Para Copom há mais riscos na inflação
A ata do mais recente encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, divulgada nesta terça-feira, 06 de agosto, traz uma avaliação unânime dos integrantes do colegiado de que há mais riscos para cima na inflação, com vários membros ressaltando a assimetria do balanço de riscos. Na última semana, o Copom optou por manter a Selic em 10,50% ao ano.
O Comitê destacou que há fatores de riscos para a inflação em ambas as direções, mas enfatizou os pontos que pressionam para a alta. “O Comitê avalia que a condução da política monetária é um fator fundamental para a reancoragem das expectativas e continuará tomando decisões que salvaguardem a credibilidade e, consequentemente, reduzam o custo da desinflação. O Comitê não se furtará ao seu compromisso com o atingimento da meta de inflação e entende o papel fundamental das expectativas na dinâmica da inflação”, afirma a ata.
Os riscos para o cenário inflacionário são a desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado, a maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado e a conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário. Neste caso, foi citado como exemplo uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada – o que tem ocorrido no Brasil
Já para os riscos de baixa, o Copom mencionou a desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada e impactos mais fortes que os esperados do aperto monetário sobre a desinflação global.
Crédito
A ata avalia também que o ciclo de crédito segue benigno e que há expansão em volume e redução de taxas na maior parte das linhas. O documento justifica a manutenção da Selic em 10,50% ao ano.
“No entanto, novamente, alguns membros ressaltaram que a recente elevação nas taxas de maior prazo pode levar a um menor dinamismo no mercado de crédito. Por outro lado, as captações no mercado de capitais seguem fortes. Tais membros enfatizaram a importância dos vértices mais longos na curva de juros na determinação da oferta e da demanda de crédito”, diz a ata.
A ata do mais recente encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que manteve a Selic em 10,50% ao ano destacou que há surpresas com os dados de mercado de trabalho e atividade econômica, sobretudo o consumo das famílias, que estão divergindo do cenário de desaceleração previsto.
Cenário externo
“Além disso, houve nova elevação das projeções de inflação para o horizonte relevante de política monetária, não obstante nova elevação na trajetória da taxa Selic extraída da pesquisa Focus. De forma análoga, as expectativas de inflação apresentaram desancoragem adicional desde a reunião anterior”, pondera a ata, divulgada na manhã desta terça-feira.
O documento pontua que o cenário externo se mantém adverso, citando a incerteza sobre os impactos e a extensão da flexibilização monetária nos Estados Unidos.
“O Comitê avalia que as conjunturas doméstica e internacional exigem ainda maior cautela na condução da política monetária. Em particular, os impactos inflacionários decorrentes dos movimentos das variáveis de mercado e das expectativas de inflação, caso esses se mostrem persistentes, corroboram a necessidade de maior vigilância”, diz a ata.
A ata do mais recente encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, divulgada nesta terça-feira, 6, destaca que os movimentos recentes de alguns dos condicionantes para a dinâmica de inflação, incluindo a taxa de câmbio e as expectativas, foram amplamente debatidos. O documento enfatiza que esses movimentos, se persistentes, serão devidamente incorporados pelo colegiado em seu cenário.
“Observou-se que, se tais movimentos se mostrarem persistentes, os impactos inflacionários decorrentes podem ser relevantes e serão devidamente incorporados pelo Comitê. Em função disso, o Comitê avaliou que o momento é de acompanhamento diligente dos condicionantes da inflação e de maior vigilância perante um cenário mais desafiador”, diz a ata.
Projeções
A ata do último encontro do Copom seguiu o comunicado da decisão de manter a Selic em 10,50% ao ano e passou a trazer as projeções da instituição para o primeiro trimestre de 2026, que é o horizonte relevante atual para a política monetária, segundo o colegiado. De acordo com a autarquia, a estimativa está em 3,4% no cenário de referência e em 3,2% no cenário alternativo do período.
O BC também indicou que a projeção para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no cenário de referência para o ano calendário de 2024, está em 4,2% e para 2025, em 3,6%, também conforme constava do documento divulgado na última quarta-feira, 31.
A meta de inflação é de 3,0% para este ano, levando-se em conta o ano-calendário. A partir de 1º de janeiro de 2025, entra em vigor a nova sistemática de apuração, de meta contínua, estabelecida pelo decreto 12.079/2024, cujo objetivo também é de 3,0%.
No cenário de referência, a trajetória para a taxa de juros é extraída da Pesquisa Focus e a de câmbio partiu de R$ 5,55 por dólar, conforme o comunicado do Copom, evoluindo segundo a Paridade do Poder de Compra (PPC). As expectativas da Focus usadas na reunião passada foram de 4,1% para 2024 e de 4,0% para 2025. Ainda neste cenário, as projeções para a inflação de preços administrados estão em 5,0% para este ano e em 4,0% para o próximo – ante 4,4% e 4,0%, respectivamente, do encontro anterior.
Já no cenário alternativo, que o colegiado voltou a usar desde a reunião de junho, as previsões do BC são de 4,2% para a inflação de 2024 e de 3,4% para a de 2025. Neste caso, a Selic é mantida constante ao longo do horizonte relevante.
O Comitê informou ainda no comunicado, e agora na ata, que em ambos os cenários o preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passa a aumentar 2% ao ano posteriormente. Além disso, o Copom adotou a hipótese de bandeira tarifária “verde” em dezembro de 2024 e de 2025.
Próxima reunião
No comunicado e na ata, o Copom não indicou qual será o ritmo de corte de juros na próxima reunião, marcada para os dias 17 e 18 de setembro.
A ata volta a destacar o cenário externo adverso, com a incerteza sobre impactos e extensão da flexibilização da política monetária nos Estados Unidos.
No cenário doméstico, voltaram a surpreender o mercado de trabalho e a atividade econômica, em particular o consumo das famílias, por divergirem do cenário de desaceleração previsto. Mas a nova elevação das projeções de inflação para o horizonte relevante de política monetária, apesar dos juros, e a desancoragem adicional das expectativas de inflação desde a reunião anterior são fatores de atenção.