Restrições impactam balanço da Voltalia
Maurício Corrêa, de Brasília —
A empresa francesa Voltalia, que tem capacidade instalada de 1.528 MW no Brasil, divulgou o balanço de 2024, que mostra o impacto fulminante das restrições operativas feitas pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) nos resultados financeiros da companhia. Segundo o balanço, o impacto do chamado “curtailment” na operação da Voltalia no Brasil foi de exatos 876 GWh, afetando diretamente a lucratividade.
Segundo o comunicado divulgado pela companhia francesa, apesar dos problemas operativos ela segue firme em sua estratégia de crescimento no Brasil, um de seus principais mercados. No final de 2024, a empresa contava com 773 MW de capacidade eólica e 742 MW de capacidade solar em operação no país. Além disso, novos projetos foram adicionados ao pipeline, garantindo um crescimento sustentável e alinhado às necessidades do mercado.
Em 2024, a restrição na rede elétrica impactou 21% da geração da Voltalia no Brasil, afetando a lucratividade da empresa. No entanto, no comunicado sobre o balanço a companhia suaviza suas denúncias e observa sinais positivos de melhora, impulsionados por medidas implementadas pelo operador da rede, incluindo a distribuição mais equilibrada de carga entre subestações e a entrada em operação de novas linhas de transmissão.
Para 2025, a Voltalia tem expectativa de uma redução significativa das restrições, com projeção de impacto limitado a cerca de 10% da produção anual no Brasil. “A Voltalia segue acompanhando de perto a evolução dessa situação e continua suas ações para obter compensações financeiras por parte das autoridades reguladoras”.
Nessa história do “curtailment”, a Voltalia foi um dos poucos agentes estrangeiros de grande porte com atuação no Brasil que tiveram a coragem de denunciar as restrições operativas e como elas reduziam os resultados financeiros da empresa. De modo geral, as empresas muito afetadas pelo “curtailment” preferem ficar na moita ou então reclamar em off. Outra estratégia é se manifestar anonimamente através de suas associações empresariais. De modo geral, os agentes econômicos temem a mão pesada do Governo e seu inesgotável poder de retaliação. Governo é Governo, qualquer que seja ele.
A Voltalia tomou uma decisão diferente e jogou a sua denúncia no ventilador. A empresa não considerou o descontentamento do pessoal do ONS e do MME, responsáveis pelas restrições. Assumiu a sua posição e ponto final. Essa atitude foi um divisor de águas, pois é algo com que o SEB não está muito acostumado a ver. De modo geral, as empresas e suas associações são cheias de dedos, cheias de nhem-nhem-nhem e preferem se omitir. Não foi o caso da Voltalia, que reclamou publicamente que estava sendo prejudicada pelas ações do Operador.
Isso aconteceu em agosto do ano passado, quando a Voltalia distribuiu um comunicado para a imprensa, criticando abertamente o ONS, mostrando como as restrições operativas estavam impactando os seus negócios no Brasil e pedindo ressarcimento dos prejuízos. Na época, o site “Paranoá Energia” publicou o comunicado emitido pela empresa francesa.