CMO continua firme na trajetória de alta
Maurício Corrêa, de Brasília (com informações do ONS) —
O boletim do Programa Mensal da Operação (PMO) para a semana operativa entre os dias 08 e 14 de março indica que os níveis de Energia Armazenada (EAR) ao final do mês estarão superiores a 60% em três regiões: Norte (96,1%), Nordeste (78,1%) e Sudeste/Centro-Oeste (69,3%). No caso desses subsistemas, os índices estão estáveis em relação ao mesmo período do ano passado. A região que deve apresentar o menor percentual é o Sul, com 36,9%.
Na linguagem gelada do ONS, “o Custo Marginal de Operação (CMO) mantém o padrão verificado nas semanas anteriores, zero no Nordeste e Norte e R$ 343,62 no Sudeste/Centro-Oeste e Sul”. Entre os agentes, entretanto, preocupa a escalada do CMO, considerado alto para esta época do ano, pois representa o custo futuro da energia. Embora os reservatórios do Sudeste estejam com boas quantidades de água, daqui para a frente a tendência é de diminuição, pois o período úmido já está na reta final.
Na visão dos agentes, está na hora de colocar as barbas de molho, pois a volatilidade dos preços está assustando o mercado desde o início de março. Isso provoca uma enorme transferência de renda entre as empresas que operam no mercado e faz renascer as críticas à forma como o modelo Newave é operado pelo ONS.
No raciocínio dos agentes, a realidade deveria ser outra. Se existe água em grande quantidade nos reservatórios, por que o CMO estaria viajando na direção das nuvens? Esses são os mistérios que só o ONS pode explicar, o que irrita muitos agentes que estão perdendo dinheiro com a volatilidade. Para muita gente, o Newave está calibrado erradamente.
Toda essa mexida, na visão de alguns agentes, com mudanças de critérios que se alteram a cada ano, mostra que, até agora (especificamente neste ano), essa subida de preços não alterou o despacho térmico.
“Praticamente, as térmicas que estão ligadas são as que operam por inflexibilidade”, diz uma fonte que entende de Operação. E pergunta: “Qual a razão dessa diferença nos preços? O que levou o ONS a baixar tanto os reservatórios localizados na região Sul? O nosso Operador precisa dar essas explicações, pois quem está de olho no dia a dia da Operação não consegue entender a lógica dos procedimentos do pessoal do ONS”.
De fato, a escalada do CMO, que baliza o PLD, é impressionante. Hoje, está em R$ 343,62. Na semana passada, era R$ 315,49; R$ 125,38 em 23 de fevereiro e R$ 31,88 em 19 de janeiro. Este pulo de R$ 218,24 em apenas duas semanas é que assusta os operadores do mercado e gera desconfianças em relação à forma como o Newave está sendo calibrado.
Muita gente fica perguntando onde essa escalada vai parar. Existem aqueles mais pessimistas que não duvidam: algumas empresas podem não suportar e provavelmente vão abrir o bico, quando começar o período seco e o ONS for obrigado a despachar térmicas. Como definiu um agente, “esta é a hora que dá aquele frio na barriga e você tem que rezar muito”.
“Conforme temos destacado, o ONS vem adotando uma política operativa que busca a otimização dos recursos energéticos do país e que permita, em paralelo, a recuperação e a manutenção do nível dos principais reservatórios. Essa estratégia se reforça ao final do período úmido”, afirma Marcio Rea, diretor-geral do ONS.
As perspectivas para a Energia Natural Afluente (ENA) ao final de março apresentaram redução, ante a primeira projeção, no Sudeste/Centro-Oeste, que deve registrar 60% (65%) da Média de Longo Termo (MLT), e no Nordeste, com 25% (28%) da MLT. O Norte segue com a maior estimativa e indicação, inclusive, de avanço em relação ao previsto na semana anterior: 102% (95%) da MLT. O Sul deve chegar a 55% da MLT, em 31 de março, mesmo percentual divulgado previamente.
O cenário prospectivo para a demanda de carga é de expansão no Sistema Interligado Nacional (SIN) e em todos os subsistemas. A aceleração no SIN deve ser de 3,5% (86.450 MWmed). A região Sul segue como a região com a projeção mais elevada de crescimento, 7,6% (15.799 MWmed). As estimativas para os demais são as seguintes: Norte, 4% (7.692 MWmed); Sudeste/Centro-Oeste, 3,2% (49.321 MWmed); e Nordeste, 0,2% (13.638 MWmed). Os percentuais comparam as projeções para março de 2025 em relação ao verificado no mesmo período de 2024.