AIE alerta Europa para reduzir consumo de gás
A Europa precisa reduzir significativamente seu consumo de gás natural nos próximos meses para se preparar para o que provavelmente será “um longo e duro inverno”, segundo avaliação do diretor executivo da Agência Internacional de Energia (AIE), Fatih Birol.
Em texto divulgado nesta segunda-feira sobre ações que a Europa precisa tomar para evitar um grande déficit de gás durante o inverno deste ano, Birol disse que a União Europeia (UE) fez avanços no sentido de reduzir sua dependência em relação ao gás da Rússia, mas ressaltou que o fornecimento futuro de Moscou continua incerto e que não é possível descartar um corte total da oferta russa.
Citando análise da AIE, Birol afirmou que a Europa precisa economizar mais 12 bilhões de metros cúbicos de gás nos próximos três meses.
De acordo com Birol, os tanques de armazenamento de gás da Europa precisam estar mais de 90% cheios para a eventualidade de a Rússia cortar o fornecimento para a região no início da “temporada de aquecimento” do inverno, a partir de outubro. “E mesmo assim, (a Europa) poderá enfrentar cortes na segunda parte da temporada de aquecimento”, alertou Birol, acrescentando, porém, que atingir um grau de estocagem de 90% ainda é possível, desde que os europeus “ajam de imediato”.
Pressão sobre Azerbaijão
Nesta segunda-feira (18) em Baku, capital do Arzerbaijão, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e a comissária para Energia, Kadri Simson, reuniram-se com o presidente do país, Ilham Aliyev, e o ministro da Energia, Parviz Shahvbazove, para reforçar a cooperação existente entre a União Europeia (UE) e o Azerbaijão. Os presidentes assinaram um novo memorando de entendimento sobre uma Parceria Estratégica no Campo da Energia.
Atualmente, a UE e o Azerbaijão negociam um acordo abrangente, que permitirá uma cooperação reforçada em diversas áreas, incluindo a diversificação econômica, o investimento, o comércio e a plena utilização do potencial da sociedade civil.
“Com este novo memorando, estamos abrindo um novo capítulo em nossa cooperação energética com o Azerbaijão, um parceiro fundamental em nossos esforços para nos afastarmos dos combustíveis fósseis russos. Procuramos reforçar a parceria existente, que garante um abastecimento de gás estável e negociável à UE através do Corredor de Gás Meridional. Também lançamos as bases de uma parceria de longo prazo em eficiência energética e energia limpa, enquanto perseguimos os objetivos do Acordo de Paris. Mas a energia é apenas uma das áreas em que podemos aprimorar nossa cooperação com o Azerbaijão e estou ansioso para explorar todo o potencial de nosso relacionamento”, disse a Von der Leyen.
O novo memorando para uma parceria estratégica em energia inclui o compromisso de duplicar a capacidade do Corredor de Gás Meridional, para entregar anualmente à UE pelo menos 20 bilhões de metros cúbicos até 2027.
Consequências econômicas da falta de GN
À medida em que se aproxima o prazo para a Rússia retomar o fornecimento de gás natural para a Alemanha nesta semana, autoridades e executivos europeus estão cada vez mais preocupados com as consequências econômicas em cascata que se espalhariam por todo o continente se Moscou mantivesse a torneira fechada.
O gasoduto Nord Stream, que transporta gás da Sibéria para a Alemanha, fechou na segunda-feira (11) passada para manutenção anual que deve durar dez dias. Muitos no Ocidente temem que Moscou possa prolongar o fechamento, possivelmente permanentemente, e privar a Alemanha, potência industrial da Europa, de um ingrediente-chave para suas fábricas e de seus vizinhos. De acordo com o cronograma anual de manutenção, o Nord Stream volta a funcionar na próxima quinta-feira, 21, o que significa que o fluxo de gás deve ser retomado no dia seguinte.
A Alemanha é altamente dependente do gás russo e também atua como um centro de trânsito para o gás com destino à Áustria, República Tcheca e Ucrânia. A indústria alemã também produz matérias-primas e componentes, de vidro a plásticos e outros produtos químicos, que são cruciais para outros fabricantes em toda a Europa e além.
Por uma série de razões, a Rússia já parou de fornecer gás para a França, Polônia, Bulgária, Finlândia, Dinamarca e Holanda. Recentemente, reduziu os suprimentos para a Alemanha e a Itália, culpando as sanções ocidentais pelos cortes. Se o Nord Stream permanecer vazio após quinta-feira, Berlim disse que declarará estado de emergência, usando nova legislação para assumir o controle do mercado de energia. E se o corte resultar em escassez de gás, pode racionar o combustível.
Berlim insiste que não cortará as exportações para seus vizinhos Os países da UE têm acordos – um deles chamado de diretiva SOS – projetados para impedir que uma nação acumule combustível em tal cenário, e a Alemanha prometeu solidariedade a vários vizinhos se o gás russo parar de fluir.
Os fabricantes europeus de indústrias famintas por gás estão mudando para combustíveis alternativos, como petróleo e carvão, sempre que possível, e estocando produtos químicos e outros ingredientes cruciais antes do inverno, quando o gás está em maior demanda, segundo autoridades comerciais e comerciais. Mas esses passos vão apenas até certo ponto. Executivos do setor e economistas dizem que uma escassez de gás grave o suficiente para forçar o racionamento em qualquer país europeu – especialmente na Alemanha, a maior economia do bloco – seria inevitavelmente sentida em todo o continente.
Tal evento interromperia as cadeias de suprimentos pan-europeias, particularmente no setor petroquímico, que depende de gás e petróleo como matéria-prima, disse Günther Oettinger, ex-comissário de energia da UE e político alemão. A produção de aço, cobre e cerâmica também seria severamente afetada. A legislação alemã dá prioridade a residências e instituições, como hospitais, no fornecimento de gás, tornando mais provável que a indústria seja a primeira a enfrentar o racionamento em caso de escassez. Dada a forte integração da economia do continente, tal movimento se espalharia rapidamente.