ONS alerta: há geração, mas falta potência
Da Redação, de Brasília (com apoio do ONS) —
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) faz uma avaliação positiva da gestão do Sistema Interligado Nacional (SIN) em 2024. O período foi marcado pela mais severa estiagem em 70 anos, de acordo com dados do Cemaden, fato que gerou desafios adicionais na operação do setor elétrico brasileiro. O ONS adotou iniciativas, em conjunto com o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), que permitiram manter o pleno atendimento das demandas da sociedade.
“O ano de 2024 foi desafiador. No entanto, estamos chegando ao final dele com uma condição de armazenamento adequada para atendimento do Sistema. O período úmido teve início dentro da normalidade e com chuvas nas cabeceiras de bacias essenciais para o SIN. Tivemos que lidar com extremos em 2024: fomos da enchente no Rio Grande do Sul, onde perdemos, de início, mais de 40 ativos da rede do SIN no estado, a uma estiagem severa, em especial na região Norte, onde foram registradas mínimas históricas. A agilidade do ONS em propor medidas preventivas permitiu que superássemos todos os obstáculos”, afirma o diretor-geral do ONS, Marcio Rea.
As ações implementadas tinham como foco principal a preservação da água em reservatórios estratégicos e a autorização para acionamento de todos os recursos disponíveis no SIN, em especial para o atendimento da demanda nos horários de ponta de carga. Alguns destaques foram as medidas de preservação dos volumes armazenados nos reservatórios de cabeceiras nas bacias dos rios Grande e Paranaíba, mediante redução das defluências mínimas nas usinas hidrelétricas de Jupiá e Porto Primavera.
Também merecem ser mencionadas as medidas para a gestão dos recursos eletroenergéticos na região Norte, em especial no rio Madeira, muito afetado pela estiagem na região e na qual estão localizadas importantes usinas hidrelétricas do SIN.
Segundo o ONS, a gestão dos reservatórios do SIN permitiu que os níveis de energia armazenada, ao final deste ano, cheguem 6,6 pontos percentuais (p.p.) acima do registrado no mesmo período de 2021, quando o Brasil vivia uma crise hídrica.
A grave enchente no Rio Grande do Sul foi também um momento crítico para o setor elétrico, tendo afetado uma série de ativos de agentes geradores e transmissores no estado, condição que demandou o estabelecimento de uma operação especial. Os trabalhos se estenderam de maio a novembro, com a total recuperação de transformadores, subestações e linhas de transmissão atingidas.
Perspectivas para 2025
O ONS vem alertando, por meio de estudos como o PEN 204 e o PAR/PEL 2024, para a necessidade de haver a realização de leilões anuais de reserva de capacidade. Os documentos indicam que o SIN está se tornando um sistema com excedente em geração e restrito em potência.
Os leilões de reserva são essenciais para o aumento da disponibilidade do atributo potência. Há discussões também sobre leilão de baterias e de outros meios de armazenamento, opções importantes e que podem dar mais opções para a operação, ampliando a flexibilidade e a confiabilidade do sistema.
O aumento da participação da Micro e Mini Geração Distribuída (MMGD), uma realidade verificada em todo o mundo, também é um ponto de atenção do Operador, que defende a necessidade de as distribuidoras terem mais protagonismo e atuem como operadoras da geração MMGD conectadas a elas, podendo determinar cortes, por exemplo. O crescimento da MMGD tem impacto na gestão do SIN, em especial com o aumento das curvas de carga nos horários da ponta noturna, quando a geração solar não está mais disponível, mas a demanda segue elevada.
Em 2024, o ONS teve importantes lançamentos marcados pela inovação tecnológica e regulatória. Dois projetos se destacam nesses campos. Um deles é o lançamento do Tiago, ferramenta de Inteligência Artificial (IA) que faz parte da jornada de Evolução e de Inovação das Tecnologias {onstec}. O produto, disponível inicialmente apenas para as equipes do ONS, foi desenvolvido com os recursos mais avançados de computação em nuvem e explora o potencial dos Modelos de Linguagem de Grande Escala (LLMs). Já no universo regulatório, o destaque foi a definição, em coordenação com o regulador, de um novo mecanismo competitivo para contratação de Resposta da Demanda por disponibilidade.
Restrição de geração renovável
O debate sobre a necessidade de comandos de restrição, em determinados momentos, na geração renovável não-hídrica foi um assunto recorrente no setor elétrico brasileiro em 2024. O ONS adotou, em setembro, uma nova metodologia, que aumentou a segurança na operação e permitiu uma distribuição mais equilibrada dos cortes. A prática está sendo adotada nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte e Bahia, com possibilidade de expansão para outros territórios.
Além disso, o Operador está implementando medidas operacionais visando à redução de cortes na geração eólica e solar. A primeira a ser implementada é a entrada da operação do banco capacitor série com sistema bypass, que evitará sobrecargas nas linhas de transmissão Barreiras-Rio das Éguas, aumentando a resiliência do SIN. E também a recomendação da instalação de compensadores síncronos no Ceará e no Rio Grande do Norte, para reforçar a capacidade do sistema de absorver perturbações e aumentar a eficiência do escoamento de geração renovável.