Moreira Franco, Adriano Pires e o CNPE
Maurício Corrêa, de Brasília —
Um leitor atento deste site reclamou, há poucos dias, que o “Paranoá Energia” “bate demais” no ministro de Minas e Energia, Wellington Moreira Franco.
É bom esclarecer que este site não existe para bater ou fazer carinho em ninguém. O objetivo do site é fazer jornalismo. Isto engloba a existência de opinião. Acontece que algumas pessoas às vezes estranham, pois se acostumaram com um tipo de jornalismo neutro, sem opinião, sobre a área de energia. É um outro tipo de jornalismo, igualmente válido, mas que não é o praticado pelo “Paranoá Energia”.
O ministro é um político como a maioria dos políticos. Só pensa nisso. Na visão deste editor, não há qualquer tipo de problema em se indicar políticos para o MME. Desde que entendam como funciona a casa, o que não era exatamente a característica do ministro Moreira Franco no dia em que foi nomeado pelo presidente Temer. É possível que hoje, passados tantos meses, ele já consiga entender como se formam os preços do setor elétrico.
Entenda ou não do SEB, o fato é que o ministro Moreira Franco, como político, às vezes derrapa feio. Nestes casos, praticamente implora para apanhar. Há algum tempo, como se fosse a coisa mais natural do mundo, o MME (leia-se Assessoria de Comunicação, vinculada ao gabinete do ministro) divulgou um release contendo a opinião do lobista Adriano Pires, que já estava em campanha ainda não declarada para ser o sucessor do próprio Moreira Franco.
Depois da eleição de Jair Bolsonaro, era tão patente o apoio de Moreira a Adriano Pires como seu candidato ao MME, que só faltou pegá-lo pelo braço e conduzi-lo em campanha, de tão ostensivo que foi o suporte do ministro ao lobista. Bom, prudentemente, Bolsonaro, que não é bobo e não nasceu ontem, preferiu indicar um almirante de esquadra para o posto, mesmo precisando do apoio partidário do MDB no Congresso. O presidente eleito ignorou solenemente a pressão de Moreira Franco.
Como o gabinete de Moreira Franco é uma espécie de caixinha de surpresas, onde brotam diariamente situações inesperadas, Moreira Franco, nesta sexta-feira, 07 de dezembro, apenas 24 horas depois da publicação de uma mudança na composição do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), decidiu não deixar o seu amigo Adriano Pires no sereno. E o nomeou para um mandato de dois anos no próprio CNPE, faltando apenas três semanas para encerrar a sua gestão no MME. Uma matéria elaborada originalmente pela Agência Estado foi reproduzida, sob contrato, pelo site “Paranoá Energia” e encontra-se na manchete.
Este editor recebeu algumas ligações de executivos do setor elétrico, indignados com a nomeação de Adriano Pires para o CNPE. O ministro fez alguma coisa ilegal? A princípio, não. Mas, como o seu período no MME está praticamente no fim, poderia ter tido pelo menos a elegância de deixar a vaga para ser preenchida pelo sucessor, almirante Bento Albuquerque Junior. Afinal, até as pedras de Brasília sabem que Moreira fez abertamente campanha para Adriano.
Vale lembrar que o CNPE é um colegiado presidido pelo titular do MME. O CNPE tem a atribuição de aprovar recomendações à Presidência da República sobre o planejamento do setor. Entre as áreas de atuação do CNPE está a aprovação de rodadas de leilão de petróleo e gás, que é um assunto de interesse direto de Adriano Pires como consultor.
Daqui uns dias, Moreira Franco deixará de ser ministro de Minas e Energia. Perdeu uma boa oportunidade para encerrar esse capítulo da sua vasta biografia política como um ministro que se interessou por questões republicanas. Ao contrário, não resistiu e infelizmente preferiu ceder à miudeza da atividade política. Sai menor do que entrou no MME.