A Enel faz o quer em São Paulo. E a Aneel não faz nada
Maurício Corrêa, de Brasília —
O texto que ilustra a manchete do site Paranoá Energia, neste meio da tarde de 03 de setembro, terça-feira, é trágico sob qualquer ângulo que seja examinado. Trata-se de matéria produzida pela Agência Estado e reproduzida no site sob contrato de utilização do conteúdo.
Em primeiro lugar, é triste e trágico porque, como mostram comerciantes da rua 25 de Março ouvidos pela AE, o problema não se resolve. A concessionária Enel não consegue atender convenientemente os lojistas de uma das mais tradicionais áreas comerciais da capital paulista. É prejuízo em cima de prejuízo.
Também é triste e trágico porque a empresa Enel fica se enganando a si mesma. É uma péssima concessionária. Deveria largar o osso, transferir a concessão para alguém e cair fora de São Paulo o mais rapidamente possível. Não percebeu que os consumidores de São Paulo já estão fartos da Enel e que gostariam de preferência de recomeçar tudo de novo com uma empresa que possa oferecer um serviço com mais confiabilidade. É sempre bom ter alguma esperança.
Finalmente, é triste e trágico pelo papel das autoridades em relação ao assunto. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, chegou a pedir a Aneel que examinasse a situação da concessão, inclusive ameaçando até com a caducidade da autorização federal para explorar a distribuição de energia elétrica na maior cidade do País.
Depois, Silveira deu uma de morto, como se tivesse ficasse arrependido de ter enviado a carta, e meio constrangido, acompanhou o presidente Lula, numa misteriosa reunião com a diretoria da Enel, na Itália, onde os italianos imploraram para não perder a concessão. Sabe-se lá o que foi tratado nessa reunião mais do que esquisita.
Finalmente, o papel da Aneel é mais triste e trágico ainda. Além de ser atropelada por Lula e o ministro de Minas e Energia, recebeu a carta de Silveira, em abril, e simplesmente a engavetou. A agência reguladora tem elementos mais do que suficientes para mandar a concessão da Enel em São Paulo para o espaço, mas sentou em cima.
Na visão deste site, a agência está pecando por excesso de zelo. Se fosse uma distribuidora pequena do interior de Santa Catarina ou um pequeno gerador hidráulico do interior de Minas é provável que a Aneel já tinha mostrado as suas garras, falado grosso e punido essas pequenas empresas. Mas a Aneel claramente teme tomar uma decisão que envolve a poderosa Enel.
Enquanto isso, com paliativos, os italianos vão enganando os consumidores de São Paulo e os comerciantes da 25 de Março vão contabilizando os seus prejuízos. Que, aliás, nunca serão cobertos por ninguém.