Paragominas, Pará: acreditar no futuro
Maurício Corrêa, de Belém (PA) —
No estado do Pará, um movimento organizado em defesa da energia renovável, como mostrado na seção Notícias deste site, provavelmente não poderia surgir em outra cidade, a não ser em Paragominas.
Não que as pessoas dessa cidade de tamanho médio situada cerca de 300 km de Belém sejam melhores do que as outras. Apenas são diferentes.
Essa diferença se mostra de forma evidente quando se compara a várias vezes centenária Belém, com o seu charme e orgulho de ser capital, com esta cidade fundada como vila miserável, com zero de infra-estrutura, no início da construção da Rodovia Belém-Brasília, reunindo colonos que vieram basicamente do Espírito Santo, Minas Gerais e Goiás e se juntaram aos paraenses para ocupar aquela região do Estado.
A região metropolitana de Belém, hoje, conta com uma população de aproximadamente 2,5 milhões de habitantes. Só na capital, são cerca de 1,5 milhão. Em Paragominas, são pouco mais de 100 mil habitantes. Não há como comparar.
Mas, enquanto as administrações de Belém e suas cidades vizinhas de Ananindeua e Castanhal tocam o dia de municípios economicamente fortes, mas administrativamente caóticos, Paragominas segue a rotina de uma cidade do interior, que a cada dia coloca um tijolo no muro, para se tornar diferente e com razoável qualidade de vida, quase que na direção oposta do que acontece na região metropolitana da capital.
Trata-se de uma situação muito parecida com a que ocorre no oeste da Bahia, onde os municípios de Barreiras e Luiz Eduardo Magalhães,b fortemente pautados pelo agronegócio e pela agricultura tecnificada e moderna, destoam completamente do restante do estado. Em Paragominas, o agronegócio também é vetor do desenvolvimento. É muito possível que, na medida em que o tempo passar, Paragominas, mesmo fazendo parte do estado do Pará, adquira cada vez mais autonomia e fique cada vez mais independente de quem dá as ordens em Belém.
Belém, com suas mangueiras e calçadas e avenidas largas, é um retrato do caos urbano no Terceiro Mundo. O que mais espanta qualquer visitante é a grande quantidade de lixo espalhado pela calçadas. Lixo para todos os lados, emporcalhando uma capital que é bonita e certamente tem muita história e muito charme. É triste caminhar pelas ruas de Belém e observar o abandono. Na manhã de domingo, 25 de março, urubus disputavam o lixo em uma das principais avenidas da cidade, nas proximidades da Basílica de Nazaré, um dos cartões postais da capital. Não é necessário ir à periferia de Belém, onde certamente a situação se repete, para observar que os moradores da capital convivem de forma harmoniosa com a enorme quantidade de lixo simplesmente jogado nas calçadas. Estas, aliás, também não são grande coisa: aparentemente nenhuma administração municipal jamais cuidou das pobres calçadas de Belém.
Na distante Paragominas, ao contrário, tudo funciona aparentemente bem e sem problema. As ruas são largas e incrivelmente limpas. As calçadas estão em ótimas condições. O lixo é recolhido nas residências e, agora, a municipalidade está partindo para uma segunda etapa, que é buscar a adesão dos moradores para que, em determinados dias, o lixo seja recolhido, mas já selecionado.
Paragominas está a alguns anos-luz de distância de Belém em termos de qualidade de vida. Enquanto a área metropolitana da capital se destaca por centenas, talvez milhares de imóveis que jamais foram pintados desde que começaram a ser utilizados, há alguns anos, observa-se que, em Paragominas, os moradores cuidam de suas casas ou prédios comerciais e de vez em quando gastam uma lata de tinta para deixar as paredes limpas.
É claro que tudo se resume às questões relacionadas com a gestão municipal, com a cultura e a educação. Aparentemente, há vários anos a animada Belém está envolvida pelo populismo, pela apatia e pela incompetência administrativa. Quando não é um, é o outro. Na cidade interiorana, ao contrário, formou-se um núcleo de moradores que efetivamente trabalham em favor da cidade. Alguns sequer têm cargos eletivos. O segredo atende pelos nomes de continuidade administrativa, seriedade e vontade de não deixar a coisa degringolar, como aconteceu na capital.
A realização do seminário sobre energia renovável, em Paragominas, no dia do evento, 23 de março, não foi por acaso. Também é a data em que se comemora o Dia do Município Verde.
Em 2008, o Governo Federal divulgou uma lista contendo os nomes dos 36 municípios que mais desmatavam em todo o País. Foram definidos vários critérios para que os municípios deixassem de integrar a lista negra. Paragominas foi o primeiro município a cumprir as exigências e a atingir a meta.
Saiu da lista em pouco tempo e agora se esforça para ser conhecido como um município que, em vez de agredir o ambiente, o protege. A cooperativa de energia renovável (Coober), que é a primeira em operação em todo o País, foi uma das iniciativas para formar a nova imagem de Paragominas.
Desde então, a cidade se esforça para dar a volta por cima com várias iniciativas que mostram o comprometimento com a defesa do meio ambiente, renegando totalmente o seu passado destruidor.
Na abertura do evento, o prefeito Paulo Tocantins apresentou um pacote de propostas encaminhadas à Câmara Municipal, reforçando a posição de Paragominas na defesa de compromissos que dão dignidade à cidadania.
Entre essas ideias, está o investimento em sistemas de energia fotovoltaica em escolas municipais, com recursos do Fundo Municipal do Meio Ambiente. Outra iniciativa consiste na coleta seletiva do lixo, incluindo a organização dos moradores mais carentes em uma cooperativa, de modo que possam ter emprego e renda.
A modesta Paragominas, que respeita a posição de Belém como capital estadual e não aspira qualquer tipo de separatismo, está avançando muito mais do que o resto do estado, em termos de qualidade de vida.
Para o futuro, pode-se prever que o município deverá contar com um aeroporto atendido por empresas de aviação regional. Hoje, quem se dispõe a ir a negócios a Paragominas, precisa usar os aeroportos de Belém ou então de Imperatriz, no Maranhão, o que obriga o viajante a completar a viagem de carro. Nas duas opções, a distância é praticamente a mesma, de 300 km. Com um aeroporto regional, esse problema desaparece e dinamizará a economia local.
“Estamos fazendo a nossa parte e avançando na medida do possível”, disse o prefeito Tocantins a este site. “Confesso que às vezes não sei direito como explicar tudo o que acontece aqui. Só posso garantir que a comunidade como um todo se empolga com tudo isso, o que é muito bom para todos nós que vivemos em Paragominas”, afirmou o presidente da Coober, Raphael Sampaio Vale.