Cooperação alemã é forte no Brasil
Maurício Corrêa, de Brasília —
O que há em comum entre o Fundo Verde do campus da UFRJ no Fundão, o clube de futebol Fluminense, a transformação de esgoto em biogás que ocorre em Curitiba, o trabalho técnico da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) em Brasília, um programa de mobilidade urbana do Governo Federal, a geração eólica no Nordeste ou o planejamento do setor elétrico efetuado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE)? Ganha um doce quem responder “energia renovável ou desenvolvimento sustentável”, mas ganha dois doces quem concluir que, discretamente, por trás de tudo isso, está um trabalho eficiente de cooperação desenvolvido pelo Governo da Alemanha através da sua agência de cooperação técnica e desenvolvimento, a GIZ.
Wolf Dio, diretor nacional da GIZ, diz que o Brasil e a Alemanha têm um produtivo histórico de trabalho conjunto na área do desenvolvimento sustentável. Segundo Dio, o Brasil é um parceiro forte para proteção do clima e da biodiversidade e a Alemanha tem um compromisso para reduzir o efeito estufa dobrando seus investimentos em clima até 2020. No seu entendimento, trata-se de uma parceria de sucesso, pois ambos os países estão envolvidos com a utilização de tecnologias verdes e práticas de descarbonização, sendo que o Brasil combate o desmatamento e tem a maior diversidade do Planeta.
Como explicou, os entendimentos entre os dois países baseiam-se numa agenda que trata de clima, desenvolvimento econômico e social, biodiversidade, energias renováveis e eficiência energética, proteção e uso sustentável das florestas tropicais, além de forte parceria na área de urbanização. Não é sem sentido, portanto, que a GIZ dispõe de um quadro de pessoal, no Brasil, que reúne muito mais do que um simples Exército Brancaleone: são 139 especialistas de alto nível, entre assessores, peritos e consultores.
Tabea von Frieling de Valencia, da área de Projetos de Energia, Eficiência Energética e Desenvolvimento Sustentável do Banco KfW em Brasília, explica que cabe à instituição formalizar eventuais contratos de cooperação financeira. Uma espécie de BNDES da Alemanha, KfW é a sigla para Bank aus Verantwortung. A sigla se explica pelo nome original da instituição (Kreditanstalt fur Wiederaufbau), surgida em 1948 na esteira da aplicação dos recursos do Plano Marshall destinados à reconstrução da Alemanha no pós-guerra.
As aplicações do KfW no Brasil também estão direcionadas para a promoção das energias renováveis e eficiência energética, com foco em Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH´s), parques eólicos, energia solar e produção de biogás, contando com parceiros como Eletrobras, Cemig, Sanepar, BNDES, Caixa Econômica Federal e empresas diversas nos campos de saneamento e transporte.
No total, a carteira de aplicações do KfW no Brasil, só na área de energia, soma 591 milhões de euros, o que não é pouca coisa. O teto solar do Minerão, por exemplo, foi parte de um convênio entre a Cemig e o KfW. O banco alemão atua em 130 países, sendo que no Brasil ele opera com exigência de uma contrapartida de 20% no valor dos projetos, com garantia da União na parte financiada. Um contrato de financiamento de projeto pelo KfW não gera necessariamente a obrigatoriedade de se comprar equipamentos que ostentem o carimbo “Made in Germany”.
Na avaliação do diretor Dio, da GIZ, 80% dos projetos definidos no Brasil podem ser classificados como bons. Ele compreende que alguns projetos eventualmente acabam não correspondendo à expectativa inicial até mesmo porque se trabalha em um ambiente de forte volatilidade. Ele ressalva, entretanto, que a instabilidade política no Brasil não tem prejudicado o desenvolvimento de qualquer projeto acompanhado pela GIZ. “Os projetos seguem normais”, assinalou.
Como comentou, não é apenas o Brasil que aprende com a Alemanha. O inverso também é uma verdade. “O Brasil é um país muito avançado em meio ambiente”, frisou, lembrando que um outro campo, por exemplo, em que o Brasil pode dar lições é a área de transmissão de energia elétrica. Dio vê com muita admiração o fato de o Brasil conseguir operar o sistema de transmissão com muita eficiência, interligando todas as regiões, em um território que praticamente é do tamanho da Europa.