Sachsida tem medo de divulgar a agenda
Maurício Corrêa, de Brasília —
Jornalistas que têm a tarefa de cobrir diariamente as personalidades que habitam os prédios na Esplanada dos Ministerios, usufruem de algumas situações que não são oferecidas ao cidadão comum pagador de impostos e que sustenta toda a máquina burocrática do Governo. Acontece de tudo nesse pequeno retângulo do mundo, inclusive as coisas mais estranhas possíveis.
Em determinado ministério, já na redemocratização, houve a senhora de um ministro que exigiu um gabinete para ela ao lado do gabinete do marido. Parece brincadeira, mas essa senhora é que mandava na Pasta. Ela é que dava a palavra final em quem o maridão podia ou não receber. O pobre coitado era apenas um pau mandado não das forças políticas, mas da megera, o que gerava constrangimento diários no gabinete. No final não se sabia se era trágico ou engraçado.
Outro ministro não chegou a disponibilizar uma sala para a sua madame, mas foi mais objetivo e sofisticado. Contratou a amante de longos anos, desde antes da vinda para Brasília, para a coordenação de uma assessoria importante e ela é que mandava numa Pasta delicadíssima até hoje. Não entendia absolutamente nada do assunto e obviamente terminou num desastre político-partidário.
São tantos os casos das esquisitices ministeriais, que não dá para citar aqui. Isso dá um livro de 200 páginas. Este editor mencionou o tema porque o ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, acaba de incorporar uma esquisitice que o equipara a outros da mesma categoria na Esplanada dos Ministérios. Trata-se apenas de um pecadilho, fácil de ser resolvido.
É tudo muito curioso, pois o ministro é jovem, disposto, tem bom astral e também é possuidor de boas ideias. Um exemplo é o seu firme apoio às privatizações na sua Pasta e à expansão do mercado livre de energia elétrica.
Ao mesmo tempo, estranhamente Sachsida acaba de criar a anti-agenda ou a pós-agenda. O que vem a ser essa bobagem? O ministro agora só disponibiliza a sua agenda de trabalho do dia no final do expediente daquele dia, depois que todos os compromissos se encerraram e não tem mais viva alma no MME Tá na cara que Sachsida vai ganhar um prêmio de inovação, pois trata-se de uma idiotice total.
Este site até compreende que não só Sachsida, mas qualquer ministro, às vezes tem alguma dificuldade para receber jornalistas em entrevistas exclusivas, pois a prioridade obviamente é atender aos compromissos oficiais de cada Pasta. Se não pode receber jornalistas, isso não é o ideal, mas não é o fim do mundo. Os jornalistas se viram, como sempre fazem.
O que é extremamente antipático da parte de Sachsida, que curiosamente é uma pessoa simpática, é liberar a agenda dos seus compromissos só à noite. No último dia 26, por exemplo, a agenda foi liberada às 19h21m, quando o prédio já estava trancado. Não foi a primeira vez.
Adolfo Sachsida é relativamente jovem. Tem apenas 50 anos. Nasceu em 1972, quando a ditadura do general Médici comia solta e prendia e arrebentava. Ele, portanto, não viveu aquele período tenebroso, o que, aliás, ele acha que não foi. Mas isso não vem ao caso. Não é o que está se discutindo aqui.
Como este editor já é bastante idoso e tem idade para ser pai do ministro, é importante esclarecer que até mesmo no regime militar as agendas eram distribuídas na véspera do dia e não ao final do expediente, como Sachsida está inovando.
Este site faz um apelo ao ministro Sachsida, que não é um brucutu da época da ditadura militar e ao contrário é uma pessoa afável, para rever a sua posição em relação à divulgação da agenda. Não vai atrapalhar o digno trabalho ministerial. Será apenas um ato de educação e apreço ao trabalho da imprensa permitir que a agenda seja divulgada na véspera, como, aliás, era feito.