O populismo, a demagogia e o SEB
Maurício Corrêa, de Brasília —
Os eleitores do estado de Rondônia fariam um tremendo bem ao País se, nas próximas eleições gerais, melhorassem um pouquinho a qualidade dos representantes que mandam para Brasília. Do jeito que está hoje, é difícil suportar o nível da inteligência de alguns deles.
Democracia é algo muito bom, mas tem esse probleminha. Quando o eleitorado não coopera, todos nós somos obrigados a conviver com congressistas de baixíssima qualidade mental. Bem, foram eleitos e é preciso democraticamente conviver com essas figuras enquanto durar o mandato.
Isso sempre existiu quando o Rio de Janeiro era capital, existe hoje em Brasília e vai existir sempre, pelo visto, pois o Brasil é um país de múltiplas realidades e, afinal, cabe ao eleitor decidir quem ele manda para representar o seu estado na Capital Federal. Por isso a hora do voto é tão importante.
Congressistas de baixo nível mental não são privilégios de estados menos importantes ou da periferia do Brasil, como Rondônia. Se olharmos para a composição da bancada do estado mais rico da Federação, que é São Paulo, será possível observar que existem uns parlamentares que Deus nos livre. É possível identificar alguns que são madeiras de dar em doido. Acontece o mesmo em qualquer outro estado. O Congresso, enfim, é o microcosmo do Brasil, este país de tantos contrastes.
Há poucos dias, apareceu na reunião semanal da diretoria da Aneel um deputado federal de Rondônia chamado Mauro Nazif Rasul, do PSB, do qual ninguém nunca tinha ouvido falar. Ele deu um showzinho, vomitando asneiras contra o corpo técnico da agência, os diretores e uma concessionária de energia elétrica que opera no seu estado, a Energisa. Este site, aliás, deu-lhe uma merecida sapecada.
Quando se imaginava que o show de horrores já havia terminado, agora surge outro ilustre desconhecido, também congressista de Rondônia, o deputado Leo Moraes, do Podemos, que diz ser possuidor de assinaturas em número suficiente para criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a investigar as atividades da Agência Nacional de Energia Elétrica, a Aneel.
Ninguém discute que o nobre congressista tenha esse direito, até porque, segundo o site “O Antagonista”, que deu a notícia, há mais 172 parlamentares que pensam como ele e concordam com uma CPI para a agência reguladora. Aparentemente, a falta de inteligência está disseminada, o que representa um perigo para todos nós.
“Entendemos ser urgente e necessária a instalação de uma comissão parlamentar de inquérito, visando apurar as possíveis irregularidades apontadas, bem como, avaliar tecnicamente se as decisões tomadas pela Aneel atendem aos requisitos técnicos e legais ou se visam somente atender a demandas da iniciativa privada em detrimento da população brasileira.”, informou o site “O Antagonista”, citando um documento do deputado Moraes, que dá o pontapé inicial nessa fantástica comissão de inquérito.
É difícil qualificar o que são esses parlamentares. Obviamente, são despreparados e não têm a menor ideia como é o trabalho de uma agência reguladora. Isso é curioso, pois, além de despreparados, eles são preguiçosos. Afinal, é público e notório que a Câmara dos Deputados é dotada de uma excelente consultoria técnica, formada por técnicos altamente qualificados e muito bem pagos. Eles se submetem a um dos concursos mais difíceis do Brasil e estão à disposição de Suas Excelências para esclarecer qualquer assunto, inclusive energia elétrica. Se o parlamentar pensa, fala ou escreve idiotices sobre o setor elétrico brasileiro, é porque quer. A consultoria está à disposição para esclarecer.
Se esses congressistas de Rondônia tivessem um pouco mais de bom senso e tirassem um tempinho para ter uma aulinha nessa consultoria, isso evitaria o constrangimento de este site ter que ficar aqui falando mal de Suas Excelências. Eles pagam um tremendo mico e fazem papel de bobos da Corte desnecessariamente.
Tudo isso que está acontecendo não passa de demagogia e populismo. Há alguns anos, um jovem político do Nordeste descobriu que atacar a concessionária de energia elétrica do seu estado poderia dar votos. Investiu nesse filão e tem sido sistematicamente reeleito. Candidatos em outros estados se apropriaram da ideia e a replicaram. Não fazem outra coisa na vida a não ser combater os contratos de concessão de distribuição de energia elétrica.
É uma espécie de fundamentalismo elétrico, que passa por vários partidos, tanto da esquerda quanto de direita. Esses políticos desconhecem como é conduzido um processo de revisão tarifária. Nem querem conhecer. O negócio deles é criar uma fantasia, manipular o eleitorado, e tocar para a frente, até a próxima eleição, na esperança que esse combate se traduza em votos que possam garantir uma reeleição. É assim que funciona o mundo político, sem qualquer tipo de preocupação com a realidade. O que interessa é o resultado futuro.
Suas Excelências vivem em um mundo à parte, onde se acham os tais. São ótimos ilusionistas por sinal. Mas, quando se desce do palco para o Brasil real, o que se vê é que alguns, lamentavelmente, manipulam a opinião pública dos seus estados e querem que todo o país acredite nos seus argumentos absolutamente fantasiosos, inconsistentes e destituídos de seriedade.
É lamentável que estejamos aqui perdendo tempo com essas coisas e com esses congressistas absolutamente inexpressivos do Baixo Clero.