Tradener vai gerar 200 MW no final de 2022
Maurício Corrêa, de Brasília —
Quando, ainda na década de 90, o engenheiro hidrólogo Walfrido Ávila deixou seu emprego numa empresa pública paranaense para gerir uma empresa privada, recém-criada para atuar no então incipiente mercado livre de energia elétrica, sabia das incertezas e oportunidades que se abriam com a pretendida modernização do setor elétrico brasileiro, mas não poderia ter imaginado a grandeza dos desafios que viria a enfrentar.
Quase 25 anos depois, a Tradener, primeira comercializadora brasileira de energia elétrica, transformou-se no embrião de um grupo empresarial que cresceu discretamente e hoje ocupa posições significativas não só no mercado livre, mas, também, em vários segmentos da geração, na exportação de energia elétrica para países do Cone Sul, e agora dá passos firmes na produção de gás natural.
Embora evite falar em resultados financeiros, pois não é uma empresa de capital aberto, as atividades atuais do grupo Tradener dão uma ideia do porte alcançado.
Hoje, a área de geração hidráulica da empresa toca simultaneamente a construção de duas Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH´s) no rio São Bartolomeu, em Goiás. Na PCH Gameleira, o rio já foi desviado e em meados do segundo semestre deste ano a usina já estará em fase de produção. Para a outra PCH, a São Bartolomeu, o rio será desviado ainda no mês de julho.
“Qualquer pessoa que já construiu alguma coisa na vida sabe que não é fácil levantar duas usinas hidrelétricas ao mesmo tempo. Mas temos uma equipe dedicada e junto com as empresas contratadas estamos construindo a Gameleira e São Bartolomeu. Ambas ficarão prontas antes do prazo e nós, da Tradener, avaliamos esse resultado com muito orgulho”, disse Ávila ao site “Paranoá Energia”.
No mesmo rio, em Goiás (região de Luziânia e Cristalina), quando prontas, a Tradener possuirá quatro hidrelétricas em sequência. A PCH Tamboril (15 MW) foi inaugurada no final de 2020 e está operando normalmente. Gameleira (14 MW) e São Bartolomeu (12 MW) estão em fase final de obras e a próxima a entrar no foco é a PCH Salgado, cujo projeto prevê capacidade instalada de 16 MW. Só para estas três últimas PCH´s, o orçamento gira em torno de R$ 500 milhões.
Ele lembrou que o estado de Goiás se destaca na Federação, pois conta com servidores dotados de visão moderna e muito conscientes quanto ao fato que projetos de PCH´s não são agressivos para a natureza. “Nossas licenças ambientais foram obtidas em prazos mais reduzidos do que em outros estados, e temos a plena convicção que o exemplo de Goiás deveria ser amplificado, melhorando e agilizando os processos de licenciamento”, esclareceu.
No Paraná, berço onde nasceu a Tradener, o grupo empresarial está concluindo a construção de uma usina térmica com capacidade instalada de 9 MW, no município de Pitanga, no centro do estado. Para esta obra, o projeto da UTE foi liberado com a chamada licença monofásica, que abrange separadamente as fases de instalação, construção e operação e leva muito mais tempo para ser obtida.
“O atraso na obtenção das licenças foi preocupante, mas corremos com o projeto e, depois de apenas dois meses de trabalho incessante, colocamos a térmica em condições de operar”, disse Walfrido Ávila.
Nessa térmica de Pitanga, construída ao lado de uma subestação da Copel, o combustível a ser utilizado nas sete máquinas geradoras (mais uma de reserva) será o gás natural vindo de um poço pertencente à Barra Bonita Óleo e Gás, outra empresa da estrutura societária nascida com a Tradener.
O gás natural será transportado por caminhões até a térmica para alimentar os motores, e uma ligação subterrânea levará a energia gerada para a subestação da Copel, na qual a UTE está conectada na rede de baixa tensão da concessionária paranaense.
O poço de gás foi adquirido numa licitação da ANP, em 2013, e a partir de então foi recuperado, após várias décadas em desuso. Ele fica na localidade de Barra Bonita, um distrito de Pitanga, distante cerca de 20 km da usina térmica.
“Usaremos apenas 10% da capacidade de extração de GN do poço para aproveitar a localização estratégica do projeto. O gás é um produto nobre, que será destinado quase que totalmente às empresas da região, melhorando os processos industriais, ou para a própria cidade, conforme o interesse da distribuidora”, acrescentou Ávila.
A alimentação das máquinas geradoras com gás natural, nesse projeto de Pitanga, requer uma logística especial. A Tradener alugou veículos especiais (são quatro cavalos e oito carretas) para fazer o transporte do GN que, quando chega na térmica, é naturalmente transferido pela pressão, dos caminhões para as máquinas.
Além da comercializadora, que atualmente exporta cerca de 1,3 mil MW para a Argentina; do braço de geração hidráulica; da térmica de Pitanga; e do poço de gás natural de Barra Bonita, o grupo Tradener hoje tem geração eólica e solar, somando 140 MW, que vão virar 200 MW de capacidade instalada até o final deste ano, com a conclusão dos projetos hidráulicos em andamento.
Ou seja, em pouco mais de 20 anos a comercializadora deu origem a um grupo empresarial sólido e multi-segmentado, com 200 MW de capacidade instalada e planos para instalar outros 200 MW nos próximos cinco anos.
“É muito trabalho, é lógico. Mas todos nós, da Tradener, estamos envolvidos intensamente nesse objetivo. O Brasil é um País que precisa de investimentos em infraestrutura, para gerar empregos e renda. Também é um País que sempre precisará de energia nova, pois o Brasil está permanentemente vocacionado para o crescimento econômico, independentemente do momento político que esteja atravessando. Então, estamos dando a nossa contribuição. Além disso, nossos projetos se enquadram nas melhores normas de preservação do meio ambiente, ao ponto de podermos, inclusive, oferecer a nossos clientes certificados de consumo de energia renovável”, afirmou o empresário.