UHE Itaipu investe na proteção ambiental
Maurício Corrêa, de Foz do Iguaçu (PR) —
Existe um país em que o presidente da República e outras autoridades de primeiro escalão têm total desconsideração pelo meio ambiente, um ex-ministro do Meio Ambiente também odeia o meio ambiente mas que nesse mesmo país o Governo Federal controla uma estatal que é um modelo de preservação ambiental? Sim, existe. Este país se chama Brasil e a estatal em questão, que acaba sendo involuntariamente a fonte dessa espécie de esquizofrenia, é a UHE Itaipu Binacional.
A binacional aplica US$ 30 milhões por ano na chamada “gestão do território”, uma rubrica que abriga desde o monitoramento contínuo da qualidade da água que abastece a gigantesca hidrelétrica, até proteção de tribos indígenas que vivem no entorno da usina, tratamento de animais feridos, gestão das bacias hidrográficas da região, cuidados totais com as matas ciliares que protegem as águas, educação ambiental para agricultores que trabalham nas proximidades do lago de Itaipu e atenção especial com o saneamento. Ninguém deseja que o lago de Itaipu seja um depósito de esgoto sanitário, de resíduos de agrotóxicos ou de lixo urbano.
A usina de Itaipu de fato pode ser citada como um bom exemplo sobre como o Brasil precisa urgentemente correr para um psiquiatra. Afinal, a parte brasileira da UHE é dirigida por um general da reserva, João Francisco Ferreira, e a Diretoria de Coordenação tem como responsável outro general da reserva, Luiz Felipe Carbonell.
Cabe a este a responsabilidade, entre outras atribuições, de tocar a ampla pauta ambientalista da binacional, que vai servir de base para a posição brasileira a ser apresentada na COP, em Glasgow. Afinal, o Poder, em Brasília, tem uma agenda ambiental reconhecidamente pobre em resultados para apresentar ao mundo. O que se realiza em Itaipu, nesse contexto, que é de alto nível e encontra respaldo na comunidade científica, surge como uma espécie de tábua de salvação para o Brasil não ficar completamente envergonhado em Glasgow.
Numa conversa sobre o momento atual de Itaipu e as perspectivas para os próximos dois anos, quando vence o acordo assinado com o Paraguai, nenhum dos dois generais aparenta ter a truculência e a falta de sofisticação intelectual que caracteriza o ex-capitão que ocupa o Palácio do Planalto. Pelo contrário, são amenos, educados, pacientes e bem-humorados, dando a entender que antigos generais e oficiais de baixa patente, em situações específicas, não são seres do mesmo Planeta, mesmo tendo a mesma formação castrense.
Ambos falam com gosto sobre as iniciativas da usina no campo da preservação ambiental, ao contrário do cidadão em Brasília que faz vista grossa para a destruição das florestas, violência contra tribos amazônicas e oferece liberdade quase que total aos garimpeiros para devastar áreas indígenas a seu bel-prazer com técnicas destrutivas e ultrapassadas de exploração mineral.
“A água limpa é essencial para ter uma produtividade elevada na usina”, diz o diretor geral brasileiro, destacando que nenhuma hidrelétrica no mundo oferece a produtividade que a binacional brasileiro-paraguaia tem. “A máquinas precisam sempre estar preparadas para o momento ótimo da geração. Nesse contexto, precisamos estar atentos, sempre, à questão da qualidade da água, razão pela qual precisamos proteger o reservatório”, disse João Francisco Ferreira.
Ele lembrou que só duas hidrelétricas, Itaipu e a chinesa Três Gargantas, conseguem passar de 50 milhões de kilowatts por ano na geração elétrica. Este ano, a binacional estará produzindo 68 milhões de MWh, contra 75 milhões no ano passado e contra o recorde de 2016, que atingiu 103 milhões. “Itaipu é muito relevante para o Brasil e o Paraguai”, comentou o diretor geral brasileiro, lembrando que, atualmente, a usina contribui com 11% do consumo brasileiro de energia elétrica, o que não é pouca coisa, considerando todas as fontes de energia. No Paraguai, esse número é altíssimo e chega a a 90%.
O general Carbonell, um oficial com origem na arma de Artilharia, a mesma do ex-capitão, explicou que a Diretoria de Coordenação centraliza os trabalhos de natureza ambiental, como controle biológico, proteção das margens e qualidade da água. “Água ruim causa problemas na geração. As estruturas inclusive podem ficar corroídas”, assinalou.
Por essa razão, a binacional toca com as prefeituras de toda a área de influência da usina, o que compreende mais de 50 municípios, um vasto programa de convênios visando à gestão das bacias hidrográficas na região. Como explicou, “as matas ciliares com 250 metros de largura servem de barreira para o nosso largo. Funcionam como uma espécie de filtro”.
Sobrevoando a região do lago de Itaipu é possível perceber com facilidade que áreas de produção agrícola se aproximam bastante das águas que abastecem a usina. Nesse contexto, segundo Carbonell, os convênios com prefeituras exigem contrapartidas para se evitar o lançamento de agrotóxicos na represa. “Todo convênio começa com a educação ambiental. O lago é a nossa caixa d´água”. É dali também que a população de Foz do Iguaçu, hoje beirando 300 mil habitantes, é abastecida com água de boa qualidade.
O diretor de Coordenação garantiu que Itaipu não tem litígios com indígenas que vivem na região e oferece apoio aos povos nativos principalmente nas áreas de saúde e educação. Sua equipe de gestão do território conta com 162 empregados, inclusive os biólogos e veterinários que cuidam de animais feridos ou que por vários motivos provocados pela insensatez humana são obrigados a deixar as áreas onde vivem.
O Refúgio Biológico Bela Vista é uma área de preservação mantida pela UHE Itaipu. Nessa mata, existe um pequeno zoológico, onde os animais são acompanhados por biólogos e veterinários e depois se estuda o que fazer com que eles. O zoo tem onça, jacarés, cobras, jaguatiricas e pássaros de grande porte como mutuns, jacutingas e até mesmo uma boa quantidade de harpias, uma belíssima ave que é o símbolo oficial do Estado do Paraná.
Irineu Motter, um engenheiro agrônomo que é gerente da Divisão de Reservatório, comanda uma equipe de 13 especialistas. Mas o serviço do setor é amplificado pela terceirização feita com institutos de pesquisa. Ele explica que já foram identificadas 220 espécies de peixes no lago de Itaipu, cujas águas têm utilização variada. Não só a geração elétrica, mas, também, o turismo e a pesca. “Neste momento, estamos no meio de um inventário para identificar peixes”, esclareceu Motter.
Segundo o diretor de Coordenação, hoje Itaipu recolhe 30 vezes mais gás carbônico do que emite. Nesse balanço ambiental altamente superavitário, a empresa binacional produz por ano 350 mil mudas de paineiras, perobas, ipês, pitangas, jabuticabas, cedros e embaúbas, entre outras árvores. Desde o início das atividades da hidrelétrica até hoje já foram plantadas 24 milhões de árvores na área em torno da usina, cujo espelho d´água compreende 135 mil hectares.
O autor viajou a Foz do Iguaçu a convite da UHE Itaipu Binacional