CCEE se desculpa com Abraceel e BTG
Maurício Corrêa, de Brasília —
A saia justa observada nos últimos dias, envolvendo a CCEE, a associação dos comercializadores (Abraceel) e o Banco BTG Pactual, em torno de um embargo de declaração interposto pela Câmara, face a mandato de segurança impetrado pelo banco, está aparentemente encerrada. A atenção de muitos agentes está voltada, agora, para os desdobramentos, tanto na CCEE quanto na associação.
O Conselho de Administração da associação exigiu uma retratação por parte da Câmara, o que de fato aconteceu muito rapidamente. Em carta enviada pela CCEE, foi manifestado que “opiniões expressadas nas referidas peças processuais que citam a Abraceel não representam o entendimento desta instituição sobre a relação entre a Abraceel e o banco BTG Pactual, até porque não cabe à operadora do mercado tecer considerações dessa natureza, em especial quanto à governança das Associações”. Realmente, a CCEE não tinha que meter o dedo no relacionamento entre uma associação empresarial e uma empresa associada.
Associados ouvidos por este site entendem que o pedido de desculpas formulado pela CCEE encerra a questão, mas lembraram que não foi a primeira vez que isso aconteceu. Em outras situações, advogados contratados pela Câmara também teriam pisado no acelerador, em peças processuais, relativamente a atos que teriam sido praticados por agentes de comercialização vinculados à Abraceel.
E reclamam que, naquelas oportunidades, não encontraram a mesma veemência por parte da Abraceel, como aconteceu agora no episódio de defesa da comercializadora do Banco BTG Pactual. O principal executivo do banco na área de energia e responsável pela comercializadora do grupo, Oderval Duarte, é conselheiro vice-presidente da associação, foi seu presidente por dois mandatos e detém uma liderança expressiva na política interna da entidade. Se for candidato à presidência, na próxima eleição, tem força na política interna para voltar à função.
“Pode-se tirar desse episódio um valor pedagógico. O posicionamento da Abraceel, agora, foi bastante correto e incisivo, mas também poderia ter sido assim no passado. Claramente, houve dois pesos e duas medidas, por parte da associação”, lamentou um associado, que, por razões óbvias, não quis aparecer na história.
Aliás, não é a primeira vez que aparece um pedido formal de desculpas no meio de uma confusão envolvendo a Abraceel e Oderval Duarte. Há exatamente dois anos, a associação de forma surpreendente e rara acusou a sua associada Cemig de praticar “inside information” em um leilão voltado para o mercado livre. Chegou ao extremo, inclusive, de formalizar uma denúncia junto à Aneel nesse sentido. A geradora mineira ameaçou a associação com um processo na Justiça e a associação se desculpou por escrito, do mesmo modo como a CCEE fez agora. Naquela época, Oderval Duarte era o presidente do Conselho de Administração da Abraceel.