Preço horário fica sob suspeita
Maurício Corrêa, de Brasília —
Embora ninguém fale abertamente, há um certo nível de tensão no mercado de energia elétrica, nos últimos dias, face ao preço horário, que entrará em vigor no início de janeiro.
No dia 10 passado, a conselheira Talita Porto, da CCEE, parabenizou toda a equipe da Câmara, pelo trabalho efetuado em relação à implantação do preço horário. Os cumprimentos foram justos, pois a equipe, principalmente da gerência de preços, de fato fez um bom trabalho.
Então, onde estaria o motivo da preocupação do mercado?
Não é difícil adivinhar que, embora os técnicos da CCEE tenham trabalhado bem, está todo mundo grilado com a brutal intervenção do MME/CCEE/Aneel/ONS na formação de preços, conforme foi denunciado por este site no dia 04 de dezembro, na matéria “Aneel atropela CNPE e deixa mercado nervoso”. Esse fato gerou uma preocupação que não existia até a semana passada.
“Tocou horror no mercado, nesta sexta-feira, em conseqüência de uma decisão tomada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) que atropelou uma resolução do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) e alterou as condições operativas dos modelos de formação de preços. Segundo um recurso formulado em caráter de urgência pela associação dos comercializadores de energia elétrica, a Abraceel, a decisão da agência reguladora em relação à operação no rio São Francisco desrespeita os preceitos da formação de preços”, assinalou o site “Paranoá Energia”.
Quatro dias depois, o presidente da associação dos comercializadores de energia, a Abraceel, Reginaldo Medeiros, expôs de forma polida, mas dura, o descontentamento do segmento em um longo artigo disponibilizado no site “Canal Energia”.
“Preços elétricos e a Rua da Quitanda” foi o título do artigo de Medeiros, no qual o autor afirmou que “é difícil compreender como uma mudança como essa, informada ao mercado poucas horas antes de sua aplicação e de profundas implicações econômicas para o país, seja respaldada por todas as siglas que governam a formação de preços.”
Como se costuma dizer no interiorzão de Minas, é aí que a porca torce o rabo. Afinal, é totalmente procedente a preocupação dos comercializadores, manifestada pelo presidente executivo da Abraceel, pois, como é possível falar no mecanismo de preços horários, funcionando dentro de poucos dias, se a área institucional pratica uma violência dessas contra os preços?
No mercado — e não são poucas pessoas — há quem desconfie que os preços sombra que lastrearão todo o mecanismo dos novos preços horários podem estar contaminados pelos erros de entrada nos programas computacionais, o que comprometeria toda a credibilidade das mudanças que serão introduzidas em poucos dias.
O Governo aparentemente não vê problemas de contaminação. Tanto que já programou um workshop a se realizar no dia 17 de dezembro, quinta-feira da próxima semana, para se discutir a volatilidade do PLD e a geração de cenários e produtibilidade das usinas hidrelétricas.
Em conversa com este site, um especialista do mercado afirmou que não torce contra o preço horário, mas que, nos últimos dias, “é inegável que se alterou a expectativa, diante do que aconteceu. Todos nós estávamos trabalhando de forma otimista, apenas aguardando o início do preço horário em janeiro. Era apenas uma questão de dias. Entretanto, depois do que aconteceu na semana passada, o humor do mercado mudou. Todo mundo está de orelha em pé com essa história de intervenção na formação dos preços e querendo saber o alcance disso tudo”, afirmou.