É preciso ter o que dizer numa coletiva
Maurício Corrêa, de Brasília —
Bem que o atual governo poderia voltar a conversar com o ex-ministro Pedro Parente, que presidiu a Câmara de Gestão da Crise de Energia Elétrica, em 2001, visando o aperfeiçoamento na sua forma de se comunicar com a sociedade a respeito de uma situação tão grave quanto a atual crise hídrica, que poderá inclusive desaguar em um racionamento.
Na entrevista coletiva desta quarta-feira, 25 de agosto, observou-se que o MME se esforçou para fazer um bom trabalho, mas o resultado final ficou aquém do que era necessário.
Para início de conversa, o MME poderia começar a entrevista coletiva no horário previamente marcado. Todos os interessados se mobilizaram para um evento que deveria se iniciar às 16 horas. Começou com 45 minutos de atraso, o que não é muito comum em um ministério chefiado por um almirante de quatro estrelas. Sabe-se do apreço que os militares têm pelos horários. No primeiro dia em qualquer quartel, os recrutas aprendem que “a hora não é antes e nem depois da hora. A hora é na hora”. Não foi o que aconteceu ontem.
Cerca de 1.500 pessoas se conectaram à internet para ver a entrevista coletiva, o que demonstra o grau de interesse da sociedade pelo assunto. No entanto, quem participou de casa não conseguiu ver nadinha das transparências apresentadas pelo diretor-geral do ONS, Luiz Carlos Chiocchi. Zero de visibilidade numa sala, aliás, de péssima iluminação.
Os jornalistas questionaram, aliás, a realização da própria entrevista coletiva, que ficou com cheiro de factóide. Sobre o principal assunto, que abriu todas as matérias em seguida, não houve praticamente informação, a não ser que deverá ser implementado a partir de setembro. Foi dito que o assunto ainda está sendo analisado pela Aneel e MME.
Não basta convidar a imprensa para uma entrevista coletiva e tentar mostrar que existe transparência. É preciso ter o que dizer. O ministro enfatizou que não haverá racionamento, mas ele já disse isso inúmeras vezes. Que a situação hídrica é crítica também não valia, pois uma nota do próprio CMSE, na terça-feira, já apontava nessa direção. Sobre a economia de energia no setor público os sites já haviam escrito antes de começar a coletiva. Tudo notícia velha.
Ficou, portanto, uma dúvida em relação ao objetivo do MME. Esse objetivo ficou difícil de entender, o que se realçou na ausência da secretária-executiva do MME, Marisete Pereira, uma servidora que centraliza todas as decisões do MME a respeito do assunto. E dois participantes da coletiva (Thiago Barral, presidente da EPE, e o presidente do Conselho de Administração da CCEE, Rui Altieri) entraram mudos e saíram calados. Ninguém ficou sabendo porque estavam naquela mesa.