Preços de GN agitam mercados europeus
Da Redação, de Brasília (com apoio do Instituto ClimaInfo) —
O debate sobre os preços da energia elétrica está aceso não apenas no Brasil, mas também na Europa. Novos preços recordes foram registrados nos mercados europeus de gás, com repercussão nos preços da eletricidade. A situação está expondo a vulnerabilidade da Europa à volatilidade dos preços dos combustíveis fósseis, com picos extremos de preços que provavelmente se tornarão mais comuns no futuro.
O gás fornece apenas 20% da eletricidade da Europa, mas é o fixador de preços no mercado atacadista de eletricidade. Isto ocorre porque normalmente é a fonte mais cara de geração de eletricidade. As empresas de energia estão passando os aumentos de preços para os consumidores, com sérias consequências para as contas de energia doméstica em meio à aproximação do inverno, quando há aumento no consumo de energia para aquecimento. As pequenas e médias empresas também terão dificuldades se não forem apoiadas.
Por que isso está acontecendo? Este material, produzido pelo Instituto ClimaInfo, mostra que a demanda no mercado internacional está excedendo a oferta, e isso continuará levando à volatilidade dos preços do gás. A Europa importa cerca de 50% de seu gás através de gasodutos, notadamente da Rússia e da Noruega, sendo o restante coberto por gás natural liquefeito (GNL) ou por fontes dentro da Europa.
Mas as exportações de gás para a Europa estão sob pressão por várias razões. A Rússia cortou o fornecimento, o que levou alguns a especular que ela estaria alavancando sua posição para forçar a aprovação do controverso gasoduto Nord Stream 2 da Rússia para a Alemanha. Entretanto, a demanda interna na Rússia também tem sido alta e os preços do gás na Ásia têm aumentado mais rapidamente.
Os compradores de GNL na Ásia Oriental estão superando os da Europa para assegurar as cargas dos EUA. À medida que as economias se recuperam após a Covid-19, os governos se movem para encher os estoques antes do inverno, puxando os preços do gás para cima. O preço do carbono ETS da UE também aumentou, mas isso teve um impacto periférico, representando apenas 20% dos aumentos recentes.
Quais países são afetados? Segundo o ClimaInfo, é praticamente toda a Europa. À medida que o inverno se aproxima e as pessoas buscam aquecimento, os altos preços do gás terão um impacto maior, especialmente no norte da Europa. Os preços da eletricidade são mais sensíveis nos países que possuem um grande número de usinas elétricas a gás e que são mais dependentes da importação de gás – particularmente países como Espanha, Itália e Reino Unido, mas também a Alemanha, a Holanda e a Bélgica.
Os mercados de energia europeus estão interligados, portanto, os aumentos de preços terão ampla repercussão.
Como os governos europeus vão administrar o aumento dos preços da energia?
No curto prazo, os primeiros sinais são de que os governos europeus intervirão de forma agressiva para proteger os consumidores. A Espanha foi a primeira a anunciar medidas extraordinárias, redirecionando os lucros inesperados de uma série de produtores de energia para os consumidores. Recuperará 2,6 bilhões de euros. O governo italiano já desembolsou 1,2 bilhão de euros, e o primeiro-ministro Mario Draghi indica que está disposto a gastar 3,5 bilhões de euros para proteger os italianos de baixa renda.
A França anunciou um subsídio de 100 euros para até 6 milhões de lares. Com as eleições no horizonte, o presidente Macron fará questão de evitar protestos como os dos chamados “jalecos amarelos”. Que soluções estão à mesa?
Embora a principal causa de um mercado de gás disputado seja a falta de oferta e a alta demanda, elevar a dependência do gás só agravará o problema. A solução, no entendimento do ClimaInfo, seria acelerar uma transição de energia limpa. Ao fazer isso, os governos reduzirão a demanda de gás, o que significa que as contas de gás tomarão uma parcela cada vez menor da renda disponível dos consumidores. O pacote “Fit-for-55” da União Europeia consistiria em fazer exatamente isso.
Uma maneira de conseguir isso é elaborar políticas que incentivem um maior investimento na infra-estrutura de eletricidade renovável e na geração de energia. O governo na Espanha anunciou que realizaria leilões para mais 3,3 GW de energia solar e eólica.
Outra seria reduzir o papel do gás no aquecimento, particularmente nas residências. Um componente significativo do Acordo Verde Europeu da UE está focado na renovação dos imóveis para melhorar o isolamento das casas e torná-las mais eficientes em termos energéticos. Isto reduz a demanda por aquecimento e, portanto, a demanda por gás. Tecnologias como as bombas de calor já estão oferecendo alternativas confiáveis e limpas que ajudarão a tirar o gás da função de aquecimento.
Qual é a tendência para os preços de energia no futuro? Os preços do gás têm sido altamente voláteis por quase um ano e é provável que esta volatilidade continue no curto prazo à medida que diferentes partes da economia global se recuperam em diferentes velocidades.
Os padrões climáticos extremos, tais como repentinas ondas de frio e furacões, invariavelmente afetarão a oferta e a demanda no futuro. Mas, é difícil prever quando. Por outro lado, o crescimento das energias renováveis e da infra-estrutura necessária para uma economia de baixo carbono reduzirá a dependência de combustíveis fósseis e limitará o impacto que os preços mais altos e mais voláteis das commodities podem ter sobre o custo da eletricidade.