Barata, o sobrevivente, recebe o novo ministro
Maurício Corrêa, de Brasília —
O engenheiro eletricista Luiz Eduardo Barata Ferreira é um dos técnicos mais reconhecidos do setor elétrico brasileiro. Tem um currículo profissional de dar inveja e conhece o SEB como poucos, tendo passado por funções extremamente relevantes. Hoje, ocupa a diretoria-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Mas, além de ser um técnico renomado, Barata, como é mais conhecido, é antes de tudo um sobrevivente no mundo político.
Em 2004, quando o Governo do primeiro mandato do presidente Lula estava se consolidando, foi indicado para ocupar a diretoria de Operações do ONS. Ficou no alto escalão do Operador até 2010. Nesse ano, como decorrência de suas boas relações com o petismo, mudou-se para São Paulo e assumiu a superintendência e depois a presidência do Conselho de Administração da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). Nesse período, consolidou um excelente relacionamento com Dilma Rousseff.
Na CCEE, embora uma de suas atribuições fosse a valorização do mercado, foi o inspirador e principal articulador da Portaria 455 do MME, que asfixiava as operações do mercado livre. Nunca admitiu publicamente, mas, com a 455, fez o jogo do Ministério de Minas e Energia, que não nutria qualquer tipo de apreço pelo livre mercado. A 455 acabou sendo revogada pelo próprio MME no ano passado, pois já estava desmoralizada através de ações no próprio Poder Judiciário.
Permaneceu fiel ao petismo. Em 2015, foi indicado para o estratégico cargo de secretário-geral do MME, quando se tornou os olhos e ouvidos da então presidente Dilma Rousseff numa gestão cujo ministro era Eduardo Braga, do MDB, face ao governo de coalizão. Em 2016, com o fim do governo da presidente Rousseff, foi finalmente indicado para voltar ao Rio de Janeiro e assumir o comando do ONS, onde passou grande parte de sua vida profissional.
Em síntese, técnico qualificado de alto coturno do petismo na área de energia, acomodou-se dentro da coligação com o MDB, inclusive mesmo depois do impeachment de Dilma Rousseff. Agora, ironicamente, o seu mandato no ONS coincide com o início da Era Bolsonaro e da posse de um almirante linha dura no comando do MME. Nesta sexta-feira, dia 04 de janeiro, no Rio de Janeiro, será o anfitrião do ministro Bento Albuquerque Junior, em uma reunião que será realizada no ONS, quando haverá uma apresentação sobre o Operador para o novo ministro, incluindo o detalhamento das condições de suprimento de energia elétrica para 2019.
No SEB, ninguém duvida da capacidade de adaptação de Barata ao novo regime. Ele já viu de tudo na política partidária e como o SEB é envolvido pelos interesses dos partidos. Acredita-se que, disciplinado e articulado como é, saberá dar a volta por cima e se ajustar às novas circunstâncias da política setorial.