Fim da crise hídrica entra na conta da política
Maurício Corrêa, de Brasília (com apoio do ONS) —
Prudência e caldo de galinha não fazem mal a ninguém ensina o ditado popular. Isso também vale para o setor elétrico, cujas autoridades ainda não admitem que a crise hídrica está nos finalmentes. Entretanto, os dados divulgados pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) mostram que a mais destrutiva falta de água no Brasil, em quase 100 anos, aparentemente chegou ao fim. O MME vai apenas esperar os números das chuvas e do consequente armazenamento nas hidrelétricas do Sudeste, nas próximas semanas, para oficialmente decretar que a crise hídrica finalmente terminou, depois de meses de tensão e sofrimento, com risco de apagão e uso intenso de energia térmica, a qual contribuiu para detonar os bolsos de milhões de brasileiros.
Nesta sexta-feira, segundo o ONS, foram registradas afluências acima da Média de Longo Termo (MLT) em três subsistemas para a semana operativa que vai desta sexta-feira, 05 de fevereiro até o dia 11 deste mês. As informações constam do boletim do Programa Mensal de Operação (PMO). O Nordeste tem expectativa de atingir o maior volume entre as regiões, com 186% da MLT, seguido do Norte com 123% e do Sudeste/Centro-Oeste, com 117%. No mesmo período de tempo, a projeção para a região Sul indica 46% da MLT. Traduzindo o jargão do ONS para a língua portuguesa, esses números dizem que está chegando água em grande quantidade às usinas, muito acima da média histórica.
A recuperação dos reservatórios é evidente e não é sem razão que as autoridades do setor elétrico reencontraram, enfim, motivos para gargallhar. Uma das primeiras coisas que se aprende nas escolas de Engenharia Elétrica é que as chuvas em grande quantidade sempre são muito bem-vindas em um país de características predominantemente hídricas como o Brasil. É verdade que tem o lado negativo, com a destruição de lavouras e de cidades, dezenas de mortes das populações que vivem em condições precárias, interrupção de estradas, etc. Mas, vendo o lado bom da coisa ruim, qualquer estudante de Engenharia Elétrica em início de curso sabe que chuvas em grande quantidade, como se registraram no Brasil nas últimas semanas, representam energia mais barata para os consumidores. E isso é um alívio para os políticos, em ano eleitoral.
De acordo com o ONS, até o fim do mês as hidrelétricas deverão atingir 79,4%, no Nordeste; 70,3%, no Norte; 58,4%, no Sudeste/Centro-Oeste. No Sul, que, ao contrário, está mergulhado na fase seca, as hidrelétricas armazenam 34,7%. No Sul, a falta de água castiga severamente a agricultura, com perspectivas de quebras históricas nas safras de soja e milho, principalmente, mas, em termos de energia elétrica, esse percentual de armazenamento dos reservatórios da região Sul ainda é bastante satisfatório. Segundo o ONS, os percentuais atuais indicados para os subsistemas Sudeste/Centro e Sul são melhores dos que os apresentados na semana passada, que eram de 54% e 32,3% nas duas regiões, respectivamente.
O boletim do Operador traz, ainda, as projeções para a carga de energia do Sistema Interligado Nacional (SIN). Segundo o documento, fevereiro termina com variação positiva de 2,1% em relação ao mesmo mês do ano passado, com 74.513 MW médios no total.
Para o Operador Nacional do Sistema Elétrico, as condições sanitárias estão impactando o setor elétrico, na medida em que as novas ondas de Covid-19 registradas em outros países produzem impactos no quadro econômico brasileiro. Por exemplo: reduziram as vendas internacionais, refletindo na quantidade de postos de trabalho. “No entanto, apesar dos resultados mais recentes estarem indicando que os custos de insumos e a inflação da produção continuam aumentando substancialmente, as pressões inflacionárias diminuíram em janeiro e as taxas de inflação recuaram ao nível mais baixo em 19 meses”, entende o ONS.
Nesse contexto, o subsistema Sul tem alta de 6,9% e 14.111 MW médios. Em seguida, destaque para o Norte com crescimento de 3,1% e 5.907 MW médios. O Sudeste/Centro-Oeste apresenta estimativa de avanço de 1,2% e 42.850 MW médios. O Nordeste poderá ter recuo de 0,6% e 11.645 MW médios.