PCH é receita pronta para dar a volta por cima
Maurício Corrêa, de Brasília —
Em um recente evento sobre Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH´s), realizado em Curitiba, no Paraná, o presidente da Tradener, Walfrido Ávila, deu a dimensão exata sobre o que esse segmento pode representar para o País, em termos de recuperação do emprego e geração de tributos.
Ao tratar do caso específico da PCH Tamboril, que a Tradener está construindo no município goiano de Cristalina, Ávila mostrou com clareza que existe uma janela de oportunidades para investimentos em PCH´s em todo o País, que não pode ser simplesmente descartada.
Conforme revelou, é fundamental, entretanto, superar vários entraves, entre os quais o enorme cipoal regulatório. Só no caso da PCH Tamboril, uma hidrelétrica de pequeno porte que, quando concluída, deverá gerar 15,8 MW, a Tradener teve que correr atrás de 56 licenças, autorizações, anuências e aprovações diversas.
É simplesmente uma loucura, considerando que a potência da usina, que está surgindo no rio São Bartolomeu, será inferior a 16 MW. Com esse grau de exigências, tem-se a impressão que o projeto é para construir uma segunda Itaipu.
Apesar de todas as dificuldades interpostas por órgãos diversos, como prefeitura, Ministério Público, órgãos ambientais federais e estaduais, a PCH Tamboril gera, no estágio atual da obra, 520 empregos diretos e 442 indiretos. No total, 128 empresas estão sendo contratadas pela Tradener para que o projeto fique de pé.
Em sua apresentação, Walfrido Ávila mostrou o efeito multiplicador que tem o conjunto de projetos de PCH´s espalhadas pelo País.
Considerando-se apenas os 88 projetos que já estão prontos para serem construídos, representando 1.240 MW, mais 531 em desenvolvimento e o potencial de outros 440 projetos, isso representaria cerca de uma outra, aí, sim, usina de Itaipu, mas na forma de PCH´s, somando aproximadamente R$ 143 bilhões em investimentos e 1 milhão de empregos totais.
Não é para se jogar fora. Esse enorme potencial seria muito bem-vindo no planejamento estratégico de qualquer País. Entretanto, o próprio poder público brasileiro parece não entender o significado de tudo isso e põe no mesmo balaio as PCH`s e térmicas a óleo combustível, quase que criminalizando as pequenas centrais hidrelétricas, embora estas não causem qualquer tipo de dano ao meio ambiente. Ou, quando há algum impacto, ele é o mínimo possível e praticamente passa sem ser percebido.
Poucos países no mundo têm absoluto domínio sobre a tecnologia de construção de PCH`s como o Brasil. Além de grandes projetistas, dominamos toda a cadeia produtiva, inclusive a fabricação de turbinas. É verdade que, em muitos campos da economia, o Brasil é conhecido por ser um País perdulário e esbanjador, mas, neste caso específico, não podemos jogar a oportunidade fora.
Como o presidente da Tradener lembrou, temos conhecimento, mão-de-obra adequada e ótimos aproveitamentos hídricos. Tudo depende apenas da vontade política de fazer. Portanto, chega de blá-blá-blá e mãos às obras, pois o Brasil precisa de bons projetos para absorver essas enormes camadas de trabalhadores que pouco conhecem da vida além da palavra crise.