Modernização de Itaipu vai custar US$ 500 mi
Maurício Corrêa, de Foz do Iguaçu —
O Conselho de Administração da hidrelétrica Itaipu Binacional deverá tomar nesta sexta-feira, 29 de outubro, uma decisão estratégica das mais importantes da sua história. Espera-se que o CA homologue a escolha do consórcio formado pelo braço brasileiro da GE e duas empresas paraguaias, visando o início de um programa de atualização tecnológica de equipamentos que vai durar 14 anos e custará cerca de US$ 500 milhões.
A informação foi prestada pelo diretor geral brasileiro da UHE, João Francisco Ferreira, explicando que, como tudo que acontece na estrutura da Itaipu, também o Conselho de Administração é dividido meio a meio: seis conselheiros são indicados pelo lado brasileiro e seis pelos paraguaios. A proposta já foi aprovada pela Diretoria-Executiva e agora depende apenas do CA. Nesta quinta-feira, às 9 horas, haverá a reunião prévia do encontro do Conselho de Administração.
“Estamos falando de valores muito expressivos, mais de US$ 500 milhões. Serão necessários 14 anos para executar o programa. Mas, em 2034, Itaipu estará no top de linha entre as hidrelétricas”, disse o diretor geral brasileiro da usina.
José Benedito Mota Junior, um engenheiro eletricista formado na Universidade Federal de Itajubá (Unifei) e que ocupa o cargo de superintendente de Operação da usina, explicou que a UHE é extremamente zelosa com os aspectos relacionados com a manutenção, o que explica o fato de ter ficado vários anos sem um programa de atualização tecnológica como este que deverá ser homologado nesta sexta-feira. “Vamos trocar os controles e evoluir para a tecnologia digital, que não era usada quando a usina começou a funcionar. Nossa ideia é modernizar duas máquinas por ano”, disse.
UHE e pólo indutor de desenvolvimento
O papel da usina de Itaipu ainda precisa ser melhor estudado pelos especialista pois, afinal, trata-se de uma hidrelétrica sui generis. Ninguém duvida que a UHE é uma extraordinária obra de engenharia civil, de engenharia elétrica, de engenharia mecânica e também de diplomacia, pois a costura que permitiu a assinatura do tratado entre Brasil e Paraguai também é uma verdadeira obra de arte. Por todos esses aspectos, a UHE é reconhecidamente um motivo de orgulho para os brasileiros e não é sem razão que antes da pandemia recebeu mais de 1 milhão de visitantes num único ano.
Pode-se dizer que Itaipu é um caso peculiar entre todas as hidrelétricas brasileiras pois quem vê apenas aquela enorme muralha de concreto no rio Paraná às vezes não sabe que a binacional, além de uma usina que produz energia elétrica, também é uma espécie de agência de desenvolvimento econômico, social e cultural, contribuindo com muito dinheiro para melhorar a qualidade da vida e o bem-estar das pessoas em toda a sua área de influência, em circunstâncias que não se relacionam diretamente com a hidreletricidade.
Nas proximidades da represa, há um esqueleto de edifício que se destaca na paisagem e pode ser visto a vários quilômetros de distância. Ali deveria ser o campus da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), um sonho ideológico do PT.
O então presidente Lula tomou a iniciativa de criar a Unila, em 2007, mas a nova universidade surgiu apenas em 2010. Itaipu (que na época era um reduto petista de primeira ordem) ofereceu o terreno para o campus, para abrigar alunos não apenas brasileiros, mas, também, de países hispânicos. Embora a Unila exista como universidade em Foz do Iguaçu, o fato é que o campus dentro da área cedida pela Itaipu não foi para a frente. Dilma caiu, veio Temer, depois Bolsonaro. A concepção original de um projeto de campus da Unila dentro da área da usina micou.
O prédio ficou inacabado e agora calcula-se que sejam necessários R$ 800 milhões para terminar as obras do campus da Unila. Como o Tesouro brasileiro está quebrado, tudo indica que o esqueleto será implodido e que a Unila terá que construir o seu campus em outro lugar. Tem gente graúda na direção da Itaipu que não acha ruim se isso acontecer.
A ação de desenvolvimento econômico de Itaipu na região de influência da binacional é bastante ampla. Por exemplo: saiu da usina o dinheiro para se construir o novo aeroporto internacional de Foz do Iguaçu e para ampliar o pátio de estacionamento de aeronaves. Da mesma forma, está surgindo uma segunda ponte ligando o Brasil ao Paraguai (71% das obras já estão concluídas e a previsão é que fique pronta no segundo semestre de 2022) e a grana está saindo dos cofres da binacional.
A modernização do aeroporto foi absolutamente necessária, pois o antigo não correspondia à demanda de turistas que visitam Foz do Iguaçu. Nesse contexto, também se justifica a construção de uma segunda ponte ligando os dois países, pois a Ponte da Amizade, que liga as cidades de Foz do Iguaçu e Ciudad del Este, já deu água há muitos anos. Esse papel de Itaipu como indutor do desenvolvimento econômico regional, entretanto, é visto como uma distorção da atuação da geradora.
Para críticos do modelo atual de Itaipu, o Governo do Estado do Paraná fica numa situação muito cômoda de quando precisa de algum dinheiro para obras na região oeste pede a Itaipu. Além disso, tem um aspecto mais polêmico, que diz respeito à energia elétrica, pois o Brasil tem sido conhecido, há anos, por ser possuidor de geração barata e contas caras para os consumidores.
Hoje, a usina de Itaipu é responsável pelo atendimento de 11% do consumo brasileiro de energia elétrica. Ora, se na composição da tarifa da sua energia entram custos esquisitos como rodovias, pontes, universidades e outros penduricalhos econômicos, sociais e culturais, é lógico que tudo isso vai para a tarifa e acaba onerando os consumidores de energia elétrica espalhados pelo Brasil na hora de pagar a conta de luz.
No setor de energia elétrica, os críticos do modelo de Itaipu, que gostariam de vê-la unicamente como uma usina geradora de energia elétrica e não como uma espécie de BNDES exclusivo para o oeste do Paraná, entendem que todas essas obras que acabam inflacionando a tarifa de Itaipu deveriam ser retiradas do orçamento da UHE e ser tratadas da forma como todas as outras propostas são, ou seja, dentro do orçamento da União, seja no Ministério da Infraestrutura, seja no Ministério da Educação, de acordo com o projeto.
O próprio diretor geral brasileiro da hidrelétrica, João Francisco Ferreira, reconheceu que as relações com o Governo do Estado do Paraná são transparentes, mas que existem “várias obras que são solicitadas pelo Governo do Estado”. “Ele lembrou, entretanto, que “quem fixa a tarifa não é Itaipu. Nós fixamos o orçamento”.
O autor viajou a Foz do Iguaçu a convite da Itaipu Binacional