Meu apoio ao Zé Rosquinha no MME
Maurício Corrêa, de Brasília —
O meu amigo Zé Rosquinha, que é um ilustre desconhecido, ganha R$ 1,8 mil brutos por mês e tem dois filhos para criar lá na meia-água em que mora de aluguel na cidade-satélite do Paranoá, é um diletante.
Típico representante do povo brasileiro mais simples, que trabalha muito e ganha pouco e que vai e volta de ônibus entre a casa e o trabalho, é dotado de uma característica interessante. Não tem o segundo grau completo, mas lê e gosta de conversar sobre o setor elétrico brasileiro, a respeito do qual conhece muito mais do que alguns farsantes que existem na praça. É um tipo especial.
Nesta semana, Zé Rosquinha veio com uma conversa estranha. “Eu poderia ser ministro de Minas e Energia”. E listou de memória algumas nulidades que na sua opinião já passaram pela Pasta, só no período pós-redemocratização: Vicente Fialho, Alexis Stepanenko, Rodolpho Tourinho, José Jorge, Dilma Rousseff, Edison Lobão, Fernando Coelho Filho e Moreira Franco. “Se eles foram ministros, também posso ser”, filosofou. “Entendo tanto quanto eles”.
Também citou alguns nomes que considerou muito relevantes, como Aureliano Chaves e Raimundo Brito. Sobre o ex-ministro Bento Albuquerque ele não quis fazer comentário. “Já fui fuzileiro naval; o ex-ministro é um almirante. Não quero entrar em alguma fria do regulamento disciplinar da Marinha”, ponderou. E a respeito do atual ministro, Adolfo Sachsida, Zé Rosquinha alegou que “ele ainda não teve tempo para mostrar serviço. Está há poucos dias na função. Por enquanto, não sabe nada sobre o setor elétrico. Mas pode aprender rápido. Depende dele”.
Meu amigo é sempre sensato, mas confessa que está muito preocupado. Mesmo não sendo um consultor com pós-graduação na Inglaterra e pós-doutorado nos Estados Unidos, é um representante do chamado “povão” que tem o que dizer. Do que conhece, acredita que algumas pessoas do setor elétrico piraram.
“Fiquei sabendo que uma senhora que deixou o MME praticamente foi canonizada por algumas associações empresariais do setor elétrico. Pelo que sei, essa senhora é bastante trabalhadora, mas entende de organizar papéis, coordenar reuniões, cobrar relatórios. Nunca entendeu nada de setor elétrico. E ocupou uma posição estratégica durante bom tempo. Se passar um megawatt na frente dela, com certeza não sabe do que se trata”, alegou Zé Rosquinha. “Pelo visto, ao ser demitida virou gênio para alguns. Os que pensam assim são candidatos fortes ao manicômio. O pior é que tem gente ilustre que está com um pé no hospício”.
E me perguntou na lata o que eu achei da saída dela. Respondi de forma coerente com o que escrevi. O ministro Sachsida quis alguém da sua confiança no cargo, que é estratégico, e merece ter sob seu comando muito mais do que uma pessoa que gosta de organizar a papelada.
Zé Rosquinha concordou comigo e me senti honrado em compartilhar a opinião dele com a minha. Ambos entendemos que o MME, pela sua importância, merece em todos os cargos pessoas que saibam o que estão fazendo e que não desapareçam em determinadas horas, pois não sabem o que dizer.
O Zé e eu pensamos igual. O ministro Sachsida não precisa ser um engenheiro formado em Itajubá para ser um bom ministro. Basta saber formar uma equipe competente, ter bom senso, equilíbrio emocional para administrar as tensões, boas ideias e firmeza para aguentar a pressão dos lobbies empresariais. Se precisar de um candidato a secretário-executivo que provavelmente vai dar conta do recado, sugiro o Zé Rosquinha.