipu se arrasta há seis meses e deixou em aberto uma fatura de US$ 50 milhões, conta que pode subir a US$ 130 milhões até o fim deste ano.
Sem esses recursos, a usina pode deixar de honrar compromissos, o que não preocupa tanto o lado brasileiro, mas é algo crítico para o lado paraguaio – para quem Itaipu é fonte de receitas para a execução de obras e políticas públicas.
Há quase um mês, a renúncia do ex-presidente da Ande Pedro Ferreira levou o governo de Benítez a uma crise que derrubou diversas autoridades. Ferreira rejeitou cumprir os termos de uma ata que estabelecia um aumento gradual da contratação da potência da usina pelo Paraguai entre 2019 e 2022.
O documento foi considerado “entreguista” e quase levou ao impeachment de Marito, que, para se manter no cargo, pediu sua anulação. Ontem o impeachment foi definitivamente arquivado pela Câmara dos Deputados (mais informações nesta página). Antes disso, o presidente substituiu todos os negociadores.
Com o arrefecimento da crise política, as negociações entre Ande e Eletrobras recomeçam do zero. A Eletrobras insiste em um acordo de longo prazo, de 2019 a 2022, e quer que o Paraguai aumente sua contratação.
Já a Ande deseja negociar apenas por este e o próximo ano e quer ter preferência no uso da energia excedente, sete vezes mais barata do que a energia associada à potência. Sobre esse ponto, o Brasil não deve se opor.
Amizade
O diretor-geral de Itaipu no Brasil, general Joaquim Silva e Luna, prevê a conclusão do impasse no curto prazo. Ele reconhece ainda que a amizade entre Bolsonaro e Marito contribui para a breve solução.
“A relação entre Brasil e Paraguai é importante para todos nós. Sabemos que existe uma relação bem próxima entre os dois presidentes. Qualquer coisa que desestabilize isso nos deixa desconfortáveis”, disse. “Temos certeza de que, pelo vínculo que existe entre Brasil e Paraguai, isso será resolvido no curto prazo.”
Sobre os valores não faturados, Silva e Luna disse ser uma parcela pequena, que ainda não afeta a usina. “Estamos chamando de energia controversa. É um valor menor”, afirmou Silva e Luna, comparando a situação a um contingenciamento do orçamento pelo governo federal.
Silva e Luna completa amanhã seis meses à frente da gestão da usina de Itaipu. Desde que assumiu, todos os cinco diretores brasileiros foram substituídos – dois são funcionários de carreira da usina. “São pessoas com viés e competência técnica. Isso nos livrou de qualquer vinculação ou influência de qualquer natureza”, disse.
Segundo Silva e Luna, um remanejamento de gastos proporcionou recursos para o início das obras de uma nova ponte entre Brasil e Paraguai, investimentos em um hospital mantido pela usina hidrelétrica na região e reformas na pista e pátio de manobras do aeroporto de Foz do Iguaçu. “Formamos uma equipe muito forte, tivemos um ganho de austeridade e enxugamos custos”, acrescentou