CMO vai a quase R$ 400 e acende sinal amarelo
Maurício Corrêa, de Brasília (com informações do ONS) —
A subida como um foguete do CMO, que atingiu a marca de R$ 397,17 no Sudeste/Centro-Oeste e Sul. nesta sexta-feira, 14 de março, está deixando muita gente do setor elétrico brasileiro de cabelos em pé. Não é sem motivos. Em seu boletim semanal, o ONS reconhece que “os valores do CMO refletem, entre outros pontos, a possibilidade de redução nos percentuais de afluência nas próximas semanas”. Traduzindo para o português, isto significa que o Operador acredita que chegará menor quantidade de água nos reservatórios das hidrelétricas, considerando que o período chuvoso está chegando ao fim.
Na linguagem cifrada do setor elétrico, isto também significa que é lei da oferta e da procura na veia: menos água é igual a preço mais alto da energia elétrica. Afinal, o PLD espelha o CMO e ambos convergem para o custo futuro da energia. Ora, se o CMO chega a R$ 397,17 ainda no auge do período úmido, é possível imaginar o que poderá acontecer no período seco, daqui algumas semanas.
Na visão deste editor, no setor elétrico trabalha muita gente competente. Não são poucos os profissionais do SEB que têm uma visão abrangente da área de energia dentro do processo econômico.
É verdade que existem aqueles que não conseguem enxergar um palmo sequer além dos números ou das estatísticas que aprendem nos cursos de Engenharia Elétrica ou de Economia. Se apegam aos modelos matemáticos de formação de preços, como se isso fosse a verdade absoluta do Universo, e não conseguem enxergar além disso. São pessoas que têm habilidades profissionais muito elevadas, mas que param nos números.
Em compensação, existem aqueles que pensam além. Estes são muito dotados intelectualmente, pois sabem como funcionam os mundos da energia, da economia e da política. Este editor os inveja (no bom sentido), pois considera que têm mentes privilegiadas. Há muitos deles no setor elétrico.
E o que este segundo grupo está pensando? Muita coisa. Uma delas é que, em semanas o ONS precisará chamar as térmicas para rodar, visando a preservar a água nos reservatórios. A partir daí, será um Deus nos acuda.
A começar pelo custo político dessa atitude. Afinal, o prestígio do atual presidente da República está na canela e o eventual uso de térmicas significa que o consumidor vai pagar mais caro pela energia elétrica. E isso rebate com facilidade no aumento da inflação e automaticamente no prestígio do presidente Lula. Vale lembrar que ele luta desesperadamente para recuperar o prestígio político.
Do ponto de vista rigorosamente empresarial, sem pensar no Governo, algumas coisas causam preocupação entre os especialistas. Por exemplo: quando o preço aumenta é porque o modelo manda ligar as térmicas. Só que desta vez não fizeram isso. Então a pergunta que se faz é natural: qual a razão que levou ao aumento do preço da energia elétrica?
Um conhecedor do mercado lembrou ao site que, nos últimos três meses, praticamente não houve aumento da geração térmica. Mas os preços escalaram.
Tem gente que desconfia que o PLD do Sudeste está aumentando porque, por alguma razão, acredita-se que é preciso dar mais dinheiro à geração hidráulica do Sudeste, que tem energia sobrando. Por ironia, esses mesmos geradores hidráulicos que estariam se beneficiando no Sudeste, com as decisões do ONS, ao mesmo tempo levam pau no Nordeste, com as restrições operativas do mesmo ONS. São empresas que pertencem a conglomerados que contam com empreendimentos em segmentos diferentes do SEB.
ONS reconhece que ENA está abaixo da média
O boletim do Programa Mensal da Operação (PMO) para a semana operativa entre os dias 15 e 21 de março reconhece que os níveis de Energia Natural Afluente (ENA), ao final do mês, estarão abaixo da média para o período em todos os subsistemas. A região com o índice mais elevado deve ser o Norte, com 98% da Média de Longo Termo (MLT). O Sudeste/Centro-Oeste deve ser de 56% da MLT; seguido pelo Sul, com 45% da MLT; e pelo Nordeste, com 24% da MLT.
“As projeções apontam para um possível final antecipado do período tipicamente úmido”, alerta o Operador, aumentando o grau de incerteza dos agentes econômicos.
“As perspectivas para os próximos meses são de pleno atendimento às demandas do país. Estamos com os reservatórios em condições positivas e a política operativa tem buscado preservar os recursos hídricos. As condições de afluência com uma provável antecipação do período seco estão sendo acompanhadas com atenção”, afirma Marcio Rea, diretor geral do ONS.
As estimativas para os níveis de Energia Armazenada (EAR) ao final do mês estão estáveis. Três subsistemas seguem com a projeção de superar 60%: Norte (95,8%), Nordeste (77,6%) e Sudeste/Centro-Oeste (67,5%). No caso desses subsistemas, os índices são similares àqueles do mesmo período do ano passado. A região que deve apresentar o menor percentual é o Sul, com 36,7%.
O cenário prospectivo para a demanda de carga segue indicando expansão no Sistema Interligado Nacional (SIN) e em todos os subsistemas. Os percentuais projetados na revisão atual são superiores aos divulgados previamente. O crescimento da carga no SIN deve ser 4,2% (86.994 MWmed). A região Sul se mantém na dianteira e pode apresentar a aceleração mais elevada, 7,8% (15.831 MWmed); seguida pelo Norte, com 5,4% (7.796 MWmed). Por fim, estão o Sudeste/Centro-Oeste, 3,6% (49.490 MWmed); e o Nordeste, 1,9% (13.878 MWmed). Os percentuais comparam as projeções de março de 2025 com os resultados verificados no mesmo período de 2024.