A Enel, a elegância italiana e os jacus
Maurício Corrêa, de Brasília —
Dois comentários rápidos sobre a questão da energia elétrica na área metropolitana de São Paulo.
O primeiro diz respeito ao governador do estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e ao prefeito da cidade de São Paulo, Ricardo Nunes.
No segundo semestre do ano passado, com a corrida eleitoral pegando fogo, ambos adoravam comentar a situação da concessionária Enel e praticamente a cada dia criticavam a empresa e as autoridades federais pelo que consideravam negligência. Estavam atrás de votos para o prefeito, o que é legítimo.
Agora, passado o período eleitoral, com a atuação da Enel pouco alterada, ambos não dizem absolutamente nada. Omissão absoluta como responsáveis pelo estado e pelo município. É verdade que energia elétrica é um problema federal, mas as pessoas que estão sem luz vivem na área metropolitana.
E aí, governador? E aí, prefeito: Perderam as vozes? Não interessa mais ficar falando sobre a falta de luz na Grande São Paulo, considerando que eleição, agora, só vai acontecer no próximo ano? Que tal olhar de novo um pouquinho para os consumidores de energia elétrica da Grande São Paulo?
O segundo comentário se relaciona com a extrema gentileza e atenção como as autoridades federais (Lula, ministro Silveira, diretor Sandoval da Aneel, área de fiscalização da agência) tratam a Enel de São Paulo.
Como editor, este jornalista acompanha esse tipo de confusão há 30 anos. Pode garantir que nunca, em tempo algum, na nossa História recente, como gosta de dizer o presidente Lula, uma distribuidora foi tratada com tanta paciência como a Enel de São Paulo.
Essa Enel, pensando bem, deve ter algum borogodó especial. Porque ela já deveria estar no sal há muito tempo e o Governo já deveria ter indicado um interventor. Mas, não. Ao contrário, a empresa está por aí, contente e feliz, fazendo o que lhe dá na telha. Zero de pressão das autoridades federais. Melhor do que isso, impossível.
Deve ser o charme dos italianos. Ternos bem cortados pelos melhores alfaiates de Milano, sapatos maravilhosos, gravatas lindérrimas e por aí vai. Esses italianos costumam ser muito elegantes e todo esse charme deve ter afetado os neurônios das autoridades brasileiras, que se omitem e não fazem nada contra a Enel. Só pode ser.
Imaginem: as autoridades federais da área de energia elétrica vão conversar com os executivos da Enel, e eles estão calçando os elegantérrimos sapatos Louie Oxford Blue, Scavi, Brogan ou Stefanello. Ou então estão usando extraordinárias gravatas, que mais parecem obras de arte, criadas pelos estúdios Ermenegildo Zegna, Salvatore Ferragamo, Gucci, Prada ou Cucinelli.
O pobre coitado do fiscal da Aneel chega lá na Enel disposto a sapecar uma multa e quando vê todo esse luxo desiste no ato. Sente-se humilhado, menosprezado, e provavelmente pensa: “O que estou fazendo aqui”?
E vai curtir a sua dor junto com seus colegas da fiscalização da Aneel e o diretor-geral Sandoval Feitosa, que provavelmente compra as suas gravatas na feira do Guará, na periferia de Brasília.
O ministro, não. O ministro tem viajado ao exterior e provavelmente compra as suas vistosas gravatas nos duty free dos aeroportos por onde passa. Alexandre Silveira é um caipira do interior de Minas e não sabe o que é uma gravata feita pelos estúdios Salvatore Ferragamo ou Ermenegildo Zegna. É um ministro, sem dúvida, e tem todo o respeito deste editor, mas, no jargão do interior de Minas ele é o que se chama de jacu.
Enfim, o tratamento à Enel tem segredos que apenas o presidente Lula, o ministro Silveira, o diretor Sandoval e os fiscais da Aneel podem explicar. Este editor prefere parar por aqui, pois pensar às vezes torna-se algo meio perigoso.