Potencial para ML é de 14 mil empresas
Maurício Corrêa, de Brasília —
Em um relatório enviado neste final de semana às empresas associadas, a Abraceel, que reúne os agentes de comercialização, revelou que ainda existem quase 14 mil consumidores no País com demanda acima de 500 kW que não migraram para o mercado livre, com consumo aproximado de 4,5 GW médios. Esse número foi obtido através de estudos feitos pela consultora Neusa Antunes.
O site “Paranoá Energia” teve acesso ao relatório, o qual mostra que, considerada toda a alta tensão, seriam mais 160 mil consumidores e 4,7 GW médios aptos a escolher o fornecedor de energia.
De acordo com a associação, que realizou outro estudo, com base nos dados oficiais da Aneel, EPE, CCEE e BNDES, mais de 70% do parque gerador em construção nos próximos cinco anos estão direcionados para o Ambiente de Contratação Livre.
Nos últimos três anos, ainda citando informações do BNDES, a associação revelou que 58% do volume financiado pelo banco da carteira de energia eólica e solar foram destinados ao mercado livre, sendo que 47% dessa carteira de eólica e solar financiada desde 2018 são lastreados por PPAs oferecidos por comercializadores.
Quando fala em abertura de mercado, a Abraceel trabalha com duas perspectivas, segundo explicou um associado. A face mais visível da estratégia dos comercializadores, por um lado, é a luta de vários anos com vistas à abertura integral do mercado de energia elétrica, para que todos os consumidores possam ter a opção de comprar a sua energia elétrica do supridor que oferecer o melhor preço, como já ocorre em outros mercados mais modernos. Essa é uma bandeira de 20 anos.
Nesse contexto, nos últimos dias a associação fez um esforço institucional e de mídia, para divulgar um estudo mais amplo sobre abertura integral do mercado brasileiro de energia elétrica, contratado à consultoria Thymos. No dia 27 passado, foram feitas apresentações do estudo para o Conselho de Administração da CCEE, a diretoria colegiada da Aneel e para o Conselho de Infraestrutura da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Depois de um longo período em que não deu bola para o mercado livre, a CNI tem sido ultimamente um aliado da Abraceel em busca dessa abertura total do mercado, pois se rendeu à evidência que essa iniciativa resultará na redução do preço das tarifas e, portanto, será bom para os consumidores.
No mercado, ainda existem dúvidas quanto a algumas pontas soltas em relação à pretendida abertura integral do mercado. Uma delas se refere à forma como se daria a expansão da oferta. O projeto dos comercializadores tem alguns inimigos aí, que se concentram no segmento de geração. A outra dúvida é, parodiando o jargão do futebol, se já houve uma conversa com os russos, no caso, a rede de distribuição, que vai levar um tombo nessa abertura. Além disso, existem interrogações quanto a quem seria delegado o papel de ser o supridor de última instância.
Essa é a face mais visível dos objetivos pretendidos pela Abraceel. Entretanto, uma fonte revelou ao site que, se isso não for possível — seja por resistência política, do próprio governo ou dos distribuidores, por exemplo — aí entra o que poderia ser entendido como uma espécie de Plano B: os comercializadores se contentariam em garimpar o universo de milhares consumidores no País com demanda acima de 500 kW que ainda não migraram para o mercado livre, conforme citado no início deste texto. Trata-se de um potencial de negócio para ninguém botar defeito.