Abraceel: após eleição, dúvidas continuam
Maurício Corrêa, de Brasília —
Comentário de um comercializador de energia elétrica, depois da eleição para o Conselho de Administração da Abraceel, realizada na última quinta-feira, 14 de março:
“Levamos 20 anos para enquadrar os distribuidores, dando-lhes uma posição adequada dentro do conselho da associação, naqueles casos de distribuidores que controlam agentes de comercialização. Encerrada a discussão sobre o quanto os distribuidores mandavam ou não na associação, paradoxalmente demos ao representante da Petrobras a maior quantidade de votos, colocando dentro do conselho uma empresa que não defende os mesmos interesses que os comercializadores. É verdade que, legalmente, não há o que contestar. A Petrobras é uma empresa associada e, embora defenda prioritariamente os interesses dos geradores térmicos, o seu candidato podia ser eleito, como foi”.
De acordo com a mesma fonte, o que espanta é a miopia dos próprios comercializadores, que transformaram em conselheiro, atribuindo-lhe o maior número de votos, o representante de uma empresa que, na sua visão, trabalha contra o mercado livre, não só de energia elétrica, mas, também, de gás natural.
De fato, essa questão parece preocupar não só os que criticam a escolha de um representante da Petrobras para o Conselho de Administração da Abraceel, quanto o próprio conselheiro eleito, Paulo Tarso de Araújo, que, na última sexta-feira, enviou uma mensagem aos comercializadores, agradecendo pelo resultado, mas, também, colocando-se à disposição de todos para “encarar o momento e as dificuldades de frente”. Foi uma mensagem educada, oportuna e bastante diplomática.
Dentro da Abraceel, existem críticas quanto à condução dos assuntos da associação, o que não teria se encerrado com o processo eleitoral. Ao contrário, na visão dessas fontes, a associação, hoje, carece de um formulador dotado de visão estratégica, como foram Paulo Pedrosa, na diretoria-executiva, ou Oderval Duarte, no comando do próprio Conselho.
“Estamos sem uma visão efetiva de longo prazo”, reclamou um comercializador em conversa com este site, lembrando que, talvez, a principal missão de Ricardo Lisboa, que acaba de ser reeleito para a presidência do Conselho de Administração, seria tentar unificar a associação, trazendo para perto dele lideranças históricas da Abraceel que ao longo dos anos desistiram do trabalho associativo e há muito tempo estão alheias ao trabalho que se faz.
Segundo essa fonte, não se trata de uma crítica de natureza pessoal ao Conselho ou à Diretoria. “Tem muita gente boa dentro da Abraceel, que pode oferecer grande contribuição ao trabalho da associação. Só que a eleição mostrou que a associação está muito dividida e isso não é um bom sinal. Os dirigentes atuais precisam ter essa sensibilidade que a eleição já passou e agora é hora de recompor a base. Temos muitos adversários em relação ao trabalho da associação e eles não precisam estar aqui dentro. Com um pouco de diplomacia empresarial é possível aparar arestas e seguir em frente. Não podemos ter diretor que xinga conselheiro e fica tudo por isso mesmo. Essas situações precisam ser conduzidas com outra visão, para não afetar a cadeia hierárquica”, lembrou.