Neoenergia crê que o pior já passou no DF
Maurício Corrêa, de Brasília —
Ponderado como quase todo mineiro, Frederico Candian, nascido em Ubá, na Zona da Mata de Minas, contempla as telas do Centro de Operações Integradas (COI) da empresa que preside, a Neoenergia Brasília, e, com convicção, diz que o pior momento dos nove meses de concessão da distribuição de energia elétrica no Distrito Federal já passou.
“Tivemos uma herança difícil. A antiga concessionária, a CEB, não fez investimentos na rede durante muito tempo. Mas nós não podemos ficar aqui dizendo que o problema foi criado pela CEB. Os concessionários agora somos nós. Então, temos que enfrentar a situação, assumir as nossas responsabilidades, resolver os problemas que aparecem a cada dia e aperfeiçoar a comunicação com os nossos consumidores, para que eles possam entender que estamos trabalhando duro para melhorar as condições da distribuição no DF”, afirmou Candian ao site “Paranoá Energia”.
Nos últimos dias, a Neoenergia Brasília esteve no foco da fiscalização da Aneel. A agência reguladora se movimentou rapidamente quando percebeu a grande quantidade de reclamações que os consumidores estavam registrando sobre a concessionária no DF. O ponto mais agudo da crise foi o dia 27 de novembro, quando, segundo Candian, a empresa saiu da média de 150 ocorrências diárias de problemas de suprimento para um número 10 vezes mais do que isso graças a uma chuva muito forte, acompanhada de enorme quantidade de raios, que caiu no Distrito Federal naquela data. A empresa acredita que está dando a volta por cima.
Quando se olha superficialmente para a área de concessão da Neoenergia no DF, cuja gestão a empresa controlada pela espanhola Iberdrola assumiu em março deste ano, é difícil acreditar que possam existir tantos problemas. Afinal, Brasília, em distribuição, é considerada uma espécie de filé mignon, graças ao baixo nível de inadimplência quanto à área de cobertura, concentrada em áreas urbanas e com relativamente pouco atendimento em áreas rurais. No leilão de privatização, a antiga CEB também foi disputada pelos grupos CPFL e Equatorial.
Entretanto, quando se esmiúça o DF, em termos de energia elétrica, segundo o presidente da Neoenergia Brasília, essa leitura na diagonal não corresponde à realidade encontrada hoje na rede. Ele cita o exemplo do Lago Norte, uma área nobre de Brasília, que tem sido uma fonte geradora de alguns problemas de suprimento.
Um transformador localizado na subestação que abastece o Lago Norte simplesmente pifou, num problema muito semelhante ao que ocorreu recentemente no Amapá. Para ninguém ficar totalmente sem luz, a Neoenergia acoplou os consumidores da região a outro transformador na subestação mais próxima, que naturalmente ficou sobrecarregado.
Essa gambiarra acabou gerando problemas, como se esperava, pois o fornecimento de luz começou a pipocar para todos no Lago Norte. Segundo a Neoenergia, a questão já está sendo equacionada. “Um transformador desse tamanho não se encontra na prateleira para comprar. É feito sob medida e isso demora algum tempo, mas já estamos trabalhando com dedicação nessa questão, que estará brevemente superada”, explicou Candian.
Ele disse que esse tipo de transformador, cujo preço pode chegar a R$ 12 milhões, representa apenas uma parte dos R$ 160 milhões de dinheiro novo que a Neoenergia aplicou nos últimos meses na área de concessão do DF. “Para se ter uma ideia, esse valor significa três vezes mais do que a CEB investiu em 2020. Nos próximos dois anos, vamos trocar toda a frota da Neoenergia em Brasília, o que também não é pouca coisa”, acrescentou o presidente.
De fato, há muito trabalho pela frente, mesmo considerando a área territorial do Distrito Federal, que, ao se comparar com outras áreas de concessão, é relativamente pequena, com 5.800 km quadrados. Ao todo, a Neoenergia é responsável por mais de 10 mil km de rede e 41 subestações para que 3 milhões de habitantes, agrupados em 1,1 milhão de unidades consumidoras, tenham acesso a energia elétrica de qualidade.
Nesse contexto, um dos principais investimentos da concessionária é o chamado Centro de Operações Integradas (COI), no qual, utilizando telões de última geração tecnológica, a empresa acompanha em detalhes, no tempo real, tudo o que acontece na área de concessão. Esse COI não tem a mínima comparação com algo muito tímido que tinha o mesmo objetivo na época da antiga CEB Distribuição.
Hoje, 50 técnicos qualificados operam em regime de 24 horas, distribuídos em três turnos. No COI, a Neoenergia tem informação sobre tudo o que está acontecendo na região de Brasília e cidades-satélites: se está chovendo, o quanto está chovendo, em que região cai a chuva, se os fenômenos climáticos estão interferindo no serviço de energia elétrica e em que região. Eventuais problemas aparecem na hora, nos telões.
Dois indicadores vitais para qualquer distribuição, que medem as interrupções do suprimento e a frequência com que isso ocorre (o DEC e o FEC) são apontados com destaque nos telões, em tempo real. Constatadas as eventuais falhas, as equipes técnicas de manutenção, previamente distribuídas pela área de concessão, são então acionadas para tentar resolver os problemas. É uma logística que requer não apenas organização, mas, sobretudo, capacidade técnica para conhecer a geografia do Distrito Federal e não deixar faltar energia elétrica.
“Temos sofrido alguns problemas, é preciso reconhecer, mas também é preciso dizer que, durante todo o tempo, 99,9% dos nossos consumidores têm tido energia elétrica sem interrupção”, explicou Candian. No seu plano de investimentos, a Neoenergia garante que não tem poupado para que o consumidor seja bem atendido. Muitos equipamentos estão sendo trazidos para Brasília inclusive por via área.
Outra preocupação é com a mão de obra. Logo após a entrevista com o “Paranoá Energia”, Frederico Candian teve que praticamente correr para a solenidade de formatura das duas primeiras turmas da Escola de Eletricistas da Neoenergia Brasília, realizada no auditório do Senai, na cidade-satélite de Taguatinga. Desde o mês de agosto, 45 novos profissionais, 19 mulheres e 26 homens, participaram do curso gratuito de capacitação em redes de distribuição de energia elétrica no Distrito Federal. E, após 480 horas de disciplinas teóricas e práticas ministradas em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai/DF), todos os profissionais passaram a integrar o quadro próprio de colaboradores da distribuidora.
Essas são as duas primeiras turmas formadas pela Escola de Eletricistas Neoenergia Brasília. Mais um grupo concluirá o curso em fevereiro de 2022, quando a companhia formará mais 25 profissionais. No próximo ano está prevista a formação de mais 50 novos eletricistas em duas novas turmas que se iniciam nos meses de janeiro e de junho.
A Escola de Eletricistas é realizada pelas distribuidoras do grupo Neoenergia desde 2019 e já capacitou 4.301 alunos nos estados da Bahia, de Pernambuco, do Rio Grande do Norte, de São Paulo e, agora, do Distrito Federal. Desse total, 3.090 profissionais foram contratados pelas empresas do grupo. Em 2019, a Neoenergia promoveu uma iniciativa pioneira ao criar as primeiras turmas exclusivamente para mulheres, a fim de promover a diversidade e a inclusão. Em 2020 estima-se a abertura de mais 19 turmas em todo Brasil.
Com mais de 20 anos de carreira dentro do Grupo Neoenergia, Frederico Candian se formou na Universidade Federal de Juiz de Fora, que é um núcleo respeitado no ensino de Engenharia Elétrica em todo o País. Ele iniciou a sua trajetória como trainee na Elektro, no interior de São Paulo, em 2000. Sua última função antes de assumir a presidência da Neoenergia em Brasília era de diretor de Processos e Tecnologia de Redes da Neoenergia.
“Temos um plano de investimentos robusto para o Distrito Federal, que é uma região estratégica para o País, dada a sua condição de Capital Federal. E vamos capacitar a nossa estrutura para que ela ajude a impulsionar essa capacidade de atração para estimular o desenvolvimento regional”, afirmou.