Governo aposta em térmicas a gás natural
Maurício Corrêa, de Brasília —
Primeira grande hidrelétrica da América do Sul, inaugurada na cidade mineira de Juiz de Fora, em 1889, a usina de Marmelos tem sido desde então o principal símbolo do sistema elétrico brasileiro, que sempre foi fortemente baseado nas energias renováveis, através da hidreletricidade. Só que agora o Brasil está dizendo adeus ao sistema hídrico de geração elétrica e resolveu apostar em térmicas a gás natural, pois precisará escoar o GN produzido nos campos do pré-sal. Marmelos vai virar uma espécie de quadro na parede.
Isso ficou muito claro, nesta terça-feira, 11 de fevereiro, com o anúncio, pelo Ministério de Minas e Energia, do Plano Decenal voltado para 2029. Presente ao evento, Paulo Arbex, presidente-executivo da Associação Brasileira de PCH´s e CGH´s (AbraPCH), manifestou claramente o seu descontentamento com o plano.
“Confesso que me preocupo com uma expansão mínima de hidrelétricas em geral, inclusive de PCH´s. Não tem sentido algum ver um plano decenal que premia a geração fóssil, quando temos um parque hidrelétrico da melhor qualidade, com muito potencial de expansão”, afirmou ao site “Paranoá Energia”.
No mesmo tom, o presidente do Fórum das Associações do Setor Elétrico (Fase) e da Associação Brasileira dos Investidores em Autoprodução de Energia, Mário Menel, também vê grande contradição no plano, considerando que ele aumenta a participação de térmicas no sistema, quando o País dispõe de inegável vocação hidrelétrica. “Estamos praticando uma espécie de auto-censura em relação ao setor elétrico. É uma questão a ser discutida”, declarou.
O Governo não concorda com essas opiniões da área empresarial. “Não estamos abandonando a hidreletricidade”, ressaltou Reive Barros, secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do MME, frisando que “temos preocupação com todas as fontes”. Ele entende que o modelo já mudou, desde que passaram a ser incorporadas as fontes solar e eólica, mas a sua argumentação principal é que é necessário dotar o País de oferta necessária de energia para lastrear o crescimento econômico.
A ênfase dada pelo PDEE ao gás natural oriundo do pré-sal, segundo o secretário, segue uma lógica incontestável: os aproveitamentos hidrelétricos no Centro-Sudeste já estão praticamente esgotados e muito do potencial hídrico da região Norte se localiza em regiões indígenas ou então encontram pela frente diversas restrições pelo fato de pertencer a áreas legalmente protegidas (esta é a auto-censura comentada por Mário Menel, do Fase e Abiape).
O secretário do MME lembrou que está se buscando financiamentos que possibilitem a realização de novos inventários sobre o potencial hidrelétrico. Entretanto, Guilherme Velho, presidente da Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Energia Elétrica (Apine) comentou que o risco do empreendedor hidrelétrico aumentou muito no Brasil, lembrando o caso de uma UHE, no Paraná, a Telêmaco Borba, que está em fase de desenvolvimento há 22 anos, com prejuízos óbvios para os controladores do projeto.
O financiamento pretendido pelo secretário Reive Barros, na sua avaliação, é importante, mas Velho também lembrou que os desenvolvedores não têm garantia que vão tocar os projetos no Brasil.
Nesse novo plano, Reive Barros destacou que também foi dado destaque à integração do gás natural com o setor industrial e o setor elétrico, algo que não acontecia nos planos anteriores.
Mas também houve manifestações favoráveis ao PDEE. O representante da Abrajet, uma associação que representa as térmicas a gás, naturalmente elogiou a proposta governamental. Da mesma forma, a Abrace (que representa grandes consumidores industriais) também aplaudiu o PDEE, pois trata-se de um setor que historicamente sempre defendeu o incremento da utilização do gás natural nos processos industriais.
Veja neste site uma ampla matéria feita pela Agência Estado, com a qual o “Paraná Energia” tem contrato de aproveitamento de conteúdo, destacando os aspectos técnicos do PDEE 2029.