O MME quer ser o ONS
Maurício Corrêa, de Brasília —
Está realmente complicada a convivência entre o Ministério de Minas e Energia e o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
Depois do baixo astral provocado pelas indicações do ministro Alexandre Silveira para integrar o Conselho de Administração do Operador, na semana passada, agora, em plena tragédia resultante das intensas chuvas no Rio Grande do Sul, o MME toma atitudes que podem ser lidas como uma espécie de tentativa de passar por cima das atribuições do ONS. O MME criou uma Sala de Situação para gerenciar a questão, numa clara tentativa de dar uma resposta política, o que talvez não seja necessário pois todo mundo está compreendendo a gravidade do desastre natural.
Há dias, o ONS já vem acompanhando com atenção a chuvarada no Sul e, hoje, o MME colocou uma nota na internet informando que “após as chuvas de grandes proporções que atingiram o Rio Grande do Sul (RS), o Ministério de Minas e Energia (MME) está tomando as providências necessárias para que o suprimento energético seja restabelecido e a segurança das pessoas, garantida. De maneira imediata, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, determinou criação da sala de situação para que seja realizado o monitoramento e tomadas as devidas providências”.
É interessante que o Governo também se envolva no assunto, que é de grande importância e merece a atenção de todos. Tanto que o presidente Lula abriu uma janela na sua agenda e deu um pulo até lá para verificar de perto a extensão do desastre. A coisa tá feia mesmo e qualquer contribuição, sem dúvida, é bem recebida.
Entretanto, no setor elétrico todo mundo sabe que o MME não tem estrutura para esse tipo de coisa. E, por força da sua própria atribuição, quem cuida do monitoramento e o faz com responsabilidade é o ONS. Também é curioso observar na nota do MME o caráter de preocupação com a cobrança de ações diretas e efetivas para a retomada do fornecimento de energia elétrica.
Isso é válido, mas não é a principal prioridade neste momento. No contexto atual da tragédia que atinge o Rio Grande do Sul, a principal preocupação é deslocar populações que estejam em áreas de perigo. É salvar vidas. Em seguida, sim, as equipes das distribuidoras locais (CPFL Energia e CEEE Equatorial) tratarão de recuperar as suas respectivas redes para atendimento aos consumidores.
Diz ainda a nota do MME:
“Dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) apontam que as chuvas ultrapassaram a marca de 400 mm e houve ainda rajadas de ventos de até 152 km por hora nas últimas 72 horas em municípios do estado.
De acordo com a CPFL Energia, até as 14 horas, 268 mil unidades consumidoras – residências, comércios e indústrias – da sua área de atuação estavam com os serviços de fornecimento de energia interrompidos. Já segundo informações da CEEE Equatorial, não há desligamentos de grandes proporções, mas foram registrados problemas de suprimento em 33 mil unidades consumidoras.
No âmbito do sistema de distribuição, as equipes de manutenção da CPFL e da Equatorial Energia estão em campo para realizar os reparos necessários para o reestabelecimento.
Além disso, vale destacar que o Operador Nacional do Sistema (ONS), vinculado ao MME, realiza um trabalho importante de controle de cheias, dentro dos reservatórios de usinas hidrelétricas de todo o Brasil. Estão sendo realizados acompanhamentos diferenciados para a operação das usinas Dona Francisca, Passo Real, dos Bugres e 14 de julho, que teve rompimento de parte da estrutura.
O Ministério de Minas e Energia continuará acompanhando permanentemente a situação do atendimento energético na região afetada pelas fortes chuvas e prestará informações à população”.
Este site não faz oposição a ninguém, muito menos ao ministro de Minas e Energia, mas é inegável que Sua Excelência está precisando de um bom banho de descarrego, para recuperar o foco das coisas da sua Pasta. Além da proteção dos Orixás (Oxalá, Ogum, Oxóssi, Xangô, Oxum, Iemanjá, Iansã), o ministro precisa aprender a evitar a duplicidade de funções com organismos vinculados a sua própria Pasta e também precisa escolher melhor os nomes que vão integrar os corpos dirigentes das áreas institucionais do MME.
Fazendo isso, já estará muito bom.