Nomeação de Silveira foi um erro. Mantê-lo no cargo é apenas insistir no erro
Maurício Corrêa, de Brasília —
Este editor conversa diariamente com muita gente da área empresarial. Há interlocutores de todos os tipos. Existem aqueles que já estão no mercado há muito tempo, há aqueles que se lançaram como empreendedores há menos tempo e há executivos de grandes e médias empresas, nacionais e internacionais, sem falar nos consultores.
Faz parte do dia a dia desses profissionais conversar com jornalistas e tentar entender em que direção vai a área de energia. Lógico: são bilhões de reais envolvidos nos negócios e ninguém quer perder dinheiro. Por outro lado, os jornalistas também tentam fugir da verdade oficial do Governo e querem compreender como as coisas estão efetivamente acontecendo no mundo real da energia. É assim que o mundo gira.
E nesse contexto de troca de informações, algo que emerge como muito nítida é a percepção da área empresarial em relação ao fato que o presidente Lula errou na escolha do seu ministro de Minas e Energia e que continua errando ao perder a oportunidade de trocar o cidadão por alguém que tenha uma visão mais técnica da área e não perca tempo com as filigranas da vida política.
É impressionante como tudo isso é muito claro para este editor. O Governo tem a estranha característica de não conseguir enxergar o que acontece no seu próprio quintal. Na área de Minas e Energia, por exemplo, foram cometidos erros grosseiros de Planejamento, que motivaram as perdas gigantescas de geradores eólicos e solares.
Segundo um estudo efetuado pela consultoria Volt Robotics o prejuízo acumulado dos geradores que operam nesse segmento de renováveis alcançou a soma de R$ 1,6 bilhão no ano passado, face às restrições operativas determinadas pelo ONS. De alguma forma ou de outra, 1.445 usinas foram afetadas por essas restrições.
É verdade que o atual ministro não tem toda a responsabilidade por essa bagunça, de se autorizar projetos de usinas sem que existam linhas para escoar a geração. Apesar dos problemas, o ministro continua indo ao interior do seu estado, Minas Gerais, para visitar plantas solares, como aconteceu no dia 10 de fevereiro.
Quem vê, acha que as renováveis estão nadando de braçada no Brasil. Não é exatamente assim e quem conhece sabe que a área de eólicas está se desmanchando, com a indústria de aerogeradores sofrendo muito devido à falta de encomendas.
Essas coisas para o ministro não existem. No último dia 25, ele foi a um evento privado, em São Paulo, e falou sobre as belezas do planejamento energético no Brasil e como o Governo tem garantido investimentos para projetos da tal transição energética.
Isso tudo é muito curioso e talvez não seja uma contradição apenas do ministro, mas do Governo em geral. Afinal, ao mesmo tempo em que fala da transição para o verde e faz disso a principal pauta do MME, o Governo diz que vai pesquisar petróleo na Foz do Amazonas. Ou seja, o Governo não sabe exatamente o que quer. Quer ser verde ou quer incentivar combustíveis fósseis? É uma dúvida que mostra a total falta de coerência no planejamento energético do Brasil, se é que ele existe.
A questão é essa: o presidente Lula e os que o cercam têm uma certa dificuldade para entender a dimensão efetiva do Ministério de Minas e Energia. No início do atual Governo, a Pasta foi entregue a um político que pouco conhecia a área e agora, na reforma ministerial, o presidente com certeza perde a oportunidade de conferir ao MME a dimensão que ele merece, nomeando alguém mais capacitado tecnicamente para a função.
É muito duro para quem está no negócio da energia, ver um ministro do MME indicar um especialista em História para o cargo de diretor do ONS e um parente de ministro de tribunal superior, sem qualquer experiência, para a função de conselheiro da CCEE. Além de colocar na Secretaria-Executiva do MME um especialista em Direito Público.
A casa só não cai porque há água nos reservatórios e São Pedro tem sido generoso com o Brasil.