Brasil pode comprar GN argentino de fracking
Maurício Corrêa, de Brasília —
Em um comunicado às empresas associadas, a Abraceel (Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia) informou que a Diretoria-Executiva recebeu, no dia 02 de dezembro, a visita de uma comitiva argentina interessada na comercialização do gás natural produzido no campo de Vaca Muerta, na Patagonia.
Segundo o comunicado, a associação recebeu Juan José Suarez Coppel, diretor de Petróleo e Gás da Pierson Capital e ex-presidente da Pemex, a estatal petroleira mexicana; Ezequiel Cassagne, assessor legal da Pierson Capital na América Latina; Andre de Fiori, diretor da Pierson Capital no Brasil; Conrado Assenza, secretário da Embaixada da Argentina; e Ana Júlia Tellería, assessora da representação diplomática em Brasília.
Foi explicado aos comercializadores que a Pierson Capital trabalha em conjunto com uma estatal chinesa no projeto de um gasoduto interligando Vaca Muerta até Porto Alegre.
“No lado brasileiro, o projeto prevê a aquisição do gasoduto Uruguaiana – Triunfo (também conhecido como Uruguaiana – Porto Alegre trecho 2), autorizado antes da Lei do Gás (11.909/2009) e pertencente a Transportadora Sulbrasileira de Gás – TSB. Com isso, o gás de Vaca Muerta se conectaria à malha do Gasoduto Brasil-Bolívia, com possibilidade de atender outros estados que não apenas o Rio Grande do Sul, caso sejam feitas alterações no Gasbol”, diz o informe.
O tempo de construção do gasoduto Vaca Muerta – Porto Alegre é estimado em no máximo dois anos e o custo de transporte em aproximadamente US$ 2 / MMbtu. Segundo Suarez, a intenção é ofertar contratos de capacidade de longo prazo, de 10 a 15 anos, e permitir a livre comercialização do gás entre ofertantes argentinos e demandantes brasileiros.
Conforme a associação, os custos de produção de Vaca Muerta estão se reduzindo rapidamente, tornando-se um gás competitivo. “A Abraceel elogiou a iniciativa argentina, amparada em uma lógica de mercado, ressaltando que defende a integração energética entre os países sem barreiras à competição”, diz o comunicado.
A Abraceel destacou a importância dos comercializadores no novo mercado de gás e sugeriu a realização de uma reunião entre as partes interessadas da argentina e as empresas participantes da associação para troca de informações.
Também se colocou à disposição para contribuir com as tratativas junto ao governo brasileiro e aos governos estaduais, em especial o do Rio Grande do Sul, que ainda não regulamentou o mercado livre.
Vaca Muerta é um projeto altamente polêmico, que tira o sono dos ambientalistas argentinos. Uma parte da Igreja Católica também exerce forte oposição à utilização do “fracking” na Patagonia.
Na região se utiliza a técnica denominada de “fracking” (fracionamento hidráulico), que consiste na injeção no solo de substâncias químicas em grande quantidade e pressão para quebrar as rochas do subsolo e daí extrair o gás natural e o óleo bruto.
O campo de Vaca Muerta compreende uma área de aproximadamente 30 mil km quadrados e o “shale gas” é extraído em uma profundidade de até 2.900 metros. Na região, fazendeiros têm apontado inúmeros casos de lençol freático contaminado, rachaduras em edificações e agricultura e gado envenenados pela água cheia de produtos químicos que se retira do subsolo. Fazendas outrora grandes produtoras de frutas ou de leite praticamente perderam valor, face ao envenenamento produzido pelo “fracking”.
Repete-se na Patagonia as mesmas cenas que horrorizaram o mundo no documentário “Gasland”, mostrando os impactos da extração de “shale gas” nos Estados Unidos.
A Argentina não está muito preocupada com o que pensam os seus ambientalistas e vê no potencial do campo de Vaca Muerta uma espécie de redenção para tirar o país da grave crise econômica em que se encontra mergulhado há décadas. Políticos argentinos gostam de lembrar que foi o “shale gas” que permitiu a recuperação da economia americana depois da crise de 2008. Recentemente, inclusive, o país vizinho propôs uma parceria ao Brasil visando a construção do gasoduto para entrega do gás no Rio Grande do Sul.
Este site apurou que, com investimentos de aproximadamente US$ 4 bilhões, o duto sairia da Patagonia e levaria o gás de Vaca Muerta até a fronteira brasileira em Uruguaiana. A partir daí, o gás seria levado até Porto Alegre. Poderiam ser transportados em torno de 30 milhões de metros cúbicos/dia, que é exatamente o mesmo volume transportado pelo Gasoduto Bolívia-Brasil.