Secretário-executivo faz falta no MME
Maurício Corrêa, de Brasília —
Há praticamente dois meses o Ministério de Minas e Energia sobrevive com dificuldades sem um secretário-executivo e outros nomes na estrutura da Pasta. Acredita-se que o nome tão aguardado para a Secex esteja para sair, embora também já estivesse há um mês atrás.
Ninguém sabe dizer exatamente porque o Governo demora tanto em tomar uma decisão, que, afinal, não é tão difícil assim. Existem bons nomes na praça, que, se convidados, provavelmente aceitariam a missão. Trabalhar no Governo sempre é um bom aprendizado e enriquece o currículo de qualquer um.
Com essa lentidão na tomada de decisão, o Governo talvez não esteja percebendo que pode estar criando um problema para ele mesmo, que é a reversão das expectativas.
Como ninguém foi indicado em dois meses, criou-se naturalmente uma expectativa muito grande em relação ao nome que um dia será oficializado. Será fulano? Será beltrano? Será o Zé das Couves?
A especulação come solta e com toda razão, pois quando se olha para o currículo do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, observa-se que ele precisa com rapidez de um bom secretário-executivo que entenda tecnicamente a respeito dos assuntos que circulam no MME e possa carregar o piano.
Todo mundo que de alguma forma acompanha o ambiente do MME está na expectativa de um grande nome para ocupar a Secretaria-Executiva. Caso contrário, não justificaria tanta demora. Esse é justamente o grande risco do Governo, pois o nome, em vez de euforia, pode gerar um anti-clímax, como já é o próprio MME, hoje. Dois meses depois de iniciado o Governo, a Pasta não tem muito o que mostrar.
O ministro Adolfo Sachsida, que não era do ramo, mas sabia exatamente qual era o papel da energia na economia brasileira, chegou ao final do Governo trabalhando como poucos e gerando muita informação. Sachsida, que teve apenas sete meses de gestão, limitou-se a encontrar uma linha de trabalho e simplesmente foi em frente, sempre na defesa dos interesses dos consumidores de energia elétrica, gás natural ou combustíveis.
Trocou o titular da Secex por um nome de sua confiança e o trabalho conjunto rendeu. É possível que nenhum outro ministro tenha tido tanta preocupação com o bolso dos consumidores quanto Sachsida. Deixou a sua marca no MME e foi uma boa marca. E isso no meio de um Governo caótico como foi o período Bolsonaro.
Com o novo Governo, havia toda a expectativa de uma gestão igualmente marcante. Foi e está sendo um verdadeiro anti-clímax, pois em dois meses o MME e o ministro Silveira desapareceram. O Governo desmontou todo o trabalho que existia e se perdeu totalmente pois não conseguiu reconstruir até este momento.
O MME, infelizmente, não sabe para onde vai, não tem visão estratégica. Está perdido no tempo e no espaço. É por isso que a escolha do secretário-executivo pode aprofundar essa crise, dependendo do nome que será finalmente oficializado.
Parafraseando Drummond, até porque Alexandre Silveira é daquela região, pode-se dizer que o MME é uma fotografia na parede, mas como dói. O ministério já teve ao longo de sua história grandes nomes na Secretaria-Geral (que depois mudou de nome e agora é Secretaria-Executiva).
Shigeaki Ueki, por exemplo, teve como principal auxiliar o professor Arnaldo Barbalho, que presidiu a Celpe, a Chesf e a Eletrobras. O secretário-geral de Aureliano Chaves foi Guy Maria Villela Paschoal, que fez carreira na Cemig e ocupou a presidência da estatal mineira. Depois dele, o ministro Raimundo Brito trabalhou com um ex-presidente da Coelba, José Luiz Perez Garrido, como secretário-geral.
Já no Governo Itamar, o então ministro Paulino Cícero teve como Secex Delcídio Amaral, que mais tarde se envolveu em confusões de natureza política, mas que durante anos fez carreira no Sistema Eletrobras.
O que este site está querendo dizer é que é preciso ter muita atenção no nome que será indicado para Secex do ministro Alexandre Silveira. Se for o Zé das Couves, acabou a carreira do ministro. Tem que ser alguém que não possa ser apenas um pouco competente. Tem que ser muuuiitttto competente.
Não se trata apenas de um nome, afinal. É preciso mudar a política energética do PT. Percebe-se com facilidade que Alexandre Silveira é totalmente tutelado pelo PT, embora seja de outro partido da coalizão partidária que dá suporte ao Governo. Na área de energia, ninguém duvida que o atual ministro está sendo praticamente humilhado pelo partido majoritário do Governo, mas este é o preço que se paga na política.
Ter um tapete vermelho é ótimo. E também ter jatinho da FAB à disposição e ser chamado de Excelência. Tudo isso deve ser muito bom. Quem não quer? Até este editor, que é bobo, quer. O problema é que é preciso mostrar serviço de qualidade. Ainda tem tempo para corrigir o rumo, mas o fato é que nesse quesito a nota de Silveira é muito baixa. Por enquanto, no boletim só tem no máximo MM. Precisará fazer muito esforço para passar de ano.