A política sempre passa pelo MME
Maurício Corrêa, de Brasília —
Com exatos oito meses à frente do Ministério de Minas e Energia, o ex-senador Alexandre Silveira já superou o tempo de gestão do seu antecessor, o professor Adolfo Sachsida, que deixou a Pasta após sete meses e 20 dias.
Ambos coincidiram em relação ao passado, antes de assumirem o MME. Não tinham qualquer experiência anterior em relação aos assuntos da Pasta. Política é assim mesmo, às vezes mais baseada na confiança do que no conhecimento técnico.
Eles também sofreram na Pasta algumas incompreensões. Sachsida, pelo fato de Jair Bolsonaro nunca ter entendido bem o que era feito no MME, embora desse carta branca para o seu ministro. E Silveira porque nos seus 100 primeiros dias teve que enfrentar os cardeais da cúpula do PT, que desejavam apenas ejetá-lo da cadeira de ministro.
Enfim, ambos souberam vencer as respectivas dificuldades. Sachsida foi muito bem como ministro, elegendo a defesa dos interesses dos consumidores como a sua principal bandeira. O foco principal de Silveira, que também está bem na foto, tem sido uma questão que é preciosa para o Lula 3, que é a transição energética. Os dois temas são muito bons para mostrar serviço e consequentemente gerar espaços positivos na mídia.
Sachsida passou como um tufão em menos de oito meses no MME. E conseguiu encontrar soluções rápidas e objetivas envolvendo a defesa dos consumidores de energia elétrica ou de combustíveis para as quais seus antecessores faziam corpo mole, não tiveram coragem política para aplicar ou então tratavam com desdém.
O fato mais irônico da curta, mas produtiva gestão de Sachsida, é que seu chefe, o presidente Jair Bolsonaro, não soube capitalizar em termos eleitorais o que havia sido decidido no âmbito do MME. Bem, partindo de Bolsonaro tudo era possível, até mesmo ignorar decisões de forte impacto em favor dos consumidores/eleitores tomadas no seu próprio Governo.
Silveira tem mais sorte que Sachsida. Enquanto Bolsonaro é visto como uma espécie de aprendiz de feiticeiro, o presidente Lula é o próprio feiticeiro em pessoa. Este editor tem várias restrições ao atual presidente, mas não pode deixar de reconhecer que, em relação à prática política, Lula é campeão. Sabe tudo e dá um banho em todo mundo. Raramente erra em relação às atitudes políticas.
É o tipo do político que, quando você chega com o milho, o angu dele já está preparado há muito tempo.
Uma das marcas do atual Governo é a transição energética. Coerentemente, Silveira e Lula têm o mesmo discurso, seja em Curitiba, em Manaus, em Goa (na Índia), em Joanesburgo (na África do Sul) ou em Cucuí de las Palomas, numa região remota do Amazonas, falando para meia-dúzia de brasileiros de origem indígena que nunca viram de perto um presidente da República ou um ministro.
Outra questão que envolve Silveira e Lula é a privatização. Também são coerentes. Como é ministro do Governo Lula 3 e pretende continuar a ser, Silveira defende veemente e disciplinadamente o discurso de crítica à forma como a Eletrobras foi vendida à iniciativa privada. Naquela cadeira, é preciso dançar conforme a música. Se não quiser cantar no coro do presidente Lula, é melhor Silveira pegar o chapéu e se mandar. Mas não é isso que ele quer.
Ministro e presidente jogam em dupla e não escondem que gostariam de ver a Eletrobras novamente sob o guarda-chuva do Governo. Foi na gestão do Governo Bolsonaro que a Eletrobras foi privatizada, vale lembrar. Difícil argumentar, hoje, que o processo foi irregular, considerando que a matéria passou pelo Congresso Nacional e pelo Tribunal de Contas da União. Sachsida teve muita coisa a ver com a proposta de privatização da Eletrobras.
Silveira leva alguma vantagem em relação ao mundo político. Afinal, é do PDS, partido que nacionalmente é liderado por Gilberto Kassab, um dos políticos mais habilidosos no Brasil de hoje. Como se diz no interior, Kassab dá nó em pingo d´água.
Quem acha que a eleição de 2024 está distante, engana-se. O calendário eleitoral não corre exatamente como o calendário normal das pessoas. É muito mais acelerado. E falta pouco mais de um ano para a eleição municipal, na qual os partidos pretendem ganhar musculatura para a eleição que verdadeiramente importa, que será a de 2026.
Ninguém pode garantir que Silveira e Sachsida vão participar na condição de candidatos. Com certeza, vão entrar de cabeça na eleição, pelo menos nas áreas de coordenação das campanhas.
Tendo passado pelo Senado Federal, Casa na qual era suplente e assumiu a cadeira de senador por alguns meses, Silveira revela mais apetite político. Mais habituado à política de bastidores, Sachsida deverá trabalhar para tentar reconstruir a base eleitoral de Jair Bolsonaro, hoje bastante desmontada.
O curioso é que a política sempre rondou o MME, desde a sua constituição. Políticos, generais, tecnocratas e professores passaram pela Pasta, mas sempre houve aquela vontade de usar politicamente os temas que passam pelo Bloco U da Esplanada dos Ministérios.
Alguns ministros arriscaram um pouco mais e não resistiram ao populismo. Dilma Rousseff que o diga com a sua famosa MP 579, de 2012, que simplesmente quebrou a área de energia para se ganhar a próxima eleição.
Adolfo Sachsida hoje é acusado pelos petistas de ter feito algo semelhante, só que o seu candidato perdeu. Hoje, pilotando o ministério de um governo vencedor, o ministro Alexandre Silveira oscila. Mas, em geral, está numa direção que contribui para a estabilidade do Lula 3.
Desde que não ocorram outros apagões, Silveira segue na direção certa.