Impactos da expansão do mercado livre
Maurício Corrêa, de Brasília —
Não chega a ser incoerente a posição da associação dos comercializadores, a Abraceel, contra a obrigatoriedade que o MME quer impor para que eventuais mudanças de status dos consumidores, de cativos para livres, sejam feitas apenas com a intermediação de consumidores varejistas. Afinal, a proposta de criação dos varejistas nasceu dentro da própria associação, mas ela agora não está dando um tiro no próprio pé. São as circunstâncias do mercado, que obrigam a associação a se equilibrar na sua política interna.
O fato é que a associação, desde a sua criação, equilibra-se com muita diplomacia entre grandes e pequenos comercializadores. E, quando se posiciona contra a obrigatoriedade, manifesta apenas a defesa do interesse da maior parte dos seus associados, que é integrada por pequenos comercializadores. Mas os grandes, que já são varejistas ou estão a caminho de se tornar, não se preocupam muito com esse debate interno.
No entendimento de especialistas do mercado, esse fosso deverá se ampliar no médio prazo, à medida em que o mercado se abrir e uma onda de consumidores hoje cativos aderir à energia livre. Segundo especialistas ouvidos por este site, no Brasil deverá se repetir o que aconteceu na Europa, ou seja, em torno de 60% do mercado livre ficarão em poder de meia-dúzia de grandes comercializadores de energia elétrica e as dezenas de comercializadores de menor porte disputarão ferozmente os restantes 40%. Vai ter mercado para todo mundo, mas será uma guerra.
Aliás, não são apenas comercializadores ou distribuidores (que também perderão receita) que precisarão ficar atentos à forte expansão do mercado livre que se espera no médio prazo. Há muitas expectativas por aí, dependendo do gosto do freguês.
Também é possível que dezenas de empresas em todo o País, que hoje concentram seus negócios na instalação de placas fotovoltaicas em telhados de residências, percam uma parcela significativa dos seus negócios, pois muitos consumidores residenciais talvez façam opção para serem livres e não pela geração distribuída. Isso permitiria reduzir as contas mensais de energia elétrica, sem a necessidade de efetuar investimentos na instalação de painéis solares.