O mundo das associações do SEB
Maurício Corrêa, de Brasília —
Um leitor entrou em contato com o site para fazer vários comentários a respeito do setor elétrico brasileiro. A conversa se estendeu para uma visão crítica em relação ao “Paranoá Energia”, no sentido de que ele, leitor, nunca tinha tido a oportunidade de ler alguma avaliação do site sobre as associações empresariais que compõem o SEB.
É um leitor elegante. Quando ele usou a palavra avaliação, na realidade queria dizer crítica. Em qualquer caso, não é culpa dele, mas o fato é que, não foram muitas, mas o “Paranoá Energia” algumas vezes já fez observações sobre essas associações.
Duas coisas que precisam ficar muito claras. Primeiro, este editor já fez parte de uma associação do SEB, durante vários anos. Isso é público e embora tenha restrições de natureza pessoal a essa associação e a algumas pessoas que são influentes nela, também considera que isso não é uma notícia. Trata-se de assunto pessoal. Além disso, não vai cuspir no prato onde já comeu.
A segunda questão a comentar é que o editor também não faz comentários sobre as associações empresariais do SEB, apontando os nomes das organizações ou pessoas que nelas trabalham. Entretanto, em termos genéricos, não foge do desafio de ter que emitir alguma opinião sobre o assunto.
Nessas associações há de tudo, aspectos positivos e negativos, como em qualquer organização, até na Santa Madre Igreja, em qualquer empresa do setor elétrico ou não, inclusive de Comunicação.
Um fato que chama a atenção deste editor é a proliferação de associações empresariais do setor elétrico. A última vez que viu um número eram 25, mas parece que já chegam a quase 30. Isso é inacreditável, pois não existe qualquer razão lógica para esse mundo de associações no SEB.
Os conselhos de Administração e as diretorias executivas são o reflexo do setor elétrico. Nesse meio, tem gente competente e cheia de iniciativas, mas também existem aqueles que são provincianos, carreiristas, oportunistas, picaretas, arrogantes, deslumbrados ou que apenas se “acham” os mais inteligentes do Planeta Terra. A propósito, no Jornalismo também existe gente assim.
Existe uma fauna estranha no SEB, que são os pavões que gostam de mostrar intimidade com as autoridades, coisa que na verdade não têm. É um mundo interessante e um prato cheio para quem se interessa em conhecer o ser humano na sua plenitude, numa situação de Poder, mesmo que de apenas uma pequena fatia de Poder.
As associações existem para um único fim, que é o lobby. Defender em vários níveis os interesses técnicos e políticos das empresas associadas. Neste aspecto, em algumas associações existem executivos de primeiríssima linha, que sabem atuar da forma mais discreta possível nos bastidores de uma área complexa e cheia de grandes interesses econômicos privados como o SEB.
Alguns são muito bons. Um desses executivos é tão bom, mas tão competente, que desliza discretamente por onde passa, sem ser reconhecido por quase ninguém. Discute os aspectos técnicos do seu trabalho, apresenta os seus argumentos, ouve os contrários e nunca dá uma entrevista. Não participa de eventos. Aliás, jornalistas nem o conhecem.
Faz o seu trabalho da forma mais anônima possível e sobre ele já foi feito um comentário na medida: lembra o Jerry, nos desenhos inesquecíveis de Joseph Barbera e William Hanna, em que o ratinho foge do enfurecido gato Tom sob um tapete e dele só se vê um montinho em deslocamento.
Outros até já desistiram de suas associações, mas continuam trabalhando com objetividade na defesa dos interesses dos seus setores. Mas o fazem de forma discreta, com elegância. Um desses executivos da velha guarda é muito mais produtivo do que a sua antiga associação. Com humildade, produz muito mais para a categoria, digamos assim, que aqueles que se vangloriam das coisas mais desimportantes que existem por aí.
No universo das associações existem umas poucas organizações que são eficientes e produtivas, como precisam ser e que para isso foram criadas. Entretanto, várias delas funcionam como se fossem estrelas localizadas a muitos anos-luz da Terra, nas fronteiras da Via Láctea. Já morreram há muito tempo, mas delas ainda recebemos uma pálida luz.
Porque continuam sendo financiadas pelas empresas, é uma questão a se descobrir. Ficam por aí, assinando manifestos, entregando placas a congressistas, participando de reuniões. Porém, quando se espreme não sai nada. Não têm uma importância efetiva. É verdade que todo esse custo inútil vai para o balanço das empresas e talvez seja reconhecido pela Aneel. Ou seja, quem paga toda essa inutilidade talvez seja o pobre do consumidor.
Essas associações que já morreram e não sabem estariam fritas se fossem subordinadas a Wilson Ferreira Junior, que há poucos dias deixou a presidência executiva da Eletrobras. Há muitos anos, quando era o todo poderoso presidente do Grupo CPFL, Wilson cunhou uma frase simples, mas que ficou para sempre na lembrança do mundo empresarial: “Um bom gestor é aquele que não tem constrangimentos em passar a faca em custos inúteis”.