Iema mostra concentração de UTEs poluidoras
Da Redação, de Brasília (com apoio do Iema) —
As 72 usinas termelétricas fósseis conectadas ao Sistema Interligado Nacional (SIN) emitiram 19,5 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2e) em 2022, de acordo com o “3º Inventário de emissões atmosféricas em usinas termelétricas”, lançado nesta quinta-feira, 19 de outubro, pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema). As térmicas pertencentes à Petrobras (22%), Eletrobras (21%), Fram Capital (20%) e Eneva “(11%) foram responsáveis por quase 75% das emissões de poluentes no período avaliado.
Segundo o Iema, no ano passado, toda a geração termelétrica fóssil brasileira voltou a representar os mesmos 10% da geração de eletricidade na matriz elétrica de 20 anos atrás. Essa redução é reflexo de um período de condições climáticas favoráveis à geração hidrelétrica após a crise hídrica, além do crescimento de outras fontes renováveis (eólica e solar). Independente desses dados aparentemente favoráveis, a tendência é de aumento de emissões por usinas fósseis no médio prazo. O estudo está disponível na íntegra em: https://energiaeambiente.org.br/produto_tipo/publicacoes.
“A redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) aconteceu porque as condições climáticas favoreceram o acionamento de hidrelétricas. No entanto, como vimos em anos anteriores, períodos de maior ou menor volume de chuvas poderão se alternar no futuro, tornando incerta a continuidade dessa redução de emissões apenas como resultado de condições favoráveis à geração hidrelétrica”, ressalta Felipe Barcellos e Silva, um dos autores do estudo.
A geração termelétrica proveniente do conjunto das usinas inventariadas totalizou 31,1 TWh em 2022. Em 2021, esse valor foi de 95,7 TWh, ou seja, houve uma queda de 67%. “Apesar dessa redução, a demanda nacional por energia elétrica cresceu 3% de 2021 para 2022”, conta Raissa Gomes, uma das autoras da pesquisa.
Ela destacou que, além da melhora dos reservatórios, que possibilitou a diminuição na geração termelétrica, as usinas eólicas e solares também geraram o suficiente para suprir o aumento da demanda. “Ano passado, a geração eólica ultrapassou pela primeira vez a geração termelétrica fóssil e a geração solar teve um aumento de 80% em comparação ao ano de 2021”.
Nesse cenário de diminuição expressiva na geração fóssil em favorecimento de fontes renováveis, o Sistema Interligado Nacional (SIN) como um todo — hidrelétricas, eólicas, solares e termelétricas nucleares, renováveis e fósseis —, apresentou uma queda significativa em sua taxa de emissão global, que variou de 92 tCO2e/ GWh em 2021 para quase um terço disso em 2022 (32 tCO2e/ GWh).
O estudo representa também uma radiografia da energia termelétrica no Brasil. E mostrou que 23,3 TWh – terawatt-hora, unidade de medida da energia equivalente a mil gigawatt-hora – foram produzidos a partir do gás natural (41 plantas), o que corresponde a 75% do total inventariado. Segundo em participação, o carvão mineral foi responsável pela geração de 6,9 TWh, representando 22% da produção de eletricidade fóssil. O aumento proporcional do emprego de termelétricas a carvão ocasionou uma elevação de 9% na taxa de emissão média inventariada, passando de 582 tCO2e/ GWh em 2021 para 637 tCO2e/ GWh em 2022.
As quatro usinas que mais emitiram GEE em 2022 foram movidas a carvão mineral e estão localizadas no Sul do país. O destaque vai para Candiota III (RS) que, apesar de ter sido a quinta maior geradora em 2022, foi a maior emissora, responsável por 12% das emissões de todo o parque termelétrico estudado.
Sul em primeiro lugar
O subsistema Sul foi o maior emissor de GEE de 2022, com 40% do total de emissões (7,9 milhões de tCO2e). Isso ocorreu, principalmente, devido à geração termelétrica nos municípios de Capivari de Baixo (20%), em Santa Catarina, e Candiota (19%), no Rio Grande do Sul, sedes de usinas a carvão mineral. Mesmo tendo o menor número de termelétricas, o Sul ultrapassou o subsistema Sudeste/ Centro-Oeste em emissões. Este foi responsável pela emissão de 5,2 milhões de toneladas de GEE (26% do total).
As emissões de Capivari de Baixo (SC), Candiota (RS), Manaus (AM), Santo Antônio dos Lopes (MA) e Duque de Caxias (RJ) representam quase 70% do total inventariado. No Amazonas, Manaus tem as usinas que operam com mais capacidade devido a suas características contratuais. Mesmo com a queda relatada de geração de energia elétrica fóssil, as termelétricas do município funcionaram a 57% de sua capacidade máxima, enquanto, na média, as usinas do SIN operaram a 15% de sua capacidade.
No Maranhão, a cidade de Santo Antônio dos Lopes se destaca com o conjunto Termelétrico Parnaíba, que adicionou 365 MW de potência por meio da inauguração de uma turbina a vapor em 2022. Já Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, conta com a usina Termorio, a maior geradora de energia elétrica fóssil no ano passado.
Empresas mais emissoras
Apesar de haver uma quantidade relativamente grande de empresas geradoras de energia elétrica fóssil (39), quase 75% das emissões inventariadas em 2022 foi de responsabilidade de apenas quatro empresas: Petrobras (22%), Eletrobras (21%), Fram Capital Energy (20%) e Eneva (11%). Na sequência, para completar a lista das dez empresas mais emissoras, estão: Engie (7%), Ceiba Energy (3%), Électricité de France – EDF (3%), Termo Norte Energia (2%). J&F Investimentos (2%) e BTG Pactual (2%).
Vale ressaltar que a Petrobras, uma das maiores geradoras de energia elétrica fóssil no Brasil, apresenta uma taxa de emissão menor que a média das empresas inventariadas. Isso se deve, principalmente, à eficiência das tecnologias empregadas em suas termelétricas. Usinas mais eficientes queimam menos combustível e, consequentemente, emitem menos gases de efeito estufa por gigawatt-hora (GWh) produzido. “Além da tecnologia de conversão energética (ciclo de potência), a eficiência de uma usina também é afetada pelas condições de manutenção e pela sua idade”, explica André Luis Ferreira, diretor-executivo do Iema.
A Engie, por outro lado, foi a empresa que liderou as emissões de GEE por eletricidade gerada com 1.156 tCO2e/GWh — quase o dobro da média observada (637 tCO2e/GWh). Em 2022, ela era acionista da Pampa Sul, usina que se destaca negativamente por sua alta intensidade de emissão. Entretanto, em junho de 2023, a Engie concluiu a venda dessa planta para um fundo de investimentos gerido pelas companhias Starboard e Perfin.